Capítulo 4
A névoa daqueles dias perdidos grudava em mim como fumaça, vozes ecoando em fragmentos. Eu juro que ouvi ele — Bobby, meu ex, seu tom cruel inconfundível, e aquele garoto da minha primeira noite em Sapulpa, o irmão mais novo do Tank. Como diabos o Bobby me encontrou? Antes que eu pudesse entender, outra picada no meu braço me fez mergulhar de volta na escuridão.
Quando acordei, o cheiro estéril de antisséptico foi a primeira coisa que senti, seguido pelo bip suave de um monitor. Deacon estava sentado ao meu lado, seu rosto marcado por preocupação e raiva. “Te encontrei fora do meu portão três dias atrás,” ele disse, sua voz firme, mas pesada. “Te colocamos em coma para ajustar seus ossos e te limpar. Você está segura agora, Layla. Cuidamos das suas tarefas escolares — eles acham que você está com gripe. Alguém está fazendo seus trabalhos, e nós os devolveremos. Eles não vão tirar mais nada de você.” Ele fez uma pausa, apertando o maxilar. “Eles te drogaram, então você não vai se lembrar de muito. Mas eles te estupraram, e um deles te marcou — uma marca de anel de lobo. Temos uma pista de quem fez isso, muito DNA, mas ainda sem correspondências. Te demos remédios para gravidez e DSTs. Você vai ficar bem.”
Suas palavras caíram como golpes, cada uma afundando mais fundo. Eu me encolhi, lágrimas queimando meus olhos enquanto a verdade se assentava. Eles me violaram, me marcaram, mas eu ainda estava aqui. Os braços de Deacon me envolveram, fortes e firmes, enquanto eu chorava em seu ombro.
“Eu os ouvi,” eu engasguei. “Bobby e aquele garoto. O irmão do Tank, acho. Suas vozes... antes de me derrubarem de novo.”
O aperto de Deacon se intensificou, sua voz baixa. “Nós vamos encontrá-los, princesa. Eles vão pagar.” Ele não adoçou a situação, e eu não queria que ele fizesse isso. O médico mencionou minha recuperação lenta, dizendo que as vitaminas que eu tomava há anos deveriam ajudar, mas eu não notei diferença. Desta vez, a recuperação levaria mais tempo, e eu odiava como isso me fazia sentir frágil.
Pedi ao Tanner para pegar o celular descartável do cofre no meu apartamento. Eu precisava contatar o Tio Rick, mas não estava pronta para contar tudo. Eu mudaria o código do cofre quando chegasse em casa; sem chances.
Mandei uma mensagem para Rick: / 'Desculpa, perdi o celular em casa. Não consegui mandar mensagem.' Ele provavelmente não vai acreditar, mas isso me dá uma semana para me curar e colocar as coisas em ordem.
Alguns dias depois, eu estava de volta ao meu apartamento, o rangido familiar da porta do porão me saudando. Zero e Lady correram até mim, seus pelos quentes roçando minhas pernas, seus ganidos de excitação preenchendo o vazio. Afundei no chão, deixando-os me acariciar. A escola tinha acabado, então me joguei nos treinos. Os equipamentos de ginástica que Tanner montou na sala de jantar se tornaram meu santuário. Corri na esteira, levantei pesos, pratiquei combinações, qualquer coisa para reconstruir a força que me foi roubada. Eu posso reconstruir meus músculos.
Uma semana depois, eu estava sentada na minha formatura do ensino médio, o auditório zumbindo com famílias orgulhosas. Eu usava um vestido roxo escuro sob o capelo e a beca pretos, leggings pretas escondendo os hematomas ainda desvanecendo nas minhas pernas.
Os nomes dos filhos do Wolf MC foram chamados, e a turma deles — minha chamada “família” — aplaudiu alto, a voz da minha mãe se destacando na multidão. Quando meu nome ecoou pelos alto-falantes, apenas Tanner e Star gritaram por mim. Deacon estava fora da cidade para uma reunião, mas eu vi Star filmando, seu celular angulado para me capturar para o pai dela. Ele tentou remarcar, mas a outra parte não cedeu. Na multidão, avistei o Tio Rick, mantendo um perfil discreto. Nossos olhares se encontraram brevemente, e eu sabia que ele estava esperando até o meu aniversário para conversar.
Eu não consegui ver muito no laptop, mas vi que a vadia não é minha mãe. Não sei quando eles descobriram ou por que me deixaram com ela esse tempo todo, mas isso é um problema para outro dia. Então, eles não estavam prestando atenção em mim. Era o que eu esperava, mas ainda assim doeu, ela é a única mãe que eu lembro. Na formatura, eles nem olharam na minha direção.
Depois da cerimônia, encontrei Tanner e Star, e tiramos uma foto juntos. Notei Lisa parada ali olhando para minha mãe com ódio, então olhei para ela e a vi tirando fotos com os formandos, assim como meus irmãos.
"Vamos, pessoal," eu disse, levando Tanner e Star embora.
Pegamos hambúrgueres na lanchonete e fomos para casa. Lisa acenou enquanto saíamos. De volta em casa, nos espalhamos no sofá, assistindo a um filme. Eu sei que Tanner e Star contaram ao Deacon o que aconteceu, mas não me importo se eles fizerem isso. Eles também disseram a ele que não viram minha família desde que nos mudamos para cá. Prefiro assim. Eles estão sempre no MC, e ninguém checa como estou. Caramba, eles nem me mandam mensagem.
No meio do filme, Star se sentou, os olhos brilhando. "Vamos lá. Queremos te mostrar uma coisa." Curioso, os segui, subindo na minha Harley enquanto íamos para o complexo do Spirit MC.
O ar da noite estava fresco, o rugido das nossas motos abafando o mundo. Quando chegamos, uma fogueira brilhava, iluminando um banner que dizia "Parabéns Ice." Lágrimas brotaram nos meus olhos enquanto Rock, o VP, me puxava para um abraço de urso. "Estamos orgulhosos de você, garoto," ele disse.
"Obrigado, pessoal!" eu gritei, minha voz se destacando sobre o crepitar do fogo. Uma mesa estava cheia de presentes, um bolo, e Cook virando hambúrgueres na grelha. Nos sentamos ao redor do fogo, Tanner me entregando uma cerveja enquanto comíamos e conversávamos.
Meu telefone vibrava sem parar — meu irmão, enviando fotos da festa deles, mamãe enchendo os outros formandos de presentes. Eu sorri e enviei de volta uma foto do meu banner, a pilha de presentes empilhados na frente. Isso vai calar a boca dele.
O Spirit MC não tinha outros formandos este ano. Tanner e Star são educados em casa. Então isso tudo era para mim. Deacon me entregou a escritura da loja de tatuagem que eu sonhava, um presente do MC. "Vamos manter no meu cofre até você se estabelecer," ele disse. Eu o abracei, minha voz embargada. "Obrigado a todos. Este é o melhor dia que tive desde que papai morreu." Saí logo depois para deixar os cachorros saírem, meu coração cheio.
De volta em casa, estacionei minha Harley e vi Lisa atravessando a rua, seu rabo de cavalo loiro balançando. "Oi, Lisa," eu disse. "Seu irmão vai ficar bravo se te vir falando comigo."
"Ah, bem," ela disse, dando de ombros. "Eu não gosto do que eles estão fazendo com você. Parabéns, aliás — vi que você foi o orador da turma e ganhou uma bolsa para a escola de arte. Isso é incrível." Ela me entregou uma pequena caixa, seu sorriso caloroso.
"Obrigado," eu disse, pegando a caixa. "Está tudo bem. Papai era o único do meu lado. Eu estava lá quando atiraram nele, sentado à mesa. Ele me cobriu e minha madrinha. Mamãe age como se estivesse brava por eu ter sobrevivido. Tenho certeza que não é assim que eles contam no Wolf MC." Eu pausei, a verdade escapando. "Eles receberam $100,000 cada no testamento dele. Ghost e eu ficamos com o resto. É por isso que eles me odeiam. Papai era rico. O pai dele era o chefe da máfia em Tulsa até o Tio Rick assumir."
Antes que ela pudesse responder, meu telefone tocou, a tela mostrando "Senador Papa." Acenei para Lisa, me afastando. Eu não podia arriscar que ela mencionasse essa ligação para mamãe, que o desprezava por razões que eu ainda não entendia.
"Olá, Senador, como vai hoje?" eu disse, sinalizando que não estava sozinho.
"Parabéns!" sua voz retumbou, seguida por aplausos de algo que parecia uma sala cheia de gente.
"Obrigado, pessoal," eu disse, sem saber por que eles tinham ligado, mas grato pelo calor.
























































































































