Capítulo 2: Olhos do julgamento.

POV de Kane

Revisitei meu relógio, meu pé batendo com crescente frustração. A pesada mesa de carvalho estava cercada por Alfas, seus olhares afiados e expectantes. Meu pai estava na cabeceira, falando em seu tom autoritário sobre fronteiras e alianças. Tudo isso em que eu sabia que deveria estar focado, mas, honestamente, eu podia sentir a tensão na sala, e sabia que era em parte porque Knox estava ausente.

Ele deveria estar aqui há meia hora. Mudei de posição na cadeira, tentando ignorar a sensação incômoda dos olhares julgadores sobre mim. Esses Alfas se sentiam desrespeitados, e eu não podia culpá-los. Os olhares eram quase palpáveis.

"Kane, você está muito quieto," meu pai comentou, interrompendo meu fluxo de pensamentos.

"Apenas pensando na fronteira sul," murmurei, conseguindo esboçar um sorriso forçado. "Precisamos fortalecer nossas patrulhas lá." Eu sabia que minha voz soava fraca pelas mentiras que se prendiam na minha garganta.

"Fortalecer patrulhas? Precisamos de unidade primeiro. A ausência do seu irmão não fala bem da liderança da sua alcateia." Um Alfa do outro lado da mesa, Alfa Scott, resmungou. Cerrei o maxilar, tentando manter a compostura.

"Knox está a caminho," respondi, esperando que soasse muito mais confiante do que eu me sentia. Enquanto o pânico corroía meu estômago, tentei alcançar Knox através do link mental da alcateia novamente, mas fui recebido com um bloqueio.

"Bloqueado, de novo." Rolo, meu lobo, resmungou com desdém.

"Maldito, Knox, onde você está?" sussurrei internamente.

"Kane, temos certeza de que seu irmão entende a importância desta reunião?" Alfa Matteo se inclinou para frente, seus olhos se estreitando. Ele era conhecido por não poupar ninguém quando se tratava de outros lobos machos, e se eu fosse honesto comigo mesmo, ele me intimidava pra caramba.

"Covarde." Rolo riu como se eu não pudesse sentir seu medo interno.

"Claro que entende," retruquei, embora a dúvida me corroesse. "Ele só está atrasado." Blefei, nunca querendo que o chão me engolisse mais do que naquele momento.

"Bem, pelo que ouvi sobre seu irmão, ele não parece levar nada a sério." Matteo comentou, seu tom carregado de zombaria. Engoli o rosnado que se formou na minha garganta porque, por mais que eu quisesse revidar, sabia que não nos faria bem. Precisávamos do Alfa Matteo e seus renegados.

"Além disso, ele não está errado." Rolo comentou, como se isso fosse útil agora. Levantei a mão para esfregar os olhos e aliviar a enxaqueca que sentia se formando, mas parei quando palavras filtraram em meus ouvidos. Palavras que fizeram minha enxaqueca pulsar mais forte e minha visão embaçar com a raiva que sentia rasgando meu peito.

"Menos ainda o vínculo de companheiro," Alfa Scott cantou, meus olhos se voltaram para os dele, recusando-se a quebrar o olhar furioso que o prendeu até que ele me ofereceu um aceno arrependido e abaixou os olhos. Como o desperdício de espaço que todos sabíamos que ele era.

"Basta." Meu pai interveio, seu tom firme. "Precisamos nos concentrar. Este não é o momento. Se Knox disse que planejava comparecer, deve haver uma boa razão para ele estar atrasado. Kane e Knox assumirão em breve. Eles sabem a importância dessas reuniões e dos relacionamentos que formarão a partir delas. Agora há muito que todos precisamos resolver. Então, vamos seguir em frente."

"Devemos discutir uma aliança com as alcateias do norte. Seus territórios fazem fronteira com os nossos, uma aliança forte poderia beneficiar ambos os lados." Assenti, embora minha mente ainda estivesse correndo com a fúria acumulada. Felizmente para o Alfa Scott, eu sabia que meu pai estava certo e precisava mostrar a esses Alfas que estava investido nessa aliança, não insultando ou brigando com eles a cada pequena provocação que me lançavam.

"Como você propõe que os convençamos? Eles têm sido bastante reservados." Alfa Scott levantou uma sobrancelha, sua pergunta justa, mas ainda assim destinada a me desestabilizar.

"Mostrando força e conformidade," eu disse, lançando um olhar significativo para a cadeira vazia onde Knox deveria estar. "Uma frente unida, comunicação clara e respeito mútuo." A sala ficou em silêncio, os Alfas considerando minhas palavras. Finalmente, Alfa Matteo falou novamente.

"Ações falam mais alto que palavras, Kane. Você precisará provar essa suposta unidade." Meu pai me deu um aceno sutil, sem dúvida, para acalmar meu temperamento que parecia estar borbulhando logo abaixo da superfície.

"Kane está certo. Vamos demonstrar nossa força e 'unidade'," declarou meu pai, seus olhos fixos duramente em Alfa Matteo. "E quando Knox chegar, tenho certeza de que ele dissipará essas dúvidas que entendo que você está tendo. Esta reunião é apenas o começo da nossa jornada, senhores." Tentei me concentrar na discussão, mas meus pensamentos continuavam a vagar para Knox. Sua ausência era um problema gritante. Enviei outra tentativa desesperada através do link mental.

"Knox, onde diabos você está?" rosnei, mas novamente caiu em ouvidos surdos.

"Ainda nada." Rolo resmungou. Forcei-me a participar da conversa, mas a preocupação persistente não me deixava. Knox era mais do que meu irmão; ele era meu parceiro na liderança desta alcateia. Não podemos cometer erros agora. Não quando já estávamos em terreno instável por nosso 'tratamento' de nossa companheira Charlotte e os filhotes que ela carregava. Nossos filhotes.

À medida que a reunião se arrastava, senti o peso do escrutínio dos Alfas. Isso não era apenas sobre alianças e fronteiras; era sobre provar que Knox e eu podíamos liderar. E agora, Knox estava tornando isso incrivelmente difícil.

Nosso pai encerrou a reunião, e os Alfas começaram a sair, suas expressões uma mistura de ceticismo e resignação. Fiquei para trás, esperando até que fosse apenas eu e meu pai.

"Kane," ele chamou, sua voz mais suave agora. "Você foi bem. Mas precisamos de Knox aqui. Esse tipo de ausência não pode acontecer novamente. Eu sei que ele sente falta de Charlotte e dos filhotes."

"Ambos sentimos." Eu disse asperamente, não querendo ter essa conversa novamente. Sentindo minha mudança de humor, suas sobrancelhas se franziram e seus lábios se estreitaram enquanto ele me olhava cautelosamente.

"O que quero dizer..." Ele se corrigiu. "...É que sei que ele lidou mal com a mudança de Charlotte, mas se ele quer garantir que esses bebês estejam seguros quando ela voltar, ele precisa..."

"Eu sei." Respondi, esfregando as têmporas, as últimas semanas me alcançando. "Vou encontrá-lo. Eu prometo." Suspirei mais porque sabia exatamente onde o encontraria.

"Confio em você, filho. Todos nós confiamos. Apenas certifique-se de que seu irmão entenda o que está em jogo." Meu pai ofereceu um sorriso tão fraco quanto o meu enquanto colocava uma mão no meu ombro.

"Eu vou. Ele não nos decepcionará novamente." Assenti, sentindo o peso de suas palavras, embora, ao contrário dele, eu soubesse que Charlotte não voltaria tão cedo. Ao sair da sala, tentei contatar meu irmão rebelde uma última vez pelo link mental.

"Knox, é melhor você ter uma boa razão para isso." Rosnei com raiva.

Silêncio, mas então, vagamente, senti uma conexão.

"Desculpe, irmão, estraguei tudo de novo?" Knox perguntou em minha mente. Fechei os olhos com frustração, seu tom sozinho era suficiente para sugerir que ele nunca planejou comparecer à maldita reunião.

"Fique aí. Estou a caminho." Rosnei enquanto soltava um suspiro que não percebi que estava segurando. Pelo menos ele estava vivo. O que estava se tornando uma preocupação diária, se eu fosse honesto comigo mesmo.

Eu só esperava conseguir colocar algum juízo nele, antes que fosse tarde demais!

"Ele precisa estar sóbrio para isso, e ele não tem estado sóbrio tempo suficiente para fazer xixi em um pote, muito menos ter uma conversa séria desde que Charlotte foi embora." Rolo me lembrou amargamente.

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