Capítulo 5

CINCO ANOS DEPOIS

Magnus Ashford estava sozinho em seu quarto espaçoso, com o olhar fixo em um único vestido pendurado no armário. Era a única lembrança tangível de Vivienne Marlowe da qual ele não conseguia se desfazer. Ele havia destruído todos os outros pertences dela em um acesso de raiva e desespero, mas algo o impediu quando se tratou desse vestido. Toda vez que o via, uma nova onda de miséria, arrependimento e autoaversão o dominava.

Ele já teve tudo o que um homem poderia desejar: imensa riqueza, carros de luxo, várias propriedades, mas nada disso podia preencher o vazio deixado pela ausência de Vivienne. As lembranças dela o assombravam, especialmente aquela noite horrível no quinto aniversário de casamento, quando ele perdeu toda a humanidade e a machucou da maneira mais imperdoável.

Vivienne tinha sido um anjo, pura e inabalável, suportando sua crueldade com uma graça silenciosa que agora o despedaçava. "Sinto sua falta todos os dias, Vivienne," Magnus sussurrou, segurando o vestido e inalando o leve perfume de lavanda que ainda persistia.

Ele não conseguia entender como havia mudado tão drasticamente, de um marido amoroso e dedicado para um monstro. Era fácil culpar os outros, especialmente Elena Drake, mas ele sabia que a culpa final era dele. Ele poderia ter resistido aos avanços dela, poderia ter escolhido de forma diferente, mas não o fez.

Sua mente voltou ao dia em que ele reacendeu uma conexão com Elena. Em vez de afastá-la, em vez de proteger sua esposa, ele permitiu que o caso extraconjugal crescesse, arrastando Vivienne por um pesadelo vivo.

Magnus a procurou incansavelmente desde o dia em que ela foi embora, mas era como se Vivienne tivesse desaparecido no ar. Sua última pista promissora veio há um ano, quando seu assistente, Ethan, relatou um avistamento na Itália. Ele correu para lá, apenas para descobrir que era um engano cruel.

"Magnus!" Uma voz estridente interrompeu seus pensamentos.

Ele suspirou, colocou o vestido de volta no armário com cuidado e ajustou a gravata. Não tinha intenção de lidar com Elena hoje, nem nunca. A equipe de segurança cuidaria dela.

"Magnus, seu bastardo!" O grito de Elena ecoou pela mansão.

Ele a ignorou, concentrando-se em seu reflexo no espelho.

"Senhorita Drake, por favor, vá embora," veio a voz calma e profissional de seu mordomo, Charles.

Os protestos altos dela continuaram, e Magnus cerrou os punhos. Como a segurança falhou em mantê-la fora mais uma vez? Pegando o telefone, ele discou para o chefe de segurança.

"Não estou te pagando o suficiente?" ele rosnou.

"Senhor, você é mais que generoso," o homem gaguejou.

"Então por que a Elena está na minha casa?"

"Vou resolver isso imediatamente, senhor," assegurou o chefe de segurança.

Momentos depois, Magnus ouviu a comoção diminuir enquanto Elena era escoltada para fora. O silêncio que se seguiu parecia um bálsamo, mas a tempestade dentro de sua mente continuava.

FLASHBACK

"Onde está o memorando de vendas?" Magnus rosnou para Ethan.

"Você já tem, senhor. Eu te entreguei ontem," Ethan respondeu nervosamente.

Magnus esfregou as têmporas, irritado. Sua memória da noite anterior estava turva, mas vívida de todas as maneiras erradas. Ele havia jogado os papéis do divórcio em Vivienne, cruelmente se deleitando com suas lágrimas. Mais tarde, ele foi ao quarto dela, e a interação deixou ambos destruídos.

Vivienne sempre foi uma presença quieta e constante, mas naqueles momentos, ela estava apática, uma sombra da mulher que ele conhecia.

"Devo ter deixado o memorando em casa," Magnus murmurou, dispensando Ethan para buscá-lo.

Uma hora depois, Ethan ligou. "Encontrei o memorando, senhor, mas há algo mais que você deve saber," disse cautelosamente.

"O que é?" Magnus perguntou, irritado.

"Os papéis do divórcio que você deu à senhora Vivienne. Ela os assinou. E, senhor... ela foi embora."

Magnus congelou. Ele não esperava que ela agisse tão rapidamente. Por um momento, sentiu alívio, finalmente liberdade, mas foi de curta duração.

Dias se transformaram em semanas, e o que inicialmente parecia libertação tornou-se um vazio esmagador. No sexto aniversário de casamento, Magnus percebeu que não podia viver sem ela.

Ele terminou o caso com Elena, mas ela se recusou a aceitar. Aparecendo sem ser convidada, alternava entre súplicas e ameaças.

Apesar de tudo, o foco de Magnus permaneceu em um único objetivo: encontrar Vivienne. Mas não importava quanto dinheiro ele investisse na busca, quantos investigadores ele contratasse, ela permanecia um fantasma.

"Café da manhã, senhor?" Patricia, sua chef particular, interrompeu sua reflexão.

"Apenas prepare o jantar," Magnus respondeu secamente, saindo de casa para mais um dia exaustivo.

Enquanto seu carro saía da garagem, Magnus sussurrou no silêncio, "Por favor, volte para mim, Vivienne."

Mas ele duvidava que o universo lhe concedesse tal gentileza.

Cinco anos depois, a Dra. Vivienne Marlowe estava ao lado do monitor cardíaco, seus olhos fixos nas ondas estáveis. "Tudo bem, a pressão arterial dele está estável agora," ela anunciou com uma voz firme. "Vocês todos fizeram um ótimo trabalho, pessoal."

"Foi tudo graças a você, Dra. Marlowe," disse uma das enfermeiras, entregando-lhe uma pinça.

Vivienne estava no meio de uma cirurgia cerebral de alto risco, tratando um paciente que quase perdeu a vida em um acidente de carro causado por direção imprudente. Embora a cirurgia tenha sido bem-sucedida, ela já planejava dar uma bronca firme no paciente quando ele acordasse.

"Vou deixar o resto com vocês," Vivienne disse, colocando a pinça cuidadosamente na mesa de instrumentos. Ela saiu da sala de cirurgia, descartando seu avental cirúrgico, agora vestida com o uniforme verde. A mãe do paciente, de olhos vermelhos e ansiosa, correu em sua direção.

"Dra. Marlowe!" exclamou a mulher, segurando suas mãos com força. "Como ele está? Ele vai ficar bem? Ele sobreviveu à cirurgia? Ele vai andar de novo?"

Vivienne lhe deu um sorriso tranquilizador. "Ele está estável agora, e enquanto não houver complicações, ele ficará bem. Não há razão para acreditar que ele perderá a mobilidade. Fique tranquila, senhora."

Lágrimas de alívio escorreram pelo rosto da mulher. "Muito obrigada, Dra. Marlowe. Você é um anjo. Seus pais devem estar muito orgulhosos de você."

Vivienne fez um aceno educado e um pequeno sorriso antes de dar um tapinha gentil no ombro da mulher. Ela seguiu para o vestiário, onde tomou um banho quente e trocou-se para um novo conjunto de uniforme, vestindo seu impecável jaleco branco.

Nove meses após se reunir com sua mãe, Olivia Blake, Vivienne deu à luz os gêmeos Jayden e Jayla, que rapidamente se tornaram seu mundo inteiro. Tragicamente, Olivia faleceu logo depois devido a uma convulsão, deixando para Vivienne sua riqueza e negócios.

Incapaz de permanecer na casa de sua infância, Vivienne a reformou e alugou para um casal simpático. Ela gerenciou o império imobiliário e empresarial de sua mãe com a ajuda do Sr. Graham, o advogado de confiança de sua mãe. Com essa estabilidade financeira, ela voltou para a faculdade de medicina e se formou com honras em neurologia. Hoje, ela era uma das neurocirurgiãs mais procuradas do Canadá.

"Bom dia, Enfermeira Porter," Vivienne cumprimentou uma jovem enfermeira na ala pediátrica.

"Bom dia, Dra. Marlowe. Já terminou a cirurgia?"

"Sim," Vivienne respondeu, folheando o prontuário de uma menina de sete anos que se recuperava de uma fratura no crânio.

"Uau, você é incrível como sempre," disse a Enfermeira Porter com admiração.

Vivienne sorriu, passando uma mão gentil sobre o cabelo da jovem paciente antes de sair da ala.

Para sua surpresa, o Dr. Randall, o diretor do hospital, estava esperando por ela em seu escritório.

"Entre e sente-se. Precisamos conversar," ele disse.

"Claro, senhor," Vivienne respondeu, sentando-se na cadeira em frente a ele.

"Você está ciente de que estamos abrindo uma nova filial do hospital nos Estados Unidos, certo?" ele começou.

Vivienne assentiu.

"A Dra. Williams deveria chefiar o departamento de neurocirurgia, mas ela teve que desistir. Sei que você tem sido hesitante em voltar para os Estados Unidos, mas—"

"Eu aceito," Vivienne interrompeu com um sorriso firme. "Esse capítulo da minha vida ficou para trás. Posso enfrentá-lo agora."

"Isso é admirável. Você partirá em dois dias. Obrigado, Dra. Marlowe."

"Obrigada, senhor," ela respondeu.

Mais tarde naquela noite, enquanto dirigia para casa, dúvidas começaram a surgir em sua mente. Estaria ela pronta para voltar à América? A ideia de possivelmente encontrar Magnus Ashford a deixava nervosa. Mas a América era vasta, e ela se tranquilizou de que as chances de tal encontro eram pequenas.

Em casa, ela cumprimentou sua vizinha, a Srta. Parker, que vinha ajudando com Jayden e Jayla há anos.

"Boa noite, querida. Como foi o trabalho?" perguntou a Srta. Parker calorosamente.

"O trabalho foi bom," Vivienne disse, afundando no sofá. "As crianças estão dormindo?"

"Boo!" Jayden e Jayla gritaram por trás dela, fazendo-a rir.

"Vocês me pegaram!" Vivienne disse, puxando-os para seus braços.

"Como foi a escola hoje?" ela perguntou.

"Foi ótima! Fizemos desenhos e cantamos músicas," Jayden disse animadamente.

"E a Srta. Parker assou cupcakes de chocolate para nós!" Jayla acrescentou.

"Isso parece maravilhoso. Vocês lembraram de agradecer?"

"Sim, mamãe!" eles responderam em coro.

Jayden parecia uma mistura de Vivienne e Magnus, enquanto Jayla era a cara do pai. Apesar das lembranças agridoces, eles eram a maior alegria de Vivienne.

Enquanto a noite chegava ao fim e ela colocava seus filhos na cama, Vivienne não pôde deixar de se perguntar o que a aguardava na América. Pela primeira vez em anos, ela sentiu os primeiros sinais de incerteza e esperança.

Capítulo Anterior
Próximo Capítulo