Omitir?
"Eu preciso de todos esses pedidos em menos de meia hora". Falo pela terceira vez, já sem paciência.
"Não tem como conseguir todos tão rápido, eu precisaria de um exército". O atendente de publicidade fala em desespero.
"Então contrate um, não podemos perder essa oportunidade ou o Sr. Parker vai nos matar". Suspiro cansada e pego as caixas da mão dele.
Deixo-o para trás com seu grande problema e caminho até meu escritório para resolver os meus grandes problemas. Eu estava trabalhando há uma semana e não tinha um segundo de paz. Havia algo errado com alguns contratos e achei melhor revisar algumas empresas afiliadas. O Sr. Parker costumava investir em produtos e, assim, em empresas afiliadas. Por precaução, fui estudar essas empresas e algumas eram muito estranhas, me mantendo acordada à noite para tentar entender melhor como esse negócio funcionava.
O Sr. Parker tinha viajado assim que comecei a trabalhar e só voltaria hoje. Ele estava assinando novos contratos, o que significa mais empresas estranhas para me manter acordada à noite. Mas eu precisava garantir que os novos produtos estivessem prontos para serem apresentados amanhã e, para piorar minha vida, um acidente havia acontecido na empresa. Algumas das amostras tinham sido quebradas ou amassadas, tornando totalmente inviável usá-las para fins de demonstração. Eu tinha que resolver isso antes que o Sr. Parker chegasse, descobrir tudo e demitir um andar cheio de funcionários. Eu podia fazer isso, só precisava dos superpoderes do Flash.
"Laura, o Sr. Parker pediu para você assinar a contabilidade da empresa". Luísa fala ao entrar no meu escritório.
Luísa era a recepcionista do andar e também compartilhava alguns serviços comigo.
"Como?" Pergunto chocada.
"Foi o que a Joy da contabilidade disse e ele quer que você assine agora, ele precisa terminar tudo antes que o Sr. Parker chegue". Ela responde.
Arregalo os olhos e deixo as caixas caírem da minha mão, fazendo Luísa me olhar confusa com minha reação.
"Eu te ajudo". Ela diz caminhando rapidamente em minha direção e me ajudando a organizar a bagunça. "Você está bem?" Ela pergunta me olhando confusa.
"Estou bem". Respondo sem olhar para ela e forçando um sorriso. "Mas não quero ver ninguém, você pode só me trazer os relatórios?" Pergunto, e ela me olha surpresa, mas depois acena com a cabeça.
Ela sai do escritório depois de me ajudar a organizar tudo e eu suspiro. Vou até a porta e olho disfarçadamente para a recepção, tentando me esconder o máximo possível. Joy estava conversando com Luísa com um sorriso e parecia normal. Não havia nada de diferente nele, na verdade, eu diria que ele estava sorrindo mais. Era a segunda vez que eu o via, da primeira vez tive que me esconder atrás da geladeira na sala de descanso por mais de 10 minutos.
Não era difícil evitá-lo, afinal trabalhávamos em áreas diferentes, em horários diferentes e em andares diferentes. Ele logo sai e eu começo a respirar normalmente de novo. Meus planos estavam um tanto paralisados, já que nada parecia suficiente. Destruir o carro dele, queimar suas roupas, e até mesmo contratar um assassino de aluguel, nada disso parecia suficiente. Eu queria que ele se sentisse exatamente como eu, só que muito pior.
Eu me condenava na maioria das vezes que esses pensamentos tomavam conta da minha cabeça, mas não conseguia parar o impulso. Não é uma questão de ceder a desejos errados, mas de fazer justiça. Ele prometeu e não cumpriu, não deveria lidar com as consequências? Só que nesse caso, eu criaria as consequências. As consequências de trair uma pessoa que deu sua vida em troca da felicidade dele.
Eu me condenava na maioria das vezes que esses pensamentos tomavam conta da minha cabeça, mas não conseguia parar o impulso. Não é uma questão de ceder a desejos errados, mas de fazer justiça. Ele prometeu e não cumpriu, não deveria lidar com as consequências? Só que nesse caso, eu criaria as consequências. As consequências de trair uma pessoa que deu sua vida em troca da felicidade dele.
Luísa coloca os papéis na minha mesa e eu agradeço, olhando para eles com um sorriso. Eu ainda não sabia como, mas não desistiria até conseguir minha vingança.
[***]
"Vamos mentir para o nosso chefe?" André pergunta com sua voz de medo mais uma vez.
Era noite e nós tínhamos acabado de arrumar a sala para a grande reunião do dia seguinte. Conseguimos os produtos a tempo e tudo estava indo conforme o planejado.
"Não é mentir, é só omitir. Os produtos quebraram, mas que diferença faz? Eles já foram substituídos e tudo vai seguir conforme o planejado, então não há razão para criar uma situação ruim". Falo pela milésima vez, enquanto coloco os folhetos com informações dos produtos nas mesas.
"Ele vai descobrir, o Sr. Parker sempre descobre". Ele fala com uma voz de medo.
Eu o analiso com um sorriso de canto, rindo da expressão dele. Ele era um homem de estatura pequena, mas muito bonito. Mas o que ele tinha de beleza, tinha de medo do chefe. Seus lábios estavam ligeiramente esbranquiçados e ele tinha um olhar preocupado no rosto. Parecia uma criança com medo da mãe depois de fazer algo errado.
"Ele não tem como descobrir". Me aproximo dele com um sorriso e coloco minhas mãos em seus ombros, tentando acalmá-lo. "O Sr. Parker não precisa saber que fomos heróis e o bônus é que todos lá embaixo vão poder manter seus empregos. Então você não precisa se preocupar, tá bom?" Pergunto com um sorriso.
A expressão dele se aliviou e ele me deu um sorriso, concordando imediatamente comigo. Tenho a impressão de que estamos sendo observados e olho para a porta, vendo o Sr. Parker parado lá nos observando seriamente. A expressão dele não era das melhores e ele parecia estressado. Rapidamente me afasto de André e coloco um sorriso educado no rosto.
"Sr. Parker, é um prazer vê-lo novamente". Falo com um sorriso sem brilho, já que ele estava nos encarando seriamente.
"O que vocês estão fazendo?" Ele pergunta seriamente e olha para André de uma maneira estranha.
Franzo a testa e André e eu trocamos olhares, sem entender o que estava acontecendo.
"Estávamos organizando a sala para garantir que tudo corra perfeitamente na reunião de amanhã". André responde com um sorriso forçado, parecendo desajeitado com o tratamento estranho de Parker.
"Obrigado pelo trabalho, vocês podem sair agora". Ele responde seriamente e olha para mim.
Olho para André e forço um sorriso, retribuindo seu sorriso de despedida. Ele sai da sala e então eu olho novamente para o Sr. Parker, que ainda estava me olhando. O olhar dele era sério e de alguma forma eu senti que era de reprovação.
"Espero que você não tenha hora para sair, quero um relatório completo de tudo o que aconteceu na minha ausência". Fala seriamente e eu assino com a cabeça.
Ele sai da sala e eu rapidamente o sigo. Entro no meu escritório e pego algumas pastas, indo rapidamente para o escritório do Sr. Parker. Ele estava tirando o paletó quando entrei no escritório e pude ver todos os músculos contraídos. Além de ter um rosto bonito, ele ainda tinha que ter um corpo digno de um deus grego? Tento desviar o olhar e encarar o chão, respirando fundo e tentando não notar muito meu chefe. Isso era estranho, sem mencionar que a personalidade dele era um tanto peculiar.
"Comece". Ele fala com sua voz autoritária de sempre.
"Estes são todos os resultados dos produtos desta semana, incluindo lucros e impressões do mercado". Falo, colocando todas as pastas na mesa e entregando uma para ele.
"Resuma para mim". Fala e me encara.
O olhar dele me observava atentamente, o que me fez desviar o olhar rapidamente. Era impossível não ficar nervosa quando um homem como aquele me encarava.
"Alguns estão gerando bons lucros e com boas impressões no mercado, mas alguns precisam ser revisados ou até cancelados". Falo tentando manter meus olhos erguidos. Estou fazendo algumas pesquisas mais aprofundadas. "Terminei".
"Quero uma resposta o mais rápido possível". Ele fala e eu assino com a cabeça.
Ele pega outra pasta e começa a passar pelo conteúdo. Também faço um breve resumo de outras coisas que aconteceram e o atualizo.
"É só isso?" Ele pergunta depois que termino, mas estava olhando para um documento.
"Sim, senhor". Respondo enquanto ele começa a empilhar as pastas que já tinha visto.
"Tem certeza de que não está omitindo nada?" O tom de voz dele soa um tanto sarcástico.
Olho para ele surpresa e ele me encara atentamente. Será que ele tinha ouvido o que eu disse?












































