Capítulo 1: Fugindo com o Dr. Griffin
Ponto de Vista de Evelyn
O laboratório está sufocantemente silencioso, quebrado apenas pelo suave zumbido das máquinas ainda funcionando nas salas próximas. Completei 17 anos há poucos dias, e esta noite, estou deitada na minha pequena cama de metal no meu quarto espartano. As paredes, pintadas de um branco estéril, parecem estar se fechando sobre mim enquanto minha mente gira descontroladamente. Meu cérebro, exausto dos intermináveis experimentos e testes do dia, está em sobrecarga. Cada pensamento surge como um flash, iluminando inúmeras conexões neurais rápido demais para eu conseguir parar. Tento desesperadamente adormecer, mas é como tentar apagar uma tempestade com uma única vela.
Meu corpo está exausto, pesado de fadiga, mas minha mente, presa em um turbilhão de conceitos e informações, não me dá descanso. Meus olhos estão pesados, mas toda vez que os fecho, vejo equações matemáticas complexas, esquemas de máquinas, imagens de testes passados, tudo se misturando em um pesadelo acordado. Enterro meu rosto no travesseiro, tentando afastar os pensamentos que me assombram, mas é inútil.
Esta é minha vida—uma rotina implacável e sufocante que se estende desde que me lembro. Todas as manhãs, acordo neste mesmo quarto frio e impessoal, onde as paredes parecem feitas de pedra e aço, gotejando indiferença. Nas poucas vezes que tento imaginar estar em outro lugar, não consigo nem visualizar um lugar que não esteja impregnado da mesma monotonia. Há apenas este vazio, esta frieza que me cerca.
Não conheço meus pais. Às vezes, me pergunto se algum dia os tive, ou se fui criada em um laboratório, um experimento desde o início. Tudo o que sei é este quarto, este espaço estreito onde estou confinada como um animal cativo. Os cientistas, com seus jalecos brancos e olhares clínicos, são os únicos rostos que vejo, os únicos sons que ouço são o zumbido das máquinas e suas vozes sem emoção quando me dão ordens. Eles não me veem como um ser humano, mas como um espécime, uma anomalia a ser explorada, dissecada e aperfeiçoada. A sede deles por glória e fortuna transparece em cada movimento que fazem comigo, como se estivessem lidando com uma joia preciosa que tentam polir para torná-la ainda mais valiosa.
E eu? Sou apenas um rato de laboratório, um brinquedo em suas mãos. Minha existência não tem valor para eles, exceto como um degrau em direção às suas ambições. A busca deles pela perfeição vem ao custo da minha humanidade, da minha dor e do meu desespero. Minha vida cotidiana se transformou em um pesadelo perpétuo do qual não posso escapar, como se estivesse presa em um ciclo interminável de sofrimento.
Às vezes, me faço perguntas, mesmo sabendo que é inútil. Eles me compraram como uma propriedade? Meus pais me abandonaram, talvez achando mais fácil se livrar de mim? Ou pior, simplesmente fecharam os olhos, escolhendo ignorar meu destino? E por que eu, entre todos os outros? Fiz algo para merecer isso, ou nasci sob uma estrela amaldiçoada? Mas essas perguntas só alimentam minha dor porque sei que nunca terei as respostas. O silêncio é meu único companheiro, um silêncio pesado que se estende além das palavras. Fora dos testes e experimentos, nenhum dos cientistas fala comigo. Sou invisível, uma sombra, um objeto a ser incessantemente melhorado, mas nunca visto como bom o suficiente aos olhos deles. Eles me cutucam, me dissecam, me destroem e me deixam inteira apenas para fazer tudo de novo no dia seguinte.
Às vezes, penso que até os animais de laboratório—essas pobres criaturas trancadas em suas pequenas gaiolas—são tratados melhor do que eu. Pelo menos eles recebem algum cuidado, talvez até um pouco de atenção, por menor que seja. Mas eu? Sou reduzida a uma função, um propósito utilitário.
Será que existe alguém, além dessas paredes, que sequer sabe que eu existo? Alguém que possa achar que eu mereço algo melhor do que esta prisão silenciosa? Talvez lá fora, em algum lugar, haja uma alma que queira me salvar, me oferecer uma chance de experimentar algo diferente, de ser algo além de uma coisa. Mas esses são apenas devaneios, sonhos aos quais me agarro com a mesma ternura de uma pessoa moribunda segurando seu último suspiro. O mundo, se é que ele existe, certamente esqueceu que faço parte dele. Ou talvez nunca soube.
De repente, o som suave de uma porta se abrindo me tira da minha luta interna. Levanto a cabeça, com o coração disparado. Quem poderia estar entrando no meu quarto a esta hora? A porta se fecha sem fazer barulho, e uma figura familiar desliza para dentro do quarto. É o Dr. Alan Griffin, um dos cientistas do laboratório. Sempre o conheci como um homem quieto, que segue ordens sem nunca mostrar qualquer emoção. Mas esta noite, algo está diferente. A expressão em seu rosto é séria, quase torturada, e um calafrio de inquietação percorre meu corpo.
"Dr. Griffin?" sussurro, minha voz tremendo ligeiramente. "O que está fazendo aqui... a esta hora?"
Ele não responde imediatamente. Apenas fica ali, me encarando com uma intensidade que me deixa desconfortável. Então, em uma voz baixa, ele quebra o silêncio.
"Evelyn, você precisa me ouvir com muita atenção. O que estou prestes a dizer... pode mudar sua vida."
Sinto meu coração apertar. Aprendi a não confiar nos cientistas que me manipulam como um rato de laboratório, mas algo no tom do Dr. Griffin me diz que desta vez é diferente. Lentamente, me sento, com os olhos fixos nele.
"O que está acontecendo?" pergunto, com a garganta apertada.
Dr. Griffin se aproxima e se ajoelha ao lado da minha cama, colocando uma mão hesitante no meu ombro. Seu olhar está cheio de tristeza e arrependimento que nunca vi nele antes.
"Evelyn..." ele começa com uma voz suave, quase paternal. "Você nunca deveria ter passado pelo que passou aqui. Você merece muito mais do que esta vida de dor e solidão. Eu fui parte deste sistema, contribuí para o seu sofrimento, e não posso mais viver com isso. Eu quero... eu preciso fazer algo por você, antes que seja tarde demais."
Eu o encaro, incrédula. Sonhei em escapar tantas vezes, mas nunca poderia imaginar que um dos cientistas se voltaria contra o laboratório para me ajudar.
"O que você quer dizer?" pergunto, minha voz quebrando de emoção.
Dr. Griffin aperta meu ombro um pouco mais forte, como se tentasse me dar força. "Vamos embora, Evelyn. Agora mesmo. Vou te levar para bem longe daqui, e você nunca mais vai voltar."
Meu cérebro, exausto mas ainda alerta, luta para processar a informação. Ir embora? Agora? Parece bom demais para ser verdade. Mas antes que eu possa protestar, Dr. Griffin já está de pé, me puxando gentilmente para fora da cama.
"Vista-se rápido e pegue o que puder. Não temos muito tempo."
Meu coração bate forte no peito, e eu obedeço sem questionar. Visto roupas simples, pegando os poucos itens pessoais que possuo. Dr. Griffin me observa, com o rosto determinado.
Alguns minutos depois, saímos do quarto, nos movendo silenciosamente pelos corredores desertos do laboratório. Cada fibra do meu ser está em alerta máximo, esperando ser pega a qualquer momento, mas milagrosamente, conseguimos sair sem problemas. O ar frio da noite nos atinge assim que passamos pelas portas, e pela primeira vez na vida, sinto uma brisa fresca no rosto, livre de qualquer restrição.
Caminhamos por horas, colocando o máximo de distância possível entre nós e o laboratório, até chegarmos a uma cidade distante, ainda adormecida sob a cobertura da noite. Lá, Dr. Griffin usa documentos falsos para pagar um quarto de hotel. Exausta, mas livre pela primeira vez na vida, desabo na cama, meus pensamentos ainda correndo com tudo o que deixamos para trás.
Depois de uma noite de descanso, pegamos um ônibus e cruzamos vários estados antes que Dr. Griffin comprasse um apartamento modesto que se tornou nosso refúgio.
Nos dias que se seguiram, Dr. Griffin se tornou quase como uma figura paterna para mim. Ele me ajudou a me ajustar a uma vida normal, ensinando-me coisas do dia a dia que eu nunca conheci. Sob uma identidade falsa, ele desempenhou o papel de meu pai adotivo, me protegendo e me encorajando a explorar o mundo por conta própria. Compartilhamos momentos simples, como cozinhar juntos ou ler em silêncio, momentos de paz que eu nunca pensei serem possíveis.
Mas uma manhã, tudo mudou. Acordei e encontrei um bilhete deixado na mesa da cozinha, escrito apressadamente em um pedaço de papel. Minhas mãos tremiam enquanto o desdobrava.
"Minha querida Evelyn,
É hora de eu ir. Fiz tudo o que pude para te dar uma chance de uma vida normal, longe dos horrores do laboratório. Mas não posso ficar aqui. Tenho uma última missão a cumprir: destruir aquele lugar amaldiçoado e toda a pesquisa que te causou tanta dor.
É a única maneira de garantir que você esteja segura, que ninguém jamais te encontre ou te leve de volta para lá. Sei que você é forte e encontrará seu caminho. Você está destinada a grandes coisas, Evelyn. Você tem um coração generoso e uma mente brilhante. Eu acredito em você.
Não sei se nos veremos novamente, mas saiba que estou orgulhoso de quem você se tornou. Cuide-se.
Com todo meu amor,
Alan"
Lágrimas encheram meus olhos enquanto lia aquelas palavras, uma dor surda preenchendo meu coração. Sei que ele está certo, mas isso não torna a dor de sua partida mais fácil. Estou sozinha novamente, mas desta vez, com uma esperança que nunca conheci antes. Dr. Griffin me deu mais do que liberdade: ele me deu uma chance de viver, de realmente viver.
Aperto o bilhete contra o peito, respirando fundo. O futuro é incerto, mas agora sei que sou capaz de enfrentar o que vier. Evelyn Ashcroft não é mais uma vítima. Ela é uma sobrevivente, pronta para traçar seu próprio caminho em um mundo que está prestes a aprender a navegar.
