7. JOVEM SENHORA

Ele abre a porta e lá está o homem que veio à minha casa para trazer minha irmã de volta. Embora eu tente evitá-los, algo chama minha atenção, agora posso vê-lo mais claramente, cabelo loiro, mandíbula definida e olhos azuis como os meus. Seu corpo atlético me lembra de como me senti intimidada por ele em casa, mas seu olhar era diferente, um de pura malícia e autoridade.

"Senhor, desculpe incomodá-lo. Mas precisamos definir algo urgente sobre a cerimônia."

Seu olhar seguiu o meu, prestando atenção no Senhor, sem fazer contato visual. Algo que me lembra do aviso da governanta para não olhar o Senhor nos olhos. Mas eu o ignorei tantas vezes que mal consigo contar.

Baixei o olhar, desviando minha atenção para meus pés, calçados nos sapatos luxuosos que me foram disponibilizados. Apenas o toque suave das mãos do Senhor no meu queixo me faz levantar o rosto novamente para olhá-lo.

"Tenho algumas coisas para resolver," ele murmura, sua voz rouca ecoando no quarto. "Mas espere aqui. Trate meu quarto como se fosse seu, mocinha."

Eu aceno hesitante, sentindo uma mistura de ansiedade e curiosidade enquanto o observo se afastar. Seu pedido foi claro e eu não tinha escolha a não ser obedecer.

Assim que ele sai do quarto, meu corpo relaxa imediatamente, como se eu estivesse carregando um peso. O que eu fiz para acabar no quarto dele, será que estou tão curiosa para saber como é ser sua escrava?

Com passos lentos, comecei a explorar o quarto luxuoso que agora de alguma forma era meu. A decoração era surpreendentemente semelhante à do meu quarto, uma escolha que de alguma forma me fez sentir uma estranha sensação de familiaridade em meio a todo o desconhecido.

As paredes estavam cobertas por um papel de parede escuro e texturizado, lembrando madeira envelhecida. Velas dispostas em candelabros dourados iluminavam suavemente o quarto, criando uma atmosfera misteriosa. Um grande espelho com moldura dourada ocupava uma das paredes, refletindo a imagem de uma jovem que ainda tentava se adaptar a essa nova realidade.

A cama era majestosa, com lençóis de seda preta que contrastavam com o dourado do dossel. Havia almofadas decorativas cuidadosamente arrumadas sobre ela, criando um convite irresistível para deitar. Ao lado da cama, uma pequena mesa de cabeceira de ébano continha vários objetos, incluindo um livro antigo e uma rosa vermelha em um delicado vaso de porcelana.

Caminho em direção à enorme janela, admirando a vista lá fora, embora o tempo esteja nublado com o sol escondido nas nuvens, a vista ainda é magnífica. O que o homem loiro quer dizer com cerimônia? Tem a ver com seu status de Senhor? Ou uma cerimônia sangrenta?

Meu coração está batendo rápido, o medo está tomando conta de mim. Apoio minha mão na janela e levanto a outra, parando em frente ao meu peito. Começo a respirar calmamente para que meu coração pare de bater tão rápido de medo. Não tenho um minuto de paz; quando paro para pensar, estou novamente corroendo-me com o desconhecido. Onde fui parar, por que ele quer me fazer sua escrava, há tantas mulheres por aí, mais velhas e acredito que mais experientes do que eu.

Fecho os olhos, e imagens da minha irmã tomam conta da minha mente, como uma visão. Posso vê-la tão real, que estranho. Ela está triste, na casa da minha melhor amiga Martina.

As imagens se tornam distantes quando mãos tocam meu braço, um desconforto nessa área me tira do transe.

"Vejo que você se acomodou no quarto do Mestre." Sua voz soa familiar, eu me viro e vejo seus olhos azuis me encarando com certo desdém. Instintivamente, dou alguns passos para trás, afastando-me dele, enquanto me aproximo da porta do quarto. Minha voz sai áspera, cheia de desconfiança.

"O que você está fazendo aqui? Não deveria estar com seu mestre?"

Ele se vira para seguir meus passos, cruzando os braços à altura do peito e me olhando friamente. "Ele resolveu tudo, seja lá o que for. Pediu para ver se você precisava de algo, já que Beatrice teve que sair para cuidar dos detalhes da cerimônia para ele."

Meu corpo esbarra inconscientemente na porta, fazendo-me perceber que eu ainda estava recuando, deixando-me presa naquele quarto com ele.

"Eu não preciso de nada de você." Minha voz sai trêmula e cheia de nervosismo.

Um sorriso torto aparece em seus lábios enquanto ele se aproxima de mim, e a sensação de estar presa se intensifica. Ele responde com uma insinuação que me deixa desconfortável. "Talvez você precise, só não sabe ainda."

Antes que a proximidade desconfortável do homem pudesse se intensificar, virei rapidamente e abri a porta para encontrar o Senhor do lado de fora. Ele me olhou, visivelmente confuso com minha pressa em sair do quarto. No entanto, logo ficou sério e cerrou os punhos, fazendo suas veias saltarem.

"O que você estava fazendo, Zion?" Sua voz soou autoritária, rouca e profunda, e uma tensão imediata encheu o ar. "Deixei claro que era apenas para verificar se ela precisava de algo."

Zion, visivelmente desconfortável com a situação, gaguejou uma resposta.

"Eu estava apenas seguindo ordens, mestre. Ela parecia nervosa, então pensei em dar uma olhada."

"Se precisar de algo, mocinha, não hesite em pedir a Beatrice. Ela voltará em breve." Seu tom de voz era muito mais calmo quando se dirigiu a mim, mas seu olhar permaneceu fixo em Zion, como se buscasse uma explicação.

Assim que a porta se fechou abruptamente, me fazendo pular, um arrepio percorreu minha espinha. Instintivamente, abracei meu próprio corpo, como se buscasse alguma forma de proteção ou conforto naquela situação desconfortável. Ele ficou em silêncio por um momento, olhando para mim intensamente com seus olhos.

"Ele te tocou, mocinha?" Sua voz calma me faz olhar em seus olhos, tentando entender sua súbita mudança de humor. "Você parecia com pressa de sair daqui."

Meus braços caem ao meu lado, mantendo-me a alguns centímetros de distância de seu corpo. Pelo menos assim posso me concentrar nas coisas, pois sou facilmente levada por seus modos.

"Não, ele não me tocou." Minha voz soou firme, mas ao mesmo tempo revelou um traço de incerteza. "Por que todos o chamam de Mestre ou Senhor?" Minha curiosidade superou minha prudência e, surpreendentemente, ele não pareceu ofendido pela minha pergunta. Ele se afastou de mim e sentou-se em uma poltrona perto da lareira.

As chamas crepitavam enquanto ele as acendia, espalhando uma sensação aconchegante por todo o quarto. Só naquele momento percebi que estava com frio. A conversa estava se tornando menos tensa, e minha mente começava a processar melhor a estranha situação em que me encontrava.

"Eles me chamam assim por respeito e formalidade." Ele respondeu, desviando os olhos dos meus por um momento. Ele apoiou os cotovelos nos braços da poltrona, revelando um anel com um brasão que reconheci dos botões nas roupas da governanta e de Zion. "Mas meu nome é Alaric Blackwood. E você, senhorita, qual é o seu nome?"

Esse interesse em saber meu nome me incomoda. Posso revelar meu nome a ele? Ele não sabe o nome da minha irmã? Afinal, é ela quem deveria estar aqui.

"Nyra... meu nome é Nyra." Minha voz sai rapidamente, pronunciando meu nome.

Ele permanece sério, seu olhar escuro e distante, como se estivesse analisando algo. Meu corpo começa a se tensionar como se ele soubesse que estou escondendo alguma informação muito importante dele.

"Nome bonito, senhorita." Ele cruza uma perna sobre a outra, apoiando os cotovelos nela. "Mas me diga, você veio ao meu quarto para concordar em ser minha escrava?"

Por um momento, minha mente congela enquanto olho em seus olhos, que estão mudando de cor, assim como antes naquele enorme quarto.

"Eu não quero ser nada, apenas fazer o que tem que ser feito." Minha resposta é rápida, nervosa, sem nenhum tipo de medo. Não posso deixar meu medo me dominar, se estou aqui para ser algum tipo de sacrifício ou seja lá o que for, que seja feito logo.

Ele se levanta rapidamente da poltrona, ficando tão perto de mim que meus olhos piscam tentando processar essa proximidade instantânea.

"Vejo que está com pressa, senhorita. Mas lamento informar que não será hoje que você morrerá."

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