CAPÍTULO 3
Neguei com a cabeça, tentando conter a crescente frustração. Já havíamos falado sobre isso antes, várias vezes. «Já te disse que preferiria não conhecê-lo. Só quero terminar com isso o quanto antes. Para mim não é um ato romântico, é só um pouco de pele. Não tenho nenhum apego emocional. Já está na hora de perder isso. Assim poderei seguir em frente com minha vida e ter uma conta bancária bem recheada».
Houve um longo silêncio do outro lado da linha. Levantei-me, fechei os olhos com força e pensei na minha mãe. Ela precisaria de outra vacina contra o melanoma em breve, e essas são caras, especialmente sem seguro de saúde. Provavelmente ela se recusaria a tomar a vacina e optaria por pagar a hipoteca. A raiva pela nossa impotência queimava no fundo do meu ser. «Te disse que não vou desistir».
—Está bem. Me senti obrigado a repetir.
E outra vez. E outra vez.
Bem. Agora vou te fazer outra pergunta que vai te incomodar.
Preparei-me, mas não disse nada.
O que você acha que seu psiquiatra diria sobre isso?
Arqueei uma sobrancelha. —Faz anos que não vejo a Dra. Marbrow—. Já não podia me dar ao luxo de tê-la. —Ela me deixou em liberdade sob minha própria responsabilidade. Me declarou completamente curada—.
—Claaaro...
—Você acha que estou louca?—
Ele suspirou. —Acho que a merda com a qual você estava lidando demora muito para ser superada—.
Engoli em seco. Seis anos não eram suficientes? Se não, quanto tempo levaria? Uma década? Quinze anos?
—Sou uma mulher dura —sussurrei.
—Claro que sim. Só estou dizendo...
Bem, isso é tudo o que vou te dar por hoje. Não mais. Falamos no final da semana. Tenho que começar a me preparar para ir trabalhar.
—Você vai entrar online esta noite?— perguntou.
É nossa noite de jogos habitual. Você sabe que sempre estou lá.
—Alguma notícia do Fallen?— Heath se referiu a um membro habitual do nosso grupo pelo nome de jogo —FallenOne—, como todos nós fazíamos, já que ele nunca nos disse seu nome real. Jogávamos juntos há mais de um ano, junto com outro bom amigo do Canadá, e Fallen estava há quase dois meses sem participar das nossas noites de grupo habituais.
—Não tenho certeza do que está acontecendo na vida pessoal dele agora—.
Ele não te contou? Vocês falam de tudo.
—Já não—, disse com uma pontada de arrependimento. Eu sabia que Fallen lia meu blog. Ele se opôs veementemente ao Manifesto. Passamos metade da noite discutindo sobre isso no chat do jogo. Será que ele estava chateado comigo por causa do leilão? A ideia de perder amigos por isso não me agradava, então esperava que não fosse o caso.
Depois de terminar a chamada, saltei da cama, entrei no chuveiro, coloquei o roupão e me dirigi ao hospital. Tentei me concentrar no que estava fazendo e não nos problemas que Heath havia desenterrado, nem no resultado final do leilão. Com um pouco de sorte, tudo estaria resolvido antes de eu ter que fazer o MCAT novamente. Tomara.
Passei a semana seguinte como um autômato, cumprindo com meu trabalho, com meu blog, completando várias tarefas. Sentia que estava prestes a algo, algo grande. Mas não me permiti essa ideia. Isso tinha que ser menor do que eu. Este tinha que ser um momento insignificante na minha cronologia. Logo terminaria e eu seguiria em frente com o resto da minha vida.
Mas não podia evitar me perguntar com que pessoa eu terminaria. Com sorte, pelo menos eu acharia ele atraente. Talvez fosse bom e gentil. Não precisava ser incrível, já que eu não estava em condições de julgá-lo, dada minha falta de experiência.
Ideias como essas rondavam minha mente e algumas vezes me peguei fantasiando com esse tipo misterioso e pulando toda vez que o telefone tocava enquanto esperava a resposta de Heath. Então, quando finalmente o telefone tocou, não me surpreendi que estivesse de novo na cama, desta vez tirando uma soneca rápida depois de um turno noturno na emergência.
—O quê?— murmurei no fone, ainda quase dormindo.
—Você estava dormindo?— A voz divertida de Heath chegou pela linha.
—Mmm. Turno da noite.
Ah, entendi. Bom... levante-se e prepare um café porque tenho o seu vencedor e ele quer te ver esta tarde.
Gemí. —Pode esperar. Estou meio morta, Heath. Não podemos fazer isso amanhã? É meu dia de folga e preciso de um aviso; não lavei a roupa em…—
—Não posso, querida. Ele tem que voar para a costa leste a negócios amanhã de manhã. Não voltará até o final da semana.
—Heath…—
Vamos. Reservei uma sala de conferências privada no Westin South Coast Plaza.
Lembrei que minha única saia formal —uma impecável saia lápis de escritório— estava no fundo do cesto de roupa limpa, amassada até ficar irreconhecível. E meu ferro de passar estava quebrado.
—Tenho que passar minha saia.—
—Eu trago meu ferro quando for te buscar—.
—Eu também não tenho tábua.—
—Então use a mesa, pelo amor de Deus. Escuta, não estou aqui para resolver seus problemas de mulher heterossexual do primeiro mundo. Levante-se, se maquie e se atualize.
Suspirei e desliguei com o coração acelerado. Percebi que ele não tinha me dito quem havia escolhido.
Segui suas instruções, me levantei, tomei banho, penteei o cabelo e, resignada ao inevitável, prendi o cabelo em um rabo de cavalo porque não cooperava. A maquiagem ficou perfeita e eu estava vestindo minha blusa —branca, de botões— e roupa íntima quando Heath apareceu. Ele não trouxe o ferro.
—Que diabos, Heath?
Não encontrei. Acho que aquele idiota roubou quando empacotou suas coisas e foi embora. Ele se referia ao recente fim de seu relacionamento de dois anos. Não tinha sido uma boa separação e Heath ainda lamentava o ocorrido.
Lancei um olhar perplexo. —Quem rouba um ferro?—
—Crianças mimadas como Brian, esses são.—
Suspirei e olhei para minha patética desculpa de saia.
—Por que você não pendura no chuveiro e deixa a água quente correr?—, perguntou.
—Dar um banho na minha saia?—
O vapor tira algumas rugas. A secadora também funciona.
Bom, não tenho secadora, então acho que o vapor vai servir. Você acha que vai funcionar?
—Claro que não, mas é melhor tentar—
