Artur

Naomi não respondeu, mas ponderou suas opções. Lobisomens não se revelam em espaços públicos por serem amigáveis ou flertarem. Na verdade, existe uma regra não dita entre eles de não se envolverem uns com os outros em público. Mostrar suas presas para outro lobisomem, seja do seu bando ou de outro, nessa situação, é mais do que suficiente para iniciar um luto; uma briga que poderia transformar toda a ala esquerda deste aeroporto em um banho de sangue. Naomi manteve os olhos fixos no homem e pensou no anfitrião do lounge ainda misturando algumas bebidas atrás do mini-bar.

"Nenhuma reação. Eu sabia." ele disse com a boca ainda meio aberta. Ele a fechou em um largo sorriso.

"Agora isso é interessante. Tem um lobisomem até em uma cidadezinha como esta?" ele refletiu.

"Eu poderia perguntar o mesmo sobre você." ela respondeu. Naomi pegou e começou a ler uma revista de um monte que o anfitrião havia colocado no braço esquerdo da cadeira. "Ou eu perguntaria. Se lobisomens existissem. E eles não existem." ela disse enquanto virava uma página.

"Ahh. Entendi." o homem entrou no jogo, com um brilho suave nos olhos. "Perdoe-me, então. Parece que estou em erro."

"Você queria mais alguma coisa, senhor? Ou discutir coisas fanáticas com mulheres é apenas um hobby seu?" perguntou Naomi.

O homem riu alto desta vez. Ele estava gostando dela. Claro, sua mente já havia vagado ao ver as curvas do vestido de cintura alta dela, e ainda mais pelos lábios carnudos e úmidos, de um vermelho-sangue. Mas isso era só parte da história. Havia algo mais. Isso não fazia parte do plano-

"Arthur. Livingsworth." ele estendeu a mão.

"Isso soa como um nome falso." Naomi zombou, mas apertou a mão dele mesmo assim.

"E o Vince nunca me deixa esquecer disso" ele respondeu.

Naomi piscou duas vezes antes de virar outra página.

"Eu deveria saber quem é?" ela perguntou calmamente.

"Na verdade, não. Porque lobisomens não existem, lembra? E você definitivamente não vai a um casamento de lobisomem amanhã onde o nome do noivo é Vincent Moonlight. Então pode me ignorar."

Naomi deixou sua fachada cair e revirou os olhos.

"Vamos lá. Como você soube?" ela perguntou.

"Quem você acha que é o padrinho." Os olhos de Arthur brilharam. Ele bateu em um pacote cilíndrico branco com um laço azul na ponta. "Até trouxe um presente e tudo."

"Eu não sabia que tínhamos que levar presentes" ela suspirou.

"Etiqueta básica de casamento para lobisomens. Você pode querer resolver isso. Ou eles podem te matar." ele riu. Naomi não sentiu que era uma piada completa.

"Senhora?" o homem perguntou.

"Naomi" ela respondeu, mais cooperativa desta vez.

"Naomi" o homem começou com alegria "Permita-me inundá-la com contos de grandeza e espionagem, de primeira mão do oeste. Mas só sob uma condição." Ele sacudiu o pacote branco, e fez um som surdo, como uma vela ou um smartphone ainda na caixa.

"Nada de espiar", Arthur sorriu.


Naomi trabalhou para tirar o longo sobretudo preto que usara no avião. Ela amaldiçoou seu erro de julgamento sobre o clima canadense enquanto tirava as luvas e tentava desfazer o cinto do casaco novamente. Ela relaxou logo depois que seu corpo estava 2 quilos mais leve, e os poderes monstruosos do sistema de resfriamento central do aeroporto acariciaram suas extremidades expostas.

Ela verificou o relógio no pulso esquerdo, olhou de volta para o carrossel de bagagens de onde os viajantes pegariam suas malas e decidiu que esperaria. Claro, ela não tinha bagagem além da de mão, mas Arthur havia despachado várias caixas, e ele sem dúvida apareceria em breve para coletá-las. E ela esperaria por ele.

Eles tinham muito a discutir durante o voo. Arthur havia se aproximado do parceiro de assento dela, e depois de algumas apresentações e brincadeiras das quais Naomi conseguiu se desvencilhar mentalmente, houve uma grande risada entre os dois, e Arthur logo estava sentado ao lado dela. Sorrindo como um macaco que havia ganhado uma banana. Naomi notou que ele era incomumente carismático para um lobisomem.

Os tópicos eram principalmente centrados em missões secretas. De quem e quando, ele não elaborou. Ela não acreditava em todas, mas suas histórias eram melhores do que qualquer coisa no sistema de entretenimento a bordo. Depois que ele se acalmou um pouco, ela conseguiu falar sobre si mesma e a escola. A ideia de que ela era uma professora o deixou absolutamente perplexo, e ele não conseguia parar de rir.

"Algo engraçado?" ela perguntou com as sobrancelhas levantadas.

"Sim! Você. Uma professora lobisomem. Eu nem consigo sonhar com uma coisa dessas." ele riu.

Agora, 30 minutos haviam se passado desde o pouso, e ele não estava em lugar nenhum. Enquanto Naomi liderava a enxurrada de passageiros desembarcando, ele havia ficado para trás e desaparecido. Naomi considerou ir embora imediatamente, afinal, eles ainda se encontrariam no local. Mas ela se obrigou a esperar mais 10 minutos. Como havia feito nos 10 minutos anteriores.

"Holt?" Uma garota com uma cabeça cheia de cabelos cacheados que paravam nos ombros estava a poucos metros de Naomi. Ela não estava lá um segundo atrás, e Naomi não havia sentido nenhuma alma se aproximando.

"Você é Naomi Holt? Seria uma droga se não fosse. Isso significa que eu teria que te matar agora por mencionar isso. Eu tento não cometer erros, mas às vezes é tipo, o que você pode fazer? Então..." ela gesticulou com as mãos esperando uma resposta.

Naomi parecia indiferente. Ela não gostou que o bando Moonlight tivesse enviado um emissário tão cedo.

A garota estalou os dedos. Ela permaneceu estranhamente imóvel enquanto falava de maneira desdenhosa, sem nem gesticular com as mãos, rosto ou pernas, como se quisesse evitar qualquer movimento desnecessário. Todo o seu traje era tão preto que era impossível dizer exatamente o que ela estava vestindo, e parecia sugar a luminosidade das janelas e das luzes do teto no saguão.

"Vamos, senhora Holt", disse a garota, com uma leve zombaria na voz.

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