Capítulo 7

POV ALISSON COOPER

Já fazia alguns dias desde que eu tinha falado com a Debbie, ela tentou vir até mim e me fazer ouvi-la, mas eu não queria. Dona Bonnie percebeu que algo estava errado, afinal, Debbie tinha parado de vir à nossa casa, ela não me forçou a falar, estava esperando minha boa vontade para me abrir com ela. Eu deveria ter contado tudo desde aquele dia, mas não queria preocupá-la com isso, já estava resolvido e isso era o que importava.

Depois de chegar de mais um dia de trabalho, eu podia me jogar no sofá, estava ficando cada vez mais difícil ir e voltar do trabalho de ônibus, e na maioria das vezes era a Debbie que me trazia. Ouço um fungado acima da minha cabeça, meus olhos se arregalam e eu encaro a Dona Bonnie.

"Boa noite, senhorita."

"Boa noite, Dona Bonnie."

"Como foi seu dia?"

"Cansativo, e o seu?"

"Muito produtivo, comecei a plantar algumas plantas para decorar a casa."

Levantei um pouco do sofá e olhei ao redor da sala, vi uma boa quantidade de plantas em vasos, parecia uma floricultura.

"Está pensando em abrir uma loja de flores?"

"Não ficou tão ruim assim, essa casa precisa de um pouco de cor."

"Não seria mais fácil pintar as paredes?"

"As flores vão adicionar cor."

"Verde... Uma cor verde."

"Não é por nada, mas vasos voam, sabia?"

Percebi que aquelas palavras não eram uma informação, mas uma ameaça, tentei me calar e levantei os braços mostrando rendição.

"E você e a Debbie... Se entenderam?" Dona Bonnie perguntou sentando-se ao meu lado no sofá.

"Não falei mais com ela."

"Vejo que você não quer tocar no assunto, mas vou te aconselhar mesmo assim... Você já tentou ouvir o que ela quer te dizer? Percebo que ela cometeu um grande erro e não te julgo por estar com raiva dela, mas antes de tomar uma decisão da qual você possa se arrepender, tente ouvir a versão dela, tente escutá-la."

Aquelas palavras me tocaram, posso estar errada ou certa, mas ela tem razão, eu preciso ouvir o que ela tem a me dizer antes de decidir me afastar de vez. Encarei a Dona Bonnie e beijei sua bochecha.

"Obrigada pelo conselho, você é ótima nisso."

"Eu sei que Deus me deu o dom de ser conselheira, mas esqueceu de me dar sorte no amor."

"Por que está dizendo isso?"

"Lembra do meu encontro? O velho era casado, mas por sorte eu descobri, e junto com a esposa dele demos uma surra nele e o mandamos para o hospital."

"Dona Bonnie, você ia cometer um assassinato?"

"Não... Mas me escute, se a polícia bater nesta porta, eu não estou."

Sorrimos com a história que ela acabou de me contar. Na manhã seguinte, acordei e fiz o que sempre faço, fui ao banheiro, tomei um banho e me preparei para o trabalho. Meu corpo ansiava por voltar para a cama, mas eu não sou filhinha de papai para ter tal privilégio. Embora eu não tenha uma família de sangue e tenha crescido em um orfanato, eu o considerava meu lar. Fui criada na simplicidade onde aprendi a compartilhar e agradecer a Deus pelo que tenho, nunca senti falta de um vínculo fraternal de mãe ou pai, e nunca tive interesse em conhecê-los, se me deixaram em um orfanato foi porque não me queriam, eles não sentem minha falta, posso estar sendo egoísta por pensar assim, mas uma mãe nunca abandonaria um filho, por quaisquer circunstâncias.

Depois de tomar café da manhã e ir para o trabalho, lembrei das palavras da Dona Bonnie, hoje vou tentar falar com a Debbie e ouvi-la. Já no local de trabalho, percebi que ela não estava lá, dei de ombros e comecei meu dia de trabalho, mas sempre me perguntava por que ela não apareceu. Com tanta curiosidade, me aproximei do chefe, ele estava no final do corredor fazendo anotações em um caderno.

"Algum problema, Cooper?"

"Desculpe incomodar, mas estava me perguntando... Por que a Debbie não veio trabalhar hoje?"

"Ela não te contou?"

"Não..."

"O pai dela faleceu, hoje foi o enterro."

Senti meu coração apertar ao ouvir essa informação, eu já sabia que o pai da Debbie estava lutando contra o câncer. Meu chefe, percebendo minha expressão, perguntou:

"Você está bem?"

"Sim, estou bem."

Voltei ao meu trabalho, mas não consegui prestar atenção o suficiente, frequentemente sentia que estava sendo observada, e meu corpo queimava. Ignorando essa sensação, terminei meu trabalho, saí e caminhei pelo estacionamento. Enquanto caminhava, vi um carro parar e percebi que era o da Debbie, ela estava encostada nele, me aproximei e vi seus olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.

"Quer uma carona?" ela perguntou.

"Sim."

Ela assumiu o volante e eu entrei no veículo e sentei ao lado dela, já eram seis da tarde, e enquanto estávamos no trânsito, olhei para ela.

"Você está bem?"

"Não, mas estou me aguentando."

Antes de ir para casa, Debbie parou em um estacionamento perto da praia e fomos até a água, sentamos na areia e ficamos em silêncio. Virei meu rosto para o lado, ela estava chorando, me aproximei dela e a abracei, ela deitou a cabeça no meu peito e chorou alto entre soluços.

"Desculpe por ter te deixado sozinha no clube," ela disse entre lágrimas. "Recebi a ligação de que meu pai teve uma parada cardíaca, não consegui pensar em mais nada além de sair correndo do clube."

Me senti como um peixe fora d'água, meu peito apertou e eu a abracei mais forte.

"Não pense mais nisso, Debbie, eu te perdoei."

"Eu não queria que isso acontecesse, me desculpe."

"Shh... Esqueça isso."

Deixei que ela chorasse toda a amargura e a dor que a sufocavam, eu não estava no funeral, mas agora estou aqui, tentando de alguma forma ouvi-la e estar ao seu lado. Conversamos por um longo tempo, ela me contou tudo o que aconteceu nos últimos dias, depois de desabafar, ela me levou para casa. Assim que saí do carro, me despedi e subi, antes de abrir a porta, uma mensagem apitou no meu celular, rapidamente tirei-o do bolso e abri:

Mulher teimosa... Achei que tinha deixado claro quando ordenei para não sair à noite.

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