# Capítulo 5

Ponto de Vista da Kira

Acordei com a ardência aguda do antisséptico queimando minhas narinas. Minhas pálpebras pareciam pesadas como pedras, e abri-las exigiu cada gota de força que me restava. A luz do sol cortava através de cortinas desconhecidas, fazendo minha cabeça latejar a cada pulsação do meu coração.

"Você está acordada. Que bom."

Lucas Bennett estava ao lado da cama, seus dedos pressionados contra meu pulso enquanto verificava minha pulsação. Seu cabelo escuro estava despenteado, com mechas apontando para cima como se ele tivesse passado a noite toda passando as mãos por ele. As olheiras embaixo dos olhos me diziam que provavelmente tinha.

"Onde—" A palavra saiu da minha garganta como vidro quebrado.

"Na minha casa," ele disse, soltando gentilmente meu pulso. Seu distanciamento clínico não conseguia disfarçar completamente a preocupação em seus olhos. "Eu te encontrei desmaiada perto da borda da floresta na noite passada. Você estava quase afogada e com febre alta."

Tentei me sentar, mas o quarto girou violentamente ao meu redor. Deus, estou tão fraca. Quando fiquei tão patética assim?

"Meu assistente beta ajudou a te trocar de roupa," Lucas explicou, interpretando corretamente meu olhar de pânico para a camiseta desconhecida que eu vestia. "Suas roupas molhadas teriam piorado sua condição."

"Obrigada," consegui dizer, com o rosto queimando de vergonha. "Mas eu devo ir—"

Quando tentei me levantar novamente, minhas pernas cederam como papel molhado. Lucas me segurou antes que eu caísse no chão, seus braços surpreendentemente fortes para um lobo médico. Enquanto ele me estabilizava, seu cheiro me envolveu—capim-limão e linho limpo, com um fundo que fez meu coração se contorcer dolorosamente. Ele cheira como Rocco. Deus, por que ele tem que cheirar como ele? Devem compartilhar alguma ancestralidade distante.

"A síndrome está progredindo mais rápido do que eu esperava," Lucas disse, seu tom profissional não conseguindo esconder totalmente a preocupação estampada em seu rosto. "Você precisa começar imediatamente o regime de tratamento contra o veneno. A medicina moderna dos lobisomens avançou—embora a Síndrome de Bondbreak raramente tenha casos de recuperação completa, você precisa ter fé em si mesma."

Deixei que ele me ajudasse a voltar para a cama, cansada demais para lutar. "Eu era uma pesquisadora médica de lobisomens antes de me casar com Rocco," lembrei a ele, a frustração crescendo no meu peito. "Eu conheço os benefícios e desvantagens dos tratamentos."

Lucas assentiu solenemente. "Então você sabe o que está enfrentando."

O peso de suas palavras esmagou algo dentro de mim. Lágrimas arderam atrás dos meus olhos enquanto a realidade da minha situação me atingia novamente. "Eu não aguento mais," sussurrei, a voz falhando. "Eu posso sentir minha loba desaparecendo... ela está escapando, e eu não consigo segurá-la."

"Há alguém por quem você ainda se importa?" Lucas perguntou gentilmente. "Alguém por quem vale a pena lutar?"

Minha mente piscou para meu pai, deitado inconsciente na cama do hospital, tubos e fios mantendo-o preso à vida. As contas médicas se acumulando, cada uma outro prego no caixão da nossa família. "Só meu pai," sussurrei, cada palavra como um caco de vidro na garganta.

Lucas assentiu. "Então lute por ele."

Lute por ele. Uma diretiva tão simples, mas parecia impossível. Meu peito apertou até que eu mal conseguia respirar, a pressão familiar se acumulando atrás do meu esterno como uma tempestade prestes a estourar.

"Como?" perguntei, as lágrimas escorrendo. "Como eu luto quando tudo está desmoronando? Quando mal consigo respirar alguns dias? Quando o homem que eu amava—" Minha voz falhou, incapaz de terminar o pensamento.

"Um passo de cada vez," Lucas disse suavemente. "Começando por passar por esta noite."

Esta noite. A palavra ecoou na minha mente como um sino de morte. Meia-noite no Centro Moonbreak. Meu casamento com Rocco terminaria oficialmente sob a lua cheia, como era nosso costume. E ele me prometeu dinheiro pelo nosso divórcio—dinheiro que poderia salvar meu pai.

"Eu te levo," Lucas ofereceu, a preocupação aprofundando as linhas ao redor dos seus olhos.

Balancei a cabeça, o movimento enviando punhaladas de dor pelas minhas têmporas. "Não, eu preciso... eu preciso fazer isso sozinha." Tirei meu telefone com dedos trêmulos. "Vou chamar um táxi."


A lua cheia pairava pesada no céu, inchada e acusadora enquanto o táxi parava no Centro Moonbreak. Segundo a tradição, os divórcios de lobos só podiam ser processados entre meia-noite e 1 da manhã, quando a deusa da lua podia testemunhar o rompimento dos laços. Embora o vínculo entre mim e Rocco já estivesse fraturado além do reparo, ainda estávamos legalmente casados se não passássemos pelo processo.

E, mais importante, eu precisava descobrir por que ele fez tudo isso comigo. Por que eu? O que eu fiz para merecer isso?

Paguei o motorista e saí do carro, meus joelhos ameaçando ceder a cada passo. O ar da noite parecia pesado demais, pressionando meus ombros como um peso físico enquanto eu me aproximava do antigo prédio de pedra.

E lá estava ele, esperando do lado de fora—Rocco Blackwood, perfeitamente vestido de preto, seu rosto uma máscara de indiferença fria.

"Rocco," provei o nome como bile. "Você orquestrou a queda da família Silverstone?"

O rosto de Rocco permaneceu impassível à luz do luar, belo e terrível como uma estátua esculpida em gelo. "Sim. Cada passo foi cuidadosamente planejado."

Antes que eu pudesse pensar, minha mão se ergueu, acertando um tapa forte em seu rosto. O estalo ecoou no ar da noite, alto o suficiente para me fazer estremecer.

"Seu desgraçado, Rocco Blackwood!"

Ele segurou meu pulso antes que eu pudesse golpear novamente, seu aperto dolorosamente apertado. "Dói?" ele perguntou suavemente. "Não é nada comparado à dor de um coração partido, não é?"

Eu arranquei meu braço, minha pele queimando onde ele havia me tocado. "Por quê? Por que minha família? Por que eu?"

Seus olhos brilharam perigosamente na escuridão, como um predador observando sua presa ferida. "Por que você não pergunta ao seu pai o que ele fez à minha irmã?"

"Sua irmã?" repeti, a confusão cortando minha raiva. "Lyra? O que ela tem a ver com meu pai?"

"Tudo," ele rosnou, um lampejo de emoção genuína rompendo sua fachada controlada. Por um momento, vislumbrei uma angústia crua sob o gelo.

"Alguma vez foi real?" perguntei, odiando o quão quebrada minha voz soava. "Você alguma vez realmente me marcou como sua?"

"Nunca," ele disse friamente. "Desde o começo, você foi apenas uma peça na minha vingança. Nada mais."

Cada palavra me atingia como uma adaga de prata. A dor no meu peito se intensificou até eu mal conseguir ficar de pé. "Você me odeia tanto assim?"

"Esta é a dívida de sangue que a família Silverstone deve aos Blackwoods," ele disse friamente. "Culpe a si mesma por ser filha de Derek Silverstone."

"O que meu pai fez?" exigi, o desespero rasgando minha garganta. "Me conte!"

"Ele fez Lyra sofrer," Rocco disse, sua voz de repente carregada de emoção. "E eu queria que você sofresse da mesma maneira."

"Me diga o que aconteceu com Lyra," implorei. "O que meu pai fez?"

A expressão de Rocco endureceu novamente, o breve vislumbre de humanidade desaparecendo atrás de sua máscara. "Não. Eu quero que você viva na dor, sem nunca saber toda a verdade." Seus olhos brilharam à luz da lua, predatórios e implacáveis. "Eu quero que você saiba que cada minuto que você permanece ligada a mim é mais um minuto que eu estou destruindo o que resta de você."

"Você...não pode fazer isso," eu ofeguei, tentando e falhando em me levantar.

"Eu posso. E estou fazendo." Ele se levantou, endireitando seu terno impecável. "E sabe de uma coisa? O divórcio seria misericórdia, Kira. E eu não estou me sentindo misericordioso."

Ele pegou seu telefone, tocando a tela uma vez. Em segundos, faróis varreram o estacionamento enquanto um carro preto elegante se aproximava.

"Alfa." O motorista—Dominic—acenou respeitosamente enquanto abria a porta traseira. Seus olhos piscaram para mim no chão, depois rapidamente se afastaram, seu rosto cuidadosamente inexpressivo. O leal Beta não questionaria seu Alfa, mesmo com a Luna quase morrendo.

"Acredite. Eu vou fazer da sua vida um inferno," Rocco disse, sem se dar ao trabalho de olhar para trás enquanto entrava no carro.

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