2. Me entenda, mãe.
Eve
Depois do incidente, Eve não conseguia pensar direito. Sua mente e corpo estavam um caos. Ela envolveu seu corpo delicado no casaco que seu salvador havia jogado sobre sua forma seminu anteriormente e correu de volta para casa. Eve fez o melhor que pôde para ser silenciosa, entrando na casa como uma criminosa, temendo a ideia de acordar seus pais. Nunca, em toda a sua vida, ela havia tomado um banho por tanto tempo. A essa altura, Eve não se importava com a água gelada congelando sua pele. Ela continuava esfregando e arranhando violentamente, tentando remover qualquer vestígio dos toques repugnantes que sentiu em sua pele mais cedo. Quando pensou que não havia mais lágrimas para chorar, mais lágrimas vieram, arrastando sua consciência para um desespero mais profundo. Eve se sentia suja, violada, quebrada até o âmago. Ela estava acostumada a viver em uma cidade bastante pacífica, mesmo com um número maior de metamorfos do que humanos. Até aquele dia, ninguém jamais havia tentado tocá-la ou machucá-la de qualquer forma, desde que ela seguisse a lei. Uma leve batida soou na porta do banheiro, assustando Eve.
"Q-quem está aí?" Sua garganta estava dolorida; ela não tinha certeza se era pelas incontáveis horas de choro ou pela água gelada escorrendo sobre ela que era a causa. Não importava, não mais.
"É a mamãe. Evangeline, aconteceu alguma coisa? Você poderia sair, por favor?" Sua mãe parecia genuinamente preocupada, fazendo Eve se sentir ainda pior. Ela correu para desligar a água, envolvendo-se em uma toalha, perguntando-se por que acabou em tal situação. O que ela havia feito de errado? Eve calçou seus chinelos e destrancou a porta do banheiro, abrindo-a levemente, escondendo-se atrás dela.
"Evangeline, querida. Você está aí há horas; estamos preocupados com você. Por favor, fale comigo," sua mãe implorou, suas palavras carregadas de desespero. Eve respirou fundo e abriu a porta completamente. Como sempre, sua mãe tinha olheiras. Mas desta vez, uma expressão preocupada substituía seu habitual franzir de testa. A mãe de Eve observou cuidadosamente sua filha, ofegando ao ver a cena à sua frente. O corpo da jovem estava coberto de inúmeros arranhões, profundos o suficiente para sangrar. Olhos inchados, quase totalmente vermelhos. Sua mãe a pegou pela mão e a levou para o quarto, sentando-se na cama.
"Evangeline, o que você fez? É assim que você anuncia que não vai participar da cerimônia? Está mostrando sua rebeldia agora?" A mãe de Eve mordeu o lábio, mal conseguindo conter as lágrimas. Enquanto seus olhos contavam silenciosamente as marcas feias no corpo de sua filha, ela sentia a raiva crescendo dentro dela. Ela estava confusa sobre por que sua filha agia dessa maneira e furiosa pelas consequências que poderiam vir.
"Mãe, não é o que você está pensando," Eve sussurrou, com a cabeça baixa. Ela mordiscava as unhas, tentando decidir se seria melhor manter a boca fechada e deixar sua mãe pensar o que quisesse, ou contar o que aconteceu no caminho de volta para casa.
"Não é o que eu estou pensando? Evangeline, você está em seu juízo perfeito? Não é o que eu estou pensando! Amanhã é o dia mais importante da sua vida, e você ARRUINOU seu corpo! Eu sabia que você não queria ir; eu sabia, tá bom! Mas isso-" disse a mãe, gesticulando para o corpo dela, "-Isso é demais! Como você pôde? A vergonha! A humilhação! O que os outros vão pensar? Como eu vou olhar nos olhos de todos quando você está assim?" A mãe de Eve não se conteve mais. A essa altura, ela estava gritando, deixando as lágrimas escorrerem pelo rosto. Seu corpo tremia de raiva.
"Mãe, acalme-se, isso realmente não tem nada a ver com a cerimônia". Eve quase caiu de joelhos. Ela nunca tinha visto sua mãe tão zangada, ainda mais zangada com ela. Tudo o que ela queria era explicar, já decidindo contar a verdade. Ela não podia deixar sua mãe pensar tão mal dela.
"Estou tão cansada da sua atitude, mocinha!" A mãe de Eve gritou, levantando a mão acima da cabeça, inclinando-a para trás.
Os olhos de Eve se arregalaram. Sua mãe estava prestes a... Eve não conseguiu terminar seu próprio pensamento quando a palma da mão de sua mãe colidiu com sua bochecha. O som do tapa ecoou pelo quarto de Eve; ambas as mulheres se encararam com expressões de olhos arregalados. Eve pensou que sua mãe pediria desculpas, talvez ela entendesse o tamanho do erro que havia cometido, mas isso não aconteceu. Ela agiu como se nada estivesse errado. Eve colocou a palma da mão sobre a bochecha ardente, ainda em choque, incapaz de aceitar que sua mãe amorosa acabara de lhe dar um tapa no rosto.
"Mãe..." Eve sussurrou, desviando o olhar.
"Você mereceu isso, e ponto final. Evangeline, você podia prever isso depois de arruinar seu corpo um dia antes da cerimônia de acasalamento. Estou tão decepcionada com você. Minha própria filha!" Ela balançou a cabeça em desaprovação, levantou-se lentamente da cama e foi em direção à porta.
"Eu vou explicar, por favor, não me odeie!" Eve implorou, desesperada pelo apoio de sua mãe. Ela precisava sentir seus braços quentes e gentis ao seu redor.
"Explicar o quê? Você vai confessar que fez isso de propósito? Evangeline, é hora de crescer. Todo mundo passa pela cerimônia de acasalamento na sua idade, ninguém morreu por participar, e eu nunca vi um casal se separar depois. Não é tão ruim quanto você pensa. Se ao menos você tentasse aceitar as coisas como elas são, não teríamos esses problemas," sua mãe suspirou, voltando para a cama e sentando-se ao lado dela. Eve soluçou, incapaz de conter mais as lágrimas. Foi demais para ela hoje. Ela não é forte, e agora - isso é aceitável. Às vezes as pessoas quebram.
"Eu quase fui estuprada," Eve finalmente confessou. Ela apertou as coxas mais juntas, quase sentindo os toques sujos e os homens que se posicionavam entre suas pernas mais cedo.
"Você quase o quê?!"
"Mãe, por favor, estou falando sério agora. Isso não é uma piada!" Eve elevou um pouco o tom de voz, seu rosto expressando uma mistura de determinação e medo. Ela pode ser descuidada por natureza, mas não era mentirosa.
"Ele... Ele... Você sabe. Ele terminou o que começou?" Sua mãe engoliu em seco, evitando qualquer contato visual com a filha.
"Não. Não foi uma pessoa, eram dois metamorfos, e eles falaram sobre mais dois. Eles quase conseguiram, mas alguém me salvou. Eu não sei quem ele era ou de onde veio, mas ele me salvou antes que fizessem qualquer coisa além de me tocar," Eve desabou em lágrimas. Por algum motivo, ela se sentia envergonhada. A garota sabia que não era culpa dela; ela não se vestia para impressionar; ela não tinha nenhuma experiência com homens. A verdade é que o único homem com quem ela podia falar era seu pai. Eve nunca teve um namorado ou sequer um beijo. Aos vinte e um anos, Eve era a mulher mais entediante que o mundo já viu.
"Ok, bom. Não, não é bom. E se alguém descobrir? Você pode imaginar o tamanho da mancha que isso vai deixar na sua reputação? Oh Deus, isso é um desastre," sua mãe levantou-se e começou a andar pelo quarto ansiosamente, murmurando algo para si mesma.
"Você está brincando, né? Eu quase fui estuprada por criaturas contra as quais eu nunca poderia lutar ou fugir, e tudo o que você se importa é com a reputação?! Como você pode ser tão superficial?!" A frustração cresceu dentro de Eve. A essa altura, ela precisava que sua mãe fosse uma mãe para apoiá-la, mesmo que um pouco. No entanto, em vez disso, ela recebe uma mulher preocupada com o que a sociedade pensa.
"É disso que estou falando, eles quase conseguiram, mas só porque não terminaram o trabalho - não significa que as pessoas não vão falar. Quem, em sã consciência, vai escolher você como noiva agora? Evangeline, você tem que manter a boca fechada ou passar o resto da vida na vergonha, sem nenhuma oportunidade de encontrar um parceiro e ter uma família," sua mãe disse, tentando argumentar com a filha, pensando que certamente a criança entenderia de onde ela estava vindo.
"Eu acabei de passar horas tentando tirar a sensação do toque deles da minha pele. Você não tem ideia do que eu tive que passar - a impotência, a dor e o medo que senti. Eu pensei que ia morrer. E você se importa com status social. Inacreditável..."
"Vou tentar dormir um pouco. Por favor, feche a porta ao sair." Eve suspirou em derrota. Ela nunca pensou que seria incompreendida por sua mãe. Especialmente agora, depois de contar o que aconteceu.
"Eve..." sua mãe tentou falar novamente.
"Deixe-me em paz. Eu vou comparecer à cerimônia na hora certa, não se preocupe com isso." Dito isso, Eve se enfiou debaixo do cobertor e virou as costas para sua mãe, chorando silenciosamente até dormir.






























































































