Capítulo 2 - O motivo

POV da Margot

O sol estava baixo no céu, tingindo o horizonte com tons profundos de laranja e vermelho enquanto Cara e eu caminhávamos pelo último trecho da estrada de terra que levava ao parque de trailers.

O ar havia se tornado mais denso com a chegada da noite, pesado com o cheiro de grama seca e fumaça de cigarro que vinha de alguns trailers.

Paramos onde a estrada bifurcava — a casa de Cara à esquerda, a minha à direita.

"Bem," ela disse, exalando enquanto se virava para mim. "Mais um dia emocionante aqui no paraíso."

Forcei um sorriso fraco, mudando meu peso de um pé para o outro. Sempre demorávamos mais do que o necessário aqui, nenhuma de nós querendo se despedir. Especialmente eu.

A vida em casa de Cara também não era ideal, mas pelo menos sua mãe tentava em um bom dia, quando não estava se drogando... ou devo dizer, quando não podia pagar para se drogar?

Cara odiava ver sua mãe chapada, mas já estava acostumada com a visão ao longo dos anos. Mas, apesar disso, ela frequentemente me lembrava que sua mãe não era de todo ruim, já que, apesar de estar se destruindo, ela nunca batia ou gritava com ela...

Às vezes eu sentia inveja, considerando que ambas tínhamos uma vida ruim, mas a dela parecia um pouco mais suportável comparada à minha situação.

Pelo menos Cara tinha alguém que, no fundo, realmente se importava com ela por trás da casca da dependência, ao contrário de alguém que a recebia na porta com hálito de uísque e punho cerrado na maioria dos dias da semana...

"Tente não pensar demais nas coisas esta noite," Cara me cutucou levemente, sua voz mais suave agora, como se soubesse exatamente para onde meus pensamentos estavam indo. "Fizemos a coisa certa, Margot. Não ficaremos presas aqui para sempre - pelo menos estamos tentando sair, certo?"

Assenti, mas meu estômago se retorcia em nós.

Eu nem estava pensando no experimento agora. Estava pensando no trailer enferrujado que me esperava, no homem dentro dele, e se ele estaria desmaiado ou procurando algo para bater.

"É," murmurei. "Te vejo amanhã?"

Cara me deu um olhar conhecedor. "Você vai, a menos que eu acorde rica e famosa da noite para o dia e saia daqui ao nascer do sol."

Forcei uma risada, observando enquanto ela se virava e desaparecia em direção ao seu trailer, sua silhueta engolida pela luz que diminuía. "Você sabe que eu nunca te deixaria para trás, né? Você é minha garota!" Ela gritou por cima do ombro, enquanto eu a via desaparecer cada vez mais pela estrada.

No momento em que ela se foi, o peso da realidade se assentou sobre meus ombros como um asteroide enviado para esmagar a terra.

Inalei profundamente, forçando meus pés a se moverem apesar do meu cérebro gritar para não fazer isso.

O caminho rangia sob meus tênis gastos, o som alto demais no silêncio estranho do parque de trailers, enquanto eu temia acordar todos no espaço desolado.

A maioria das pessoas já havia se recolhido para a noite, o brilho de televisores mudos piscando por trás de cortinas finas daqueles que os tinham. Em algum lugar à distância, um cachorro latia. Um bebê chorava. Um homem gritava.

Era tudo muito familiar, muito 'normal', e eu odiava ainda mais por isso...

Então, eventualmente, eu o vi — nosso trailer.

Ele se erguia contra o céu desbotado como uma relíquia esquecida, a pintura descascando, o metal enferrujado. Uma lata de cerveja amassada estava próxima aos degraus da frente, o primeiro sinal de que meu pai já estava em casa.

O segundo sinal era o brilho fraco da televisão vazando pela janela, iluminando a sala de estar com um tom doentio de azul.

Hesitei na porta ao me aproximar, escutando por um momento.

Silêncio.

Não era bom.

Silêncio significava que ele estava ou desmaiado ou esperando...

Me preparando, empurrei a porta lentamente, as dobradiças rangendo em protesto e revelando minha posição.

O fedor foi a primeira coisa que senti — álcool azedo, suor velho e algo queimado.

Entrei com cuidado, mantendo os passos leves.

A sala estava uma bagunça, mas isso não era novidade. Garrafas vazias espalhadas pelo chão, um cinzeiro transbordando em cima da mesinha de centro e a TV ligada em um canal cheio de estática.

Então eu o vi.

Meu pai estava largado na poltrona, a camiseta manchada de cerveja esticada sobre a barriga, uma mão segurava uma garrafa meio vazia, a outra pendia frouxamente sobre o braço da poltrona. Os olhos fechados, a boca ligeiramente aberta.

Dormindo.

O alívio me inundou tão rapidamente que meus joelhos quase cederam.

Me movi rapidamente, indo em direção ao meu quarto no final do trailer, tomando cuidado para evitar as tábuas que rangiam no caminho.

Se eu conseguisse entrar, trancar a porta, talvez esta noite não terminasse com mais hematomas para adicionar à minha coleção crescente...

Mas quando alcancei a maçaneta, a voz dele cortou o ar, grossa e arrastada.

"Onde diabos você estava, garota?"

Meu estômago se revirou com o tom.

Me virei devagar, os dedos ainda enrolados na maçaneta. Ele piscava para mim agora, o rosto contorcido em uma névoa de embriaguez.

"Na biblioteca com a Cara," disse cuidadosamente.

Ele zombou de mim, cuspindo, antes de passar a mão pelo rosto e dar mais um gole na garrafa. "Biblioteca," ele imitou com uma voz estridente, balançando a cabeça. "Como se isso fosse te ajudar nessa cidade de merda - lendo histórias idiotas."

Não disse nada. Essa era sempre a opção mais segura.

Ele se mexeu na cadeira, estreitando os olhos vermelhos para mim. "Você tá se esgueirando por aqui agora, garota? Acha que não percebo quando você chega tarde? Quando passa por mim sem dizer uma palavra?"

Meu pulso pulsava nos ouvidos. Eu conhecia esse jogo. Ele estava procurando algo para brigar, alguma desculpa para me lembrar quem estava no comando. Mesmo quando eu ficava aqui em total silêncio...

Forcei minha voz a permanecer calma. "Eu te disse. Eu estava só na biblioteca."

Ele soltou uma risada amarga. "É? E o que exatamente você tá aprendendo lá? Como ser uma decepção maldita?"

Minha mandíbula travou, meus dedos apertaram a maçaneta com mais força. Mordi a língua, engolindo as palavras que queria cuspir de volta para ele, sabendo que só piorariam as coisas.

Ele me observou por mais um momento, como se me desafiasse a retrucar. Então, tão rápido quanto a raiva surgiu, ela desapareceu. Ele resmungou e acenou com a mão de forma desdenhosa.

"Saia da minha frente, não tenho energia para te ensinar outra lição hoje à noite!" ele rosnou, voltando para a TV e apertando o controle remoto até encontrar algo assistível.

Não esperei ele mudar de ideia.

Entrei no meu quarto, fechando a porta atrás de mim o mais silenciosamente possível antes de trancá-la. Minhas mãos tremiam enquanto eu pressionava a testa contra a madeira, soltando um suspiro que nem percebi que estava segurando.

Segura.

Pelo menos por agora.

Por mais uma noite.

Me virei e observei a visão familiar do meu quarto minúsculo — as paredes nuas, um colchão irregular no chão, uma pequena mesa coberta de cadernos velhos e canetas que mal funcionavam.

O único lugar em todo este mundo que era meu.

Desabando na minha cama, fiquei olhando para o teto rachado, minha mente inundada.

Este lugar era um lembrete de que a ideia de prisão não era tão ruim... seria um upgrade para este antro de vagabundos!

Uma semana.

É tudo que eu precisava esperar para saber se as inscrições nos levaram a algum lugar.

Mais uma semana, e talvez — só talvez — eu finalmente teria uma saída dessa armadilha.

Qualquer que fosse o custo, que assim seja, se significar que eu posso me livrar dele!

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