CAPÍTULO 2

Jon se recostou, franzindo a testa. Ele era um bom colega de estudo e uma boa pessoa, ou eu não me incomodaria. Mas isso estava ficando entediante e eu sabia que precisava que ele deixasse de lado suas ilusões ou começasse a procurar uma nova parceira de estudo.

Seu rosto se ensombreceu e eu não pude reprimir uma pontada de arrependimento. Nunca quis ferir seus sentimentos, então pensei em fazer uma oferta. —Que tal sairmos para tomar algo para comemorar depois da prova?—

Seus olhos se iluminaram. Ele era realmente um garoto bonito. Um garoto com quem eu me veria saindo, se eu saísse com alguém. Mas quase passei toda a faculdade sem sair com nenhum garoto. Saíamos em grupo e fui convidada para sair várias vezes antes que se espalhasse a notícia de que eu não estava ali por motivos sociais.

Além disso, passar quase todo o meu tempo livre jogando videogames online e mexendo no meu blog costumava acabar com minha vida social. E a minha tinha morrido há anos.

—De acordo. —Ele sorriu e pegou uma de suas fichas geradas por computador—. Nomeie todos os compostos que contêm oxigênio e que também são derivados de ácidos.

Respirei fundo, esperando que essa pequena concessão à fraqueza não me prejudicasse. Então respondi à pergunta.


O primeiro toque do telefone estava incluído no meu sonho. Eu estava prestes a dissecar um cadáver durante meu primeiro ano de Anatomia Macroscópica em uma aula monótona da faculdade de medicina. Coloquei o bisturi contra a pele, pronto para cortar o tecido subcutâneo, como tinha lido nos meus livros sobre dissecação de cadáveres, e o cadáver começou a soar como um telefone.

No segundo toque, saí do meu sonho e estava tão atordoado que mal conseguia lembrar onde estava.

Verifiquei o identificador de chamadas e procurei o receptor.

—Mãe —sussurrei, pegando o relógio. Sete e meia da manhã. Por que ela sempre insistia em ligar tão cedo?

—Você estava dormindo?—

Limpei a garganta. —Não.—

—Mentirosa —disse ela—. Você precisa começar a se acostumar a acordar cedo. Os médicos não trabalham até tarde.

—Os aspirantes a médicos ficam até tarde estudando depois de terem passado metade da noite.—

Ela suspirou. —Bem, isso também não adianta nada. Se você acabar exausta quando chegar a prova, não vai acertar uma única pergunta—.

Revirei os olhos enquanto minha cabeça caía para trás sobre a cama. Sim, isso me fez sentir muito melhor, mãe. Obrigada. Apoiei a cabeça no travesseiro quente. —Por que você me ligou esta manhã?—

—Quero saber se você precisa de dinheiro—, disse ela de leve.

Cerrei os dentes, sentindo a mandíbula se contrair logo abaixo das bochechas. Com minha melhor voz, suave, disse: «Não. Estou bem...».

Ontem à noite, quando você não estava em casa, tentei ligar para o seu celular. Droga. Tinha a gravação dizendo que o telefone não estava mais em serviço.

—Oh, devo ter esquecido de pagar a conta—.

—Emilia Kimberly Strong—.

—Estou bem, mãe. Vou receber na sexta-feira.

A irritação percorreu minhas costas como um enxame de formigas procurando um piquenique. Como se ela tivesse o direito de ficar brava comigo por mentir quando, para começar, ela estava mentindo! Eu tinha visto o aviso de inadimplência da hipoteca na última vez que estive em casa. Segunda advertência, terceira. Multas por atraso.

Ela mal conseguia se manter com o rancho. Durante minha infância, nunca teve uma hipoteca. Comprou tudo quando eu era apenas um bebê com o dinheiro que o Doador de Esperma Biológico (meu termo não tão carinhoso para o homem que me gerou) pagou para que ela fosse ter o bebê em outro lugar.

—Melanie, você me diria se precisasse de algo, não diria?— Mãe, você me diria se o banco estivesse prestes a te despejar, não diria? Eu ansiava responder com essas palavras, mas como sempre, me faltou coragem para sequer mencionar.

O rancho —uma espécie de cruzamento entre um rancho de férias e um albergue temático do oeste— era o sustento da mamãe. Mas ela não conseguiu administrá-lo adequadamente desde o diagnóstico e tratamento do câncer. Então, teve que pedir uma hipoteca para cobrir suas despesas médicas.

Voltei a fingir minha voz alegre. —Claro, claro. Te amo!—

—Nem sequer conversamos—que——

E droga, a chamada em espera conectou naquele momento. Verifiquei a identificação. Obrigada, Heath! Se eu pudesse alcançá-lo pelo cabo do telefone e beijá-lo, eu faria. Amava aquele cara.

Mamãe, Heath está me ligando e acho que é muito importante. Posso te ligar de volta?

Te ligo. É de longa distância.

—Tudo bem. Talvez amanhã?

—Diga a ele que mando lembranças e que ainda estou esperando que ele venha com você da próxima vez para poder vê-lo—.

—Claro, claro. Te amo, mamãe. —E desliguei para atender a chamada, respirei fundo e me endireitei.

—Dudando.—

—O que está acontecendo?—

Já reduzi a lista a dois. Vou me reunir com ambos nos próximos dias.

—Estão na área?—

Na verdade, um deles não mora muito longe. O outro está no leste, mas voa a negócios nesta quinta-feira. Posso vê-lo então.

Meu coração acelerou. —Bom. Como... como eles são?—

—O cara mais jovem tem apenas sessenta e dois anos…—

Me tensei. —O quê?—

—Brincadeira….—

Me recostei aliviada. Deveria ter sabido. —Idiota—.

O terceiro cara estava um pouco acima. Quase cinquenta. Também foi descartado por outros critérios. O mais jovem é apenas alguns anos mais velho que eu. O outro tem trinta e poucos. Lindo. Eu ficaria com ele, mas você sabe que ele gosta de loiras.

Então o cara mais jovem não era loiro. —O que mais você pode me dizer?—

Ricos como o diabo, claro. Ambos estavam muito interessados, especialmente depois que enviei as fotos.

Revirei os olhos. Além de seus muitos outros feitos técnicos (Heath projetava e criava sites para seu trabalho diário), seu passatempo favorito era a fotografia digital. E ele era um gênio. Foi ele quem insistiu, quando tive essa loucura, em me colocar de biquíni (um que comprei na Anthropologie e acabei devolvendo porque estava muito acima do meu orçamento). Tirei fotos nas rochas do píer da praia de Corona del Mar.

As fotos que publiquei no site do leilão eram do pescoço para baixo. Acho que tinha um bom corpo, embora meus seios fossem bastante pequenos. Mas eu era relativamente alta, o que me dava o efeito colateral de pernas longas. No entanto, estava bastante certa de que minha falta de cirurgia estética ou bronzeamento artificial afetaria o resultado do leilão. Mas, aparentemente, não foi assim.

Embora soubesse que era hora de acabar com isso e simplesmente perder, não se tratava apenas de entregar minha virgindade ao cara disposto a pagar mais. Tinha um plano cuidadosamente elaborado. Primeiro, ele teria que passar por uma revisão completa por parte do meu —gorila—.

—Sim, vou ter que encontrar uma maneira de me apropriar daquele que não te supera—.

Ri. —Me conte como vai. Embora talvez não. Prefiro não saber—.

Vou me reunir com o californiano amanhã para almoçar em Irvine. Depois de conhecer o nova-iorquino, entrarei em contato. Pedi a ambos seus históricos médicos e estou fazendo uma verificação de antecedentes.

—Tudo parece bem.—

Melanie, preciso te dizer isso novamente: ainda há tempo de desistir. Uma vez que o dinheiro é trocado e os planos são feitos, é um acordo fechado. Mas você ainda tem a liberdade de ir embora e ser completamente anônima. Quer dizer, não é fácil te pedir isso. Você nunca teve sexo e planeja fazer isso com um completo desconhecido...

Ou seja, me certifiquei de incluir no leilão que você poderia precisar de um período para se conhecer. Talvez alguns encontros primeiro para que não seja tão repentino.

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