CAPÍTULO 1
ARIA
A dor de cabeça era brutal.
Começou como uma pressão leve atrás dos meus olhos—nada incomum, só aquele tipo de coisa que você acha que vai passar com uma soneca ou um pouco de água.
Mas não passou. Cresceu.
Rápido.
A pulsação virou batida. Cada pulsação batia atrás dos meus olhos como um tambor, soltando algo dentro do meu crânio.
Eu podia sentir isso crescendo—mais alto, mais forte, como se alguém estivesse preso lá, tentando se libertar.
Quando tropecei pelas portas do hospital, mal conseguia me equilibrar.
Tudo estava muito brilhante.
Muito barulhento.
Meus pés arrastavam como se não soubessem mais como se mover.
“Moça, você está bem?” uma voz chamou—feminina, preocupada.
Uma enfermeira, talvez.
Não conseguia dizer direito.
“Acho que... preciso de ajuda,”
Eu sussurrei.
Ou tentei.
Minha voz nem parecia real.
Fraca.
Oca.
Como se viesse de algum lugar distante.
Então as paredes começaram a se mover.
Ou talvez fosse só eu.
O chão desapareceu sob meus pés, e o corredor se esticou como algo em um sonho.
Minha visão ficou turva nas bordas, as cores se misturando. Tudo estava derretendo.
E então veio a dor—aguda e repentina. Como uma faca no meio da minha cabeça.
E depois disso—nada.
Apenas escuridão.
Sem som. Sem movimento. Nem mesmo o peso do meu corpo.
E então... um zumbido.
Fraco no início.
Elétrico.
Mecânico.
Pressionava contra o silêncio, constante e baixo, como o zumbido de uma máquina deixada ligada em uma sala vazia.
Comecei a voltar lentamente. Não de uma vez—mais como emergindo de algo espesso e frio.
Não conseguia me mover.
Meus braços estavam muito pesados, minhas pernas muito rígidas. Eu estava deitada em algo duro e frio. Não uma cama.
Uma mesa, talvez?
O ar tinha um cheiro forte—como metal e desinfetante. Ar de hospital.
O zumbido estava mais alto agora.
Não muito longe.
Bem ao meu lado.
Algo estava errado.
Meus olhos se abriram novamente.
O teto acima de mim era curvado.
Luzes fracas traçavam suas bordas.
Eu estava dentro de algo—fechado.
Presa?
Ressonância magnética, meu cérebro forneceu lentamente.
Fones de ouvido acolchoados estavam presos nas minhas orelhas.
Uma voz veio através deles—distorcida, distante, mas tentando soar calma.
“Aria? Você desmaiou antes. Você está na ressonância magnética agora. Apenas fique imóvel. Estamos fazendo alguns exames rápidos para descartar algo sério.”
Eu queria falar, responder, mas minha garganta estava seca. Minha língua grudava no céu da boca. Engoli e tentei novamente, mas nada saiu.
A máquina vibrou novamente. Um barulho de tique-taque começou—tic-tic-tic—como se algo dentro dela estivesse se movendo. A luz acima de mim piscou.
O mundo inclinou. O zumbido pressionou meu crânio. Eu podia senti-lo vibrando atrás dos meus olhos.
Minha visão pulsava em sincronia com o som.
E então—
Silêncio.
Sem zumbido.
Sem tique-taque.
Sem voz.
As luzes dentro da máquina piscaram uma vez e depois se apagaram.
O ar ficou parado, como algo prendendo a respiração.
A escuridão me envolveu.
Não sei quanto tempo fiquei lá.
Segundos?
Minutos?
Parecia que o tempo tinha parado.
Pisquei novamente, esperando que as luzes voltassem.
Elas não voltaram.
Mas então—
Luz.
Não o brilho pálido e artificial das fluorescentes do hospital. Era luz do sol—natural, dourada, quente.
Meus olhos se arregalaram.
Eu me sentei com um suspiro.
Eu não estava no hospital.
Eu nem estava mais dentro de um lugar.
O ar tinha um cheiro diferente—mais acentuado, mais limpo. Levemente metálico.
Eu estava de pé em um terraço elegante em frente a um prédio feito de painéis reflexivos negros.
O horizonte além dele se estendia incrivelmente longe, cheio de edifícios estranhos e hovercrafts silenciosos ziguezagueando pelo céu azul demais.
“O que—” eu murmurei, girando ao redor.
Um letreiro digital acima das portas automáticas acendeu:
INSTITUTO DE PESQUISA BIOLÓGICA.
Abaixo dele, palavras menores deslizavam:
Assistente de Estágio: Aria Edwards –
Primeiro Dia.
Meu nome.
Olhei para baixo.
O avental do hospital havia sumido.
Em seu lugar: um jaleco branco sobre calças cinza e botas pretas polidas.
Um crachá pendurado no pescoço com um cartão de identificação preso a ele.
Nome: Aria Edwards
Posição: Assistente de Estágio
Data: 19 de março de 2125
Divisão: Neurogenética Experimental
2125?
Minhas mãos tremiam.
"Isso não é possível,"
murmurei, cambaleando para trás até esbarrar no corrimão de vidro atrás de mim.
Cem anos?
Não. Não, não, não.
Isso tinha que ser um sonho.
Uma alucinação.
Algo foi desencadeado pela ressonância magnética.
Um erro neural, talvez.
Fechei os olhos com força e os esfreguei vigorosamente.
"Acorda, Aria. Você ainda está na ressonância magnética," sussurrei.
"Isso não é real."
Mas parecia real.
O vento contra minha pele, o cheiro de ar esterilizado e ozônio, o zumbido distante de energia através do chão sob meus pés—tudo era muito real.
"Com licença?"
Eu pulei.
Um homem estava parado logo do lado de fora da entrada, prancheta em uma mão, um tablet na outra.
Alto.
Bem vestido.
Calmo, como se tudo isso fosse perfeitamente normal.
"Você deve ser a nova estagiária," ele disse com um sorriso educado.
"Aria Edwards, certo?"
Pisquei para ele.
"Ah... sim. Sou eu."
"Ótimo. Sou o Dr. Kieran Voss, seu supervisor de departamento. Você está na Divisão 3—Neurogenética e Estudos Temporais."
Meu cérebro travou.
"Estudos... o quê?"
"Estudos Temporais," ele repetiu, já se virando para as portas.
"Vamos. A orientação começa em dez minutos. E não gostamos de deixar a Dra. Sorelle esperando."
Espera. O quê?
Eu o segui sem decidir, minhas pernas se movendo automaticamente.
Estudos Temporais?
"Dr. Voss—Kieran," chamei, tentando acompanhar o ritmo.
"Isso vai parecer loucura, mas acho que houve um engano."
Ele olhou para trás, divertido.
"Você não é a primeira a dizer isso."
"O que você quer dizer?"
"Muitos estagiários dizem coisas estranhas no primeiro dia. O processo de orientação neural tende a embaralhar a memória de curto prazo. Isso desaparece em algumas horas."
"Não, você não entende," disse urgentemente. "Eu estava em uma ressonância magnética. Em 2025. Houve um apagão. E então... acordei aqui."
Ele parou, me estudando.
Por um momento, ele apenas me olhou—realmente olhou. Então, com uma calma inquietante, ele disse,
"Interessante."
"É só isso?" eu disse.
"É tudo o que você tem a dizer?"
Sua expressão não mudou.
"Vamos entrar."
Lá dentro, o prédio era ainda mais surreal. Os pisos respondiam aos nossos passos.
As paredes mudavam de cor ao serem tocadas. Elevadores se moviam lateralmente, além de para cima.
Tudo vibrava com uma inteligência silenciosa e sutil.
Pessoas com lentes aumentadas se moviam entre as estações.
Equipamentos de laboratório brilhavam suavemente.
Tudo reluzia.
Tudo respirava.
Paramos em uma porta:
Divisão 3 – Líder: Dra. Sorelle Hayne.
Kieran bateu uma vez e entrou.
Uma mulher olhou para cima de uma tela brilhante. Seu cabelo tinha mechas prateadas, torcidas para trás com precisão.
Seus olhos se fixaram em mim com um foco perturbador.
"Você está atrasada," ela disse.
Kieran respondeu suavemente.
"Oscilação de energia no andar de chegada. Esta é Aria Edwards, nossa nova assistente."
Ela me avaliou. "Sente-se."
Eu me sentei.
"Você sabe por que está aqui?" ela perguntou.
"Não," admiti.
"Eu nem sei como estou aqui."
Ela estreitou os olhos.
"Estudante de medicina, a melhor da sua turma em 2025. Participou de um projeto de interface neuro-sintética. Forte aptidão para mapeamento cognitivo. Retenção de dados excepcional. Você é exatamente a candidata que precisávamos."
Balancei a cabeça.
"Mas eu não me inscrevi para nada. Eu nem sabia que este lugar existia."
"Poucos sabem," ela disse secamente.
"Este instituto não pertence a nenhum registro conhecido. Você foi selecionada através de uma sequência de varredura quântica classificada desencadeada pelo evento de blackout."
Fiquei olhando. "Um o quê?"
Kieran falou gentilmente.
"Fenda temporal. Seu blackout foi um momento de convergência. Raro, mas não inédito."
"Você está dizendo que eu fui... puxada para cá? Através do tempo?"
A Dra. Hayne assentiu.
"O cérebro humano deixa ecos temporais durante momentos de alta disrupção elétrica. Você foi capturada em um deles. Uma ponte neural se formou."
"Eu não consenti com nada disso."
"Você não precisava," ela disse friamente.
"Mas você está aqui. E agora você tem duas escolhas: Ficar e contribuir para a pesquisa biológica mais avançada do planeta — ou voltar, com a memória apagada, e esquecer que isso aconteceu. Você não poderá voltar."
Meu coração disparou.
Eu poderia voltar. Fingir que nada disso aconteceu. Ou... ficar.
No ano de 2125.
Em um laboratório estudando fendas temporais.
Olhei para Kieran. Seus olhos encontraram os meus, não mais divertidos — apenas imóveis.
Firmes. Sérios.
Olhei de volta para a Dra. Hayne.
Eu não deveria estar aqui.
Mas eu estava.
E de alguma forma, senti que deveria fazer algo com isso.
"Sou estudante de medicina," eu disse.
"Vim aqui por acidente, mas não posso simplesmente ir embora. Se eu puder ajudar — quero ajudar."
Pela primeira vez, a Dra. Hayne sorriu. Apenas um lampejo.
"Bom."
Kieran me entregou o tablet.
"Bem-vinda ao Instituto, Aria."
Peguei-o. Meus dedos estavam tremendo, mas eu segurei firme.
Sentei na beirada da cama de exame impecável, meus pés balançando acima do chão branco brilhante.
O quarto estava assustadoramente silencioso — silencioso demais — exceto pelo suave zumbido de máquinas invisíveis e o ocasional bip dos monitores montados na parede.
O cheiro de antisséptico ardia no meu nariz, afiado e estéril. Apesar do calor artificial da sala, um frio percorreu minha espinha, e eu envolvi meus braços ao redor de mim mesma, tentando ignorar o desconforto crescente.
Do outro lado do quarto, um homem de jaleco branco estava de frente para uma tela holográfica brilhante, a luz lançando um leve brilho em sua pele. Ele parecia jovem — talvez no início dos trinta — alto, com cabelo escuro que enrolava levemente nas pontas e olhos afiados e inteligentes que percorriam os dados flutuantes como se ele estivesse resolvendo um antigo quebra-cabeça.
Meus dados.
Ele se virou para mim, sua expressão indecifrável.
"Senhorita Aria Edwards, certo?" ele perguntou.
Assenti rapidamente, o nó no meu estômago apertando.
"Sim. Os exames estão bem? Apareceu algo?"
Ele ofereceu um pequeno sorriso, mas não chegou aos olhos.
"Nada alarmante. Mas sua fisiologia é... incomum. Fascinante, na verdade."
Minha testa se franziu.
"Incomum como?"
Ele não respondeu imediatamente.
Em vez disso, atravessou a sala e me entregou um copo cheio de um líquido rosa e cremoso.
Ele brilhava levemente, como se alguém tivesse deixado cair um pedaço de pérola no leite de morango.
"Este é um suplemento nutricional que administramos aos novos estagiários. Ajuda na transição suave," ele disse, a voz calma e precisa.
"Transição suave."
Hesitei, olhando para a bebida.
"É obrigatório?"
"É altamente recomendado," ele disse, e havia uma ponta na sua voz agora, suave mas firme.
"Você desmaiou mais cedo. Isso ajudará a estabilizar seus sinais vitais."
Desmaiei?
Lembrei-me de ter me sentido tonta, mas... engoli o protesto e tomei um gole cauteloso.
O sabor me pegou de surpresa — doce, suave, com toques de baunilha e algo floral que eu não conseguia identificar.
Derreteu na minha língua como se pertencesse ali.
Instantaneamente, um calor inundou meu corpo, se espalhando até as pontas dos dedos das mãos e dos pés, afastando o frio.
"Isso é... surpreendentemente bom," murmurei.
"Eu te disse," ele respondeu, com um pequeno sorriso de quem já sabia.
"Sou o Dr. Justin. Vou supervisionar seu estágio.
Bem-vinda ao Instituto de Pesquisa Biológica."
...
Os dias que se seguiram se misturaram—longas horas estéreis costuradas com testes de rotina e um medo silencioso.
Todas as manhãs, sem falha, eu era chamada de volta à ala médica. Coletas de sangue. Testes de reflexo. Escaneamentos intermináveis.
Eles me disseram que era protocolo padrão.
"Rotina," diziam com sorrisos cansados. Mas eu nunca vi mais ninguém do grupo de estagiários lá.
Nem uma vez.
No final da semana, o desconforto começou a se instalar nos meus ossos. Eu não conseguia mais fingir que era normal.
Então, na manhã seguinte, enquanto abaixava minha manga e entrava na área comum, avistei a Mia perto da máquina de café e decidi perguntar.
Nós não éramos exatamente próximas—apenas duas estagiárias que trocaram alguns sorrisos constrangedores e disseram seus nomes no primeiro dia—mas algo nela parecia acessível.
Amável, até.
E eu precisava falar com alguém.
"Oi, Mia," chamei, forçando um pequeno sorriso enquanto me aproximava.
"Como está sua manhã?"
Ela olhou para cima do seu café, um pouco surpresa, mas educada.
"Ah. Boa, eu acho. E a sua?"
Dei de ombros, tentando manter um tom casual.
"Mesma coisa. Acabei de sair da ala médica. De novo."
"De novo?" ela repetiu, ajustando os óculos.
Assenti.
"É. Eles me fazem ir todas as manhãs desde a orientação. Sinais vitais, testes, coletas de sangue... tudo."
A testa de Mia se franziu.
"Sério? Isso é... estranho. Eu só fiz o exame básico de entrada no primeiro dia."
A reação dela não era acusatória—apenas genuinamente confusa.
De alguma forma, isso tornava tudo pior.
Dei uma risada suave, fingindo não me importar.
"Ah. Acho que sou só sortuda, então. Talvez tenham encontrado algo no meu prontuário."
Mia não riu.
Ela deu um sorriso tenso e incerto e rapidamente se ocupou com sua caneca, murmurando algo sobre uma reunião.
Então ela se afastou—mais rápido do que o necessário.
Fiquei ali por um momento, o frio da ala médica ainda grudado na minha pele.
Algo não estava certo.
E agora eu não era a única que sentia isso.
Então veio o leite.
Sempre rosa.
Sempre esperando na geladeira da sala dos funcionários com meu nome escrito à mão em um rótulo.
Eu tinha assumido que todos bebiam.
Todas as manhãs, sem falta, o Dr. Justin olhava para ele e me lembrava:
"Seu suplemento. Consistência é a chave."
Não foi até uma tarde que percebi como estava errada.
Vi o Lewis, um dos outros estagiários, despejando um líquido claro, parecido com água, em um copo.
"Esse é o seu suplemento?" perguntei.
"É," ele disse, olhando de relance com um encolher de ombros.
"Não tem gosto de nada. Por quê?"
Olhei para minha bebida opaca e pastel.
"O meu é... diferente."
Ele estreitou os olhos para ela.
"Tem certeza de que é a mesma coisa?"
Não respondi.
Foi por volta dessa época que comecei a notar os olhares.
Mais como espiadas—breves e cuidadosas, como se todos estivessem esperando algo acontecer.
Me observando sem nunca realmente dizer nada.
A simpatia ainda estava lá, na superfície.
Mas por baixo, havia distância. Barreiras educadas.
Então veio o corredor oeste.
Eu não pretendia encontrá-lo, apenas estava vagando enquanto esperava minha próxima tarefa. O corredor terminava em um grande display criogênico, perfeitamente embutido na parede.
E dentro, congeladas e suspensas, estavam enormes asas.
Asas de dragão.
Elas se estendiam quase até a altura do display—escamadas, membranosas, com pontas de garras.
Fiquei parada, o fôlego preso na garganta.
Elas eram... lindas.
