Capítulo 8 Interrogatório brutal

POV de Valencia

Ouvindo os passos se afastando, soltei um longo suspiro, só então percebendo que estava prendendo a respiração o tempo todo.

O que acabou de acontecer? Eu sabia que alguns homens se aproveitavam de seus escravos, mas... isso não foi bem a mesma coisa, foi? O que Logan fez parecia quase impulsivo, como se tivesse agido por puro capricho.

Afastei o cabelo do rosto, tentando reunir meus pensamentos dispersos. O que isso significava? Uma vaga inquietação sobre o futuro se instalou em mim.

Olhei ao redor do quarto. Por que Logan não tinha atendentes? Ele parecia ser o único sem servos à sua espera. Será que ele veio sozinho?

Embora o quarto não estivesse desorganizado, mostrava sinais de que os servos do castelo ainda o mantinham. O que eu deveria fazer agora? Não tinha ideia de quando Logan retornaria. Lembrei-me de sua ordem para me limpar.

Meus olhos caíram na banheira. O vapor ainda subia da água. Eu realmente poderia usá-la? Me aproximei, olhando para as ervas ainda flutuando na superfície.

Rapidamente tirei meu vestido rasgado e entrei na banheira antes que pudesse mudar de ideia. O pensamento de me lavar na mesma água que ele usou fez minhas bochechas corarem intensamente. Ainda podia sentir a sensação dos dedos dele dentro de mim. Ninguém nunca tinha me tocado assim antes. Lembrei-me de ser chicoteada várias vezes por Luna Kestrel, simplesmente por limpar o quarto de Alpha Marcus. Aprendi a ficar longe dos homens—era a única forma de me proteger.

Com medo de que alguém pudesse aparecer, me esfreguei rapidamente com um pano, tentando lavar anos de sujeira e sangue. A água ficou marrom turva. Quando foi a última vez que tomei um banho de verdade? Não conseguia lembrar.

Depois de sair, torci meu vestido na água da banheira. O tecido estava tão gasto que mal se mantinha unido, manchado com anos de abuso. Algumas das manchas de sangue—tanto minhas quanto de outros—nunca sairiam, não importa o quanto eu esfregasse. Mesmo limpo, parecia um trapo. Suspirei sem esperança.

Estava encharcado, mas era tudo o que eu tinha. Vesti-o mesmo assim, o tecido molhado grudando desconfortavelmente na minha pele. Pelo menos meu calor corporal iria secá-lo eventualmente.

Ainda estava ajustando o vestido quando ouvi—o som inconfundível de passos pesados no corredor. Então a porta se abriu com força.

Meu coração parou.

Elijah estava na entrada, seu rosto marcado por cicatrizes torcido em um sorriso feio. Atrás dele estava outro homem que eu não reconheci—mais baixo, mas mais robusto, com olhos frios que me examinaram com interesse descarado.

"Muito bem," Elijah disse, sua voz carregada de veneno. "Eu sabia. Eu sabia que você ainda estaria aqui."

O medo tomou conta de mim. Dei um passo instintivo para trás. "Saia. O Alpha Logan vai—"

"Alpha Logan?" Elijah riu com desdém. "É exatamente sobre isso que precisamos falar, Valencia."

O estranho entrou na sala, bloqueando meu caminho até a porta. Suas roupas indicavam que ele era de fora de Mistmarsh.

"O que vocês querem?" Consegui dizer, minha voz mal se mantendo firme.

"Respostas," disse o estranho simplesmente. Seus olhos nunca deixaram meu rosto, me estudando com uma intensidade que fez minha pele arrepiar.

Elijah avançou antes que eu pudesse reagir. Sua mão se fechou sobre minha boca, cortando meu grito. Lutei, tentando morder sua palma, tentando chutar, mas ele era muito forte. O estranho agarrou meus braços, e juntos eles me arrastaram em direção à porta.

Meus pés lutavam para encontrar apoio no chão de pedra enquanto o pânico me consumia. Tentei gritar novamente, mas a mão de Elijah pressionava mais forte, tornando impossível respirar direito.

Eles me arrastaram pelo corredor, movendo-se rapidamente pelos corredores mais escuros do castelo. Os servos que nos viam rapidamente desviavam o olhar—ninguém queria se envolver. Desceram um lance de escadas, depois outro, e mais um terceiro.

Finalmente, me empurraram através de uma porta de madeira para uma pequena câmara de pedra. O impacto me fez cair no chão sujo. A dor explodiu nos meus joelhos e palmas quando atingi o chão.

Antes que pudesse me afastar, mãos ásperas me agarraram e me levantaram, me jogando contra a parede.

O rosto do estranho estava a poucos centímetros do meu agora, seu hálito quente e fétido. "Então," ele disse suavemente. "Vamos ter uma conversa adequada."

Tentei falar, mas Elijah me acertou no rosto antes que eu pudesse formar palavras. Minha cabeça virou para o lado, e eu senti o gosto de cobre.

"Precisamos confirmar algo," o estranho continuou. Ele ergueu a mão e segurou meu queixo, forçando minha cabeça para trás. "Olhe para mim."

"O que você quer?" eu arquejei. "Eu não sei de nada!"

"Não se mexa!" Elijah rosnou, pressionando minha cabeça dolorosamente contra a parede de pedra.

O estranho puxou uma pequena tocha do cinto, trazendo a chama perto do meu rosto. Perto demais. O calor me fez estremecer, mas o aperto de Elijah me manteve imóvel.

Os olhos do estranho se arregalaram quando a luz do fogo iluminou meu rosto. "Roxos," ele sussurrou. "Eles realmente são roxos..."

O terror me inundou. "Por favor, apenas me deixe ir!"

O estranho deu um passo para trás, uma excitação estranha cintilando em suas feições. Ele se virou para Elijah e acenou lentamente com a cabeça. "É ela. Os olhos roxos da lenda."

"Eu te disse que essa vadia era especial!" Elijah exclamou. "O Alpha Logan não salvaria uma inútil sem lobo à toa!"

Minha mente girava. Lenda? Que lenda? O que meus olhos tinham a ver com isso?

O estranho se virou para mim, sua expressão mudando para algo calculista e frio. "Agora. Responda minhas perguntas com cuidado. Quem são seus pais? De onde você vem?"

"Eu—eu sou uma desonrada," gaguejei. "Meus pais morreram. Eu não sei do que você está falando!"

O punho de Elijah bateu no meu estômago. O ar explodiu dos meus pulmões, e eu me dobrei, ofegante. Só o aperto dele no meu braço me manteve de pé.

"Não minta," disse o estranho, sua voz ainda irritantemente calma. "Olhos roxos são extremamente raros. Você carrega uma linhagem especial. Diga-nos—você é de Aldermer? A que família você pertence?"

Minha visão ficou turva com a dor e a falta de oxigênio. "Eu não sei! Eu juro que não sei! Eu sou apenas uma escrava!"

Elijah puxou minha cabeça para trás pelos cabelos. "Como Logan descobriu seu segredo? O que você contou para ele?"

"Nada!" Lágrimas escorriam pelo meu rosto. "Não há segredo! Ele só... ele só me salvou..."

O punho do estranho conectou-se ao meu rosto. Uma dor ardente explodiu no meu osso da bochecha, e eu senti algo rachar. Sangue encheu minha boca novamente.

"Talvez ela realmente não saiba seu próprio valor," o estranho murmurou, me estudando como se eu fosse um espécime interessante. Ele se virou para Elijah. "Mas Logan sabe. Ele deve ter reconhecido a importância dos olhos dela."

A risada de Elijah foi cruel. "Então ela é a tal da lenda? A criança da profecia ou algo assim?"

O estranho acenou lentamente com a cabeça. "Provavelmente. Nosso Alpha precisa saber disso." Seus olhos frios voltaram para mim. "Você deve rezar para que Logan realmente se importe com você. Porque você é muito mais valiosa para nós do que imagina."

Ele se inclinou perto de Elijah, baixando a voz a um sussurro. Mas na pequena câmara, eu ainda podia ouvir fragmentos. "...traga ela de volta... nossa matilha... Elton vai querer..."

Meu coração se apertou de terror. Eles iam me levar.

"Não," eu arquejei. "Por favor, vocês não podem—"

O tapa de Elijah fez minha cabeça bater na parede. Estrelas explodiram na minha visão. A agonia queimava no meu peito, roubando o pouco de ar que eu tinha conseguido recuperar.

Eu não conseguia respirar. Não conseguia pensar. Só conseguia sentir a dor avassaladora irradiando do meu lado a cada tentativa desesperada de encher meus pulmões.

O estranho agarrou meu rosto, forçando-me a olhar para ele através dos meus olhos inchados. "Mais uma vez. De qual matilha você realmente é? Qual é sua linhagem?"

"Eu não sei," eu soluçava. "Eu não sei, eu não sei, eu não sei..."

Seu punho bateu no meu estômago novamente. Minha visão ficou cinza nas bordas.

Através da névoa de dor e medo, um pensamento cristalizou com terrível clareza: É assim que eu morro. Espancada até a morte no escuro.

O estranho levantou o punho novamente.

Então o mundo explodiu.

A porta não apenas se abriu—ela se desintegrou. Madeira se estilhaçou e voou pelo ar. Através da nuvem de poeira e destroços, uma figura estava na porta.

Alpha Logan.

Seu rosto estava completamente inexpressivo. Mas o ar ao seu redor parecia vibrar com uma raiva contida.

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