Capítulo 4: O salto para o desconhecido
Ponto de Vista de Evelyn
Estou de pé na minha mesa, minhas mãos tremendo levemente enquanto coloco cuidadosamente meu caderno na bolsa. Este caderno não é apenas um diário para mim; é um refúgio, uma maneira de canalizar o fluxo interminável de informações e pensamentos que inundam meu cérebro hipermnésico a cada momento. Ao escrever minhas observações, ideias e, às vezes, até minhas emoções, consigo manter uma aparência de equilíbrio mental. Mas mais precioso do que minhas anotações científicas é aquele pequeno pedaço de papel, cuidadosamente dobrado e guardado entre as páginas — a carta de despedida do Dr. Griffin.
Puxo a carta para lê-la, como costumo fazer antes de um momento significativo. As palavras estão gravadas na minha memória, mas tocá-las, vê-las, é como ouvir a voz do homem que foi meu único protetor durante uma infância marcada por dor e solidão. Esta mensagem final, na qual ele me confia a missão de viver uma vida cheia de significado e bondade, serve como minha bússola, guiando-me através das tempestades que enfrento.
Dobro a carta gentilmente e a coloco de volta no seu lugar. Fecho os olhos por um momento e respiro fundo. Sei que esta missão é diferente de todas as outras. Um prisioneiro alienígena... As implicações científicas são vastas, quase inimagináveis. Minha mente naturalmente curiosa vibra de excitação diante do desconhecido, desta oportunidade de desvendar mistérios que podem mudar o curso da humanidade. Mas essa excitação é tingida por uma inquietação silenciosa.
Trabalhar com os militares me deixa nervosa. Mesmo tendo tomado todas as precauções para apagar meus rastros, garantindo que meu passado nunca possa ser usado contra mim, parte de mim não consegue se livrar da sensação de suspeita. Os militares, com seus vastos recursos e obsessão por controle, representam uma força que não posso manipular ou escapar facilmente. No entanto, algo sobre esta missão me atrai irresistivelmente. Será o fascínio pelo desconhecido? Ou a sensação de que, ao ajudar este ser, estou de alguma forma honrando o legado que o Dr. Griffin me deixou?
Dou uma última olhada na minha mesa, deixando meus dedos passarem pelo pequeno pingente em forma de estrela que Lily me deu. Este presente simples, mas significativo, tornou-se um símbolo de tudo pelo que luto. Lily e tantas outras crianças como ela precisam de médicos, cientistas, pessoas que realmente se importem com elas. Aperto gentilmente o pingente na minha mão, fechando os olhos para ancorar esse senso de proteção e dedicação profundamente no meu coração.
Sei que esta missão pode me levar por caminhos perigosos, mas não posso fugir de quem sou. Prometo a mim mesma, enquanto acaricio o pingente uma última vez, que farei tudo ao meu alcance para garantir que este alienígena receba os cuidados de que precisa, assim como faria com qualquer outro paciente.
Quando finalmente estou pronta, pego minha bolsa, verificando uma última vez para garantir que tudo está em ordem. Dirijo-me à porta, uma mistura de apreensão e determinação me empurrando para frente. O ponto de encontro não está longe, e quando chego, o zumbido de um helicóptero militar enche o ar. As lâminas do rotor cortam o ar com um ritmo constante, e vejo o Coronel Kane já a bordo, esperando com a impaciência contida de alguém acostumado a estar no comando.
Pauso por um momento antes de subir, respirando fundo uma última vez. É isso. A decisão está tomada. Deixo de lado minhas dúvidas e subo a bordo, meus olhos encontrando brevemente os de Kane enquanto ele me dá um aceno, reconhecendo silenciosamente minha determinação. O helicóptero se eleva no céu, levando-me em direção a uma nova aventura, uma missão que sem dúvida mudará minha vida — e possivelmente muitas outras. Mas, aconteça o que acontecer, estou pronta para enfrentar o desconhecido, armada com meu conhecimento, meu caderno e a memória do Dr. Griffin ainda me guiando.
A viagem é preenchida por um silêncio opressivo, quebrado apenas pelo zumbido constante dos rotores do helicóptero. Esse silêncio me dá muito tempo para mergulhar em meus pensamentos, explorando todas as possíveis ramificações, todas as potenciais consequências desta aventura. Cada nova possibilidade se desdobra na minha mente como um mapa, com estradas sinuosas levando tanto a horizontes promissores quanto a poços escuros e sem fundo. Tento imaginar os melhores desfechos, mas os piores muitas vezes tomam conta, lançando uma sombra de medo sobre meus pensamentos.
Não devo esquecer que, para alguém como eu, com meu passado e as habilidades que adquiri em circunstâncias tão únicas e perigosas, entrar em uma base militar é como entrar na cova dos leões. É uma incursão em território inimigo, onde até o menor erro pode me expor a riscos inimagináveis. A ideia me passa pela cabeça de que esta missão pode ser uma armadilha, uma isca habilmente orquestrada para me atrair para uma rede da qual não poderei escapar. E se este alienígena for apenas um pretexto, uma fachada atrás da qual os militares escondem intenções mais sombrias e sinistras? Não posso descartar essa possibilidade.
O que sempre me intrigou é por que nem os militares nem o governo jamais tentaram me contatar após minha fuga do laboratório clandestino com o Dr. Griffin. Como explicar esse silêncio? Aqueles cientistas não estavam trabalhando pela glória ou pela busca do conhecimento puro. O objetivo deles era vender suas descobertas ao maior lance, e duvido que nunca tenham tentado seguir nessa direção. Como é que ninguém tentou me encontrar, explorar esses dados? Talvez eu seja ingênua ao pensar que o Dr. Griffin conseguiu apagar todos os rastros de seu trabalho tão completamente que nunca poderiam ressurgir.
Solto um suspiro quase inaudível, sentindo um nó se formar no meu estômago. Olho pelas janelas do helicóptero e vejo a base que será meu lar pelos próximos dias — talvez mais. É enorme, estendendo-se até onde a vista alcança, um labirinto de prédios cinzentos e uniformes, todos idênticos e desprovidos de qualquer indício de vida ou calor. O lugar todo parece sombrio, deprimente, como uma prévia do desespero que pode me aguardar aqui.
Mais adiante, isolado do resto da base, um longo rastro de terra revirada marca a paisagem, indicando o local onde algo massivo e violento caiu. Ao redor, árvores estão tombadas, arrancadas como se uma mão gigante as tivesse puxado do solo. Dá para ver até os vestígios enegrecidos de um incêndio. Este deve ser o local do acidente, onde o alienígena encontrou seu destino sombrio. Ele deve ter tido um azar terrível para cair tão perto de uma base militar... Isso me faz pensar o que esse pobre ser deve achar de nós, humanos.
O helicóptero finalmente pousa com um clangor metálico, e antes mesmo que os rotores terminem de girar ruidosamente, o Coronel Kane desce rapidamente, caminhando com propósito. Sua atitude me inquieta. Para alguém que parecia tão interessado em me recrutar, agora ele demonstra uma indiferença quase insultante. Como se assumisse que minha cooperação já estivesse garantida, que ele não precisasse mais me cortejar ou prestar atenção às minhas reações. Essa indiferença me deixa desconfortável, mas também fortalece minha determinação de permanecer alerta.
Dois homens uniformizados se aproximam do helicóptero, seus rostos impassíveis, rígidos como máscaras. Desço relutantemente, sentindo o chão tremer levemente sob meus pés enquanto me abaixo para me afastar da aeronave. Cada passo que dou nesta base parece me afundar mais em uma situação da qual talvez nunca consiga escapar.
"Dra. Ashcroft," um dos soldados me cumprimenta, sua voz firme, mas desprovida de qualquer calor. "Vamos escoltá-la até seus aposentos. Siga-nos."
Apenas aceno com a cabeça, ciente de que cada palavra dita aqui pode ser analisada, interpretada, usada contra mim. O sol, alto no céu, bate impiedosamente nesta base árida. Além das sombras projetadas pelos prédios cinzentos e monolíticos, não há refúgio do calor. Este lugar parece um deserto desolado, estéril, e a visão só aprofunda a inquietação que me corrói desde que aceitei esta missão. Sinto uma tensão crescente no peito, como se cada passo em direção àqueles prédios me aproximasse de um destino inevitável, um destino que só posso evitar permanecendo constantemente em alerta.
Enquanto sigo os dois soldados, não consigo deixar de me perguntar se fiz a escolha certa ao vir aqui. Mas é tarde demais para voltar atrás. Tenho que enfrentar esta situação, entender por que fui chamada e descobrir o que está por trás deste alienígena ferido. Talvez, ao desvendar os fios deste mistério, eu consiga sair ilesa — ou pelo menos entender este mundo ao qual me sinto tão estranhamente alheia.
Caminho atrás dos dois homens em silêncio, seus passos ecoando suavemente nos corredores metálicos da base. A cada curva, a cada interseção, minha mente registra metodicamente os detalhes. Os ângulos, as portas, as placas — tudo está gravado na minha memória hipermnésica. Não vai demorar muito para eu conhecer esta base melhor do que aqueles que trabalham aqui há anos. Conhecimento é poder, e vou precisar de todo o que puder obter aqui.
Quando a porta finalmente se abre para o que eles chamam de meus "aposentos", eu me tenso instintivamente. Uma onda de repulsa me invade, mas me forço a suprimir a careta que ameaça distorcer meu rosto. O quarto é deprimente e simples, quase estéril, sem personalidade. As paredes são brancas, sanitizadas, sem decorações ou calor. Uma mesa simples, uma cama com lençóis padrão e uma escrivaninha vazia me cumprimentam, e já sinto a claustrofobia se aproximando.
Coloco minha bolsa no chão com uma lentidão calculada, tentando recuperar o controle das minhas emoções. Um dos soldados fala, quebrando o silêncio frio. "O Coronel Kane virá buscá-la em alguns minutos, Dra. Ashcroft." Aceno com a cabeça, incapaz de formar uma resposta mais longa, e a porta se fecha atrás deles com um clique agudo e final.
Minhas mãos começam a tremer levemente. Este quarto... É assustadoramente semelhante ao que cresci, naquele maldito laboratório clandestino. Essas paredes frias, esses espaços confinados onde eu era observada, estudada. Um arrepio percorre minha espinha enquanto memórias reprimidas vêm à tona. Spartan, impessoal, sufocante.
Já sei que minhas noites aqui serão difíceis. Cada silêncio, cada canto sombrio deste quarto me mergulhará de volta naqueles anos de cativeiro, onde meus pensamentos eram meus únicos companheiros. Os pesadelos voltarão, inevitavelmente. E com eles, as memórias daquele quarto, onde cada pequeno ruído me aterrorizava, onde cada noite parecia interminável.
