#### #CHAPTER 9

POV do Rolex

Eu estava na cozinha, olhando para o meu café preto como se ele tivesse todas as respostas. Os acontecimentos de ontem ficavam se repetindo na minha mente - Mia amarrada àquele pilar, hematomas marcando sua pele, aqueles desgraçados rindo da sua dor. Meu aperto na caneca se intensificou. O que mais me incomodava não era apenas o que aconteceu com ela, mas o quanto isso me afetou.

O som de passos me tirou dos pensamentos. Xavier entrou, as chaves do carro balançando nos dedos.

"Vou levar a Mia para a escola hoje," ele disse casualmente, pegando uma maçã da fruteira.

"Não." A palavra saiu como um rosnado.

Xavier parou no meio da mordida, me estudando com aqueles olhos irritantemente perceptivos dele. "Desde quando você é tão protetor com nossa meia-irmã?"

Ele cruzou os braços, um sorriso conhecedor brincando nos lábios. "Além disso, você não tem pacientes esperando?"

A palavra 'meia-irmã' fez meu estômago revirar. Se ele soubesse. Me forcei a dar de ombros. "Alguém tem que garantir que ela não seja espancada de novo."

"É isso que estou me oferecendo para fazer." Xavier se encostou no balcão, aquele sorriso irritante ainda nos lábios. "A menos que haja outro motivo para você querer levá-la?"

Antes que eu pudesse responder, Mia apareceu na porta. Ela vestia um suéter largo que praticamente a engolia, provavelmente tentando esconder os hematomas de ontem. Meu lobo se agitou ao vê-la, e eu tive que desviar o olhar. Companheira. A palavra ecoou na minha cabeça, indesejada mas inegável.

"Bom dia," ela disse suavemente, mexendo na manga do suéter.

"Deixe-me te levar," Xavier e eu dissemos simultaneamente.

Os olhos de Mia se arregalaram ligeiramente, indo de um para o outro. O silêncio constrangedor que se seguiu me fez querer socar algo.

"Tenho pacientes esperando na clínica," admiti relutantemente. "Xavier pode te levar."

"Vamos os dois," sugeriu Xavier, girando as chaves. "A clínica é no caminho mesmo."

Eu queria recusar, mas que desculpa poderia dar? Que toda vez que olhava para ela, meu lobo enlouquecia? Que eu estava lutando contra o impulso de protegê-la, mesmo tendo jurado fazê-la pagar pelo que a mãe dela fez?

Os olhos de Xavier se estreitaram com meu tom exigente, mas ele assentiu. Enquanto Mia o seguia para fora, ela olhou para trás, confusão e algo mais nadando naqueles olhos inocentes. Eu me virei, incapaz de enfrentar o que vi ali.

No momento em que eles saíram, bati o punho contra o balcão. Quão cruel era o destino por torná-la minha companheira? A mãe dela - a mulher que levou nossa mãe a ter aquele ataque cardíaco fatal com seus esquemas e manipulações - a filha dela estava destinada a ser minha?

A lembrança daquele dia ainda me assombrava. Mamãe desabando depois de ler aquela carta de Lillian, suas últimas palavras um sussurro quebrado sobre traição. E agora a filha dela estava aqui, carregando o mesmo sangue, despertando sentimentos que eu não queria reconhecer.

"Controle-se, Rolex," murmurei para mim mesmo, passando os dedos pelos cabelos em frustração.

A viagem foi silenciosa no início. Mia sentou-se no banco de trás, e eu continuava pegando vislumbres dela no espelho retrovisor. Ela parecia tão diferente de Lillian - mais suave, mais vulnerável. A mulher que levou nossa mãe à morte com seus esquemas e manipulações... como a filha dela podia ser minha companheira?

"Você está muito quieta aí atrás," Xavier chamou, quebrando o silêncio. "Não está planejando mais shows matinais, está?"

O rosto de Mia ficou vermelho. "Aquilo foi um acidente! Eu não queria-"

"Claro que não," me peguei entrando na brincadeira, as palavras saindo naturalmente apesar de tudo. "Assim como você não queria me encarar na moto ontem."

Enquanto dirigia, minha mente continuava vagando para ela - a maneira como ela se agarrou a mim na moto ontem, seu corpo macio pressionado contra o meu, seu cheiro me envolvendo.

"Eu não estava encarando!" Ela afundou mais no assento, o rosto ficando ainda mais vermelho.

"Não?" Xavier sorriu. "Então por que você está corando?"

Ela balançou a cabeça, e assim que chegamos à escola, ela tentou fugir rapidamente.

"Espera," Xavier chamou quando Mia começou a se afastar. Sua voz ecoou pelo estacionamento, atraindo a atenção dos alunos próximos. "Vamos te acompanhar até a sala."

Saí do carro, ajustando meu casaco. O jeito como os outros alunos nos olhavam, os sussurros já começando - fez meu lobo querer mostrar os dentes. Minha, ele rosnou possessivamente. Afastei o pensamento.

"Vamos, irmãzinha," Xavier disse, enfatizando as últimas palavras alto o suficiente para todos ouvirem. Ele colocou uma mão no ombro dela, o gesto tanto protetor quanto territorial. "Mostre o caminho."

Mia olhou entre nós, a confusão clara em seus olhos. "Vocês não precisam—"

"Fazemos questão," interrompi, caminhando ao lado dela. Os alunos se afastavam de nós como água, seus olhos se arregalando ao nos reconhecerem. Bom. Que eles vejam. Que saibam que ela está protegida agora.

Enquanto caminhávamos pelos corredores, notei como Mia parecia se encolher, tentando se tornar invisível. Isso fez algo no meu peito doer. Há quanto tempo ela vivia assim, tentando desaparecer?

"Ei pessoal," Xavier chamou, sua voz carregando aquela autoridade de alfa que fazia os outros prestarem atenção instintivamente. "Conheçam nossa irmãzinha, Mia Atwood."

A menção do nome teve o efeito desejado. Sussurros explodiram pelo corredor. Atwood. Uma das famílias de lobos mais poderosas da região. Vi o medo em seus olhos, para não mexerem conosco.

"Gravem bem esse nome," acrescentei, minha voz fria o suficiente para gelar. "Porque se algo acontecer com ela..." Deixei a ameaça no ar.

O sorriso de Xavier era só dentes quando ele completou meu pensamento. "Vocês vão responder a nós. Os irmãos mais velhos dela."

Chegamos à sala dela, e lutei contra a vontade de marcar seu cheiro antes de deixá-la ir. Meu lobo estava enlouquecendo, querendo reivindicar, proteger, possuir.

"Vamos te buscar depois da aula," Xavier disse a ela, sua resposta não deixando espaço para discussão.

"Os dois?" Mia perguntou, sua voz pequena.

"Todos nós," corrigi. Que todos vejam a força completa da família Atwood unida por ela. "Nathan e Sean também."

Ela engoliu a ansiedade e foi para seu assento.

Enquanto Xavier e eu saíamos da escola,

"Café?" Xavier me perguntou, "Precisamos conversar."

Dez minutos depois, estávamos sentados em um canto tranquilo do café local. Mexi meu café distraidamente, pensando em como tudo havia mudado em apenas alguns dias. Quando papai trouxe Mia para casa pela primeira vez, tudo o que eu conseguia pensar era em vingança. Fazer ela sofrer como nós sofremos. Mas vê-la suportar um sofrimento real... parecia errado.

"Qual é o seu problema com ela?" Finalmente perguntei, olhando para Xavier.

Sua expressão brincalhona habitual desapareceu, substituída por algo mais sério. "Você realmente quer saber?"

"Eu não perguntaria se não quisesse."

Xavier se inclinou para frente, abaixando a voz. "Ela é minha companheira."

O mundo pareceu parar por um momento. Minha xícara de café ficou suspensa no ar enquanto suas palavras afundavam. "O que você acabou de dizer?"

"Você ouviu." Seus olhos mantiveram os meus firmemente. "Eu senti no momento em que ela entrou pela nossa porta."

Uma risada subiu pela minha garganta, mas não era feliz. "Isso é impossível."

"Por quê?" Seus olhos se estreitaram. "Porque ela é filha da Lillian? Porque deveríamos odiá-la?"

"Não." Coloquei minha xícara cuidadosamente, lutando para manter a voz firme. "Porque ela é minha companheira também."

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Nos encaramos do outro lado da mesa, as implicações do que acabamos de revelar pesando entre nós. Como podemos ter uma única companheira? E não qualquer companheira - a filha da mulher que culpamos por destruir nossa família.

"Bem," Xavier finalmente disse, recostando-se na cadeira. "Isso é uma grande merda."

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