Capítulo 9
A consciência escorre como água pingando de uma torneira. Uma gota de cada vez.
Levanto minha cabeça que pesa uma tonelada. Minha mão sonda o chão—pedra fria e lisa. Desgrudo minhas pálpebras, nada além de uma névoa negra ao meu redor. Minhas memórias voltam e o alarme me faz levantar de repente, minha visão se clareando. Me arrasto para trás até minhas costas baterem na parede, afastando mechas sujas do meu rosto.
Estou em uma cela. Uma cela parecida com uma masmorra.
Observo meu entorno, a câmara de pedra envolta pela escuridão impenetrável que é tão densa e sufocante. É como se alguém tivesse me jogado em um poço sem fundo. Estreito os olhos para a linha de barras de aço enferrujadas. Balanço a cabeça, a náusea lentamente se esvaindo como a maré recuando.
O que aconteceu com minha mãe? Calum? Eles estão seguros? Foram capturados também?
Não pode ser. Sou eu quem eles querem.
... Sou eu quem eles querem.
Isso significa que Gaza me pegou? Penso, tentando juntar as peças da minha conversa com o motorista para completar o quebra-cabeça. Ele disse que trabalha para a Aztech. Zenith. E que eu não devo ser machucada. Eles querem algo de mim.
Meu peito se expande, comprimido por um peso insuportável. Tenho que sair daqui.
Como e para onde? Estou presa em uma masmorra de quatro por quatro sem um pingo de esperança de que a salvação esteja além. Minha mente mergulha fundo no pior cenário possível... tortura... morte. Mas nada me assusta mais do que a segurança da minha família ou a falta dela. Que seja o que for que aconteça, fui eu quem os colocou em perigo. Minha mãe e Calum são tudo o que tenho neste mundo, e tudo o que amo. Minha mão se levanta, apertando o crucifixo que pende do meu pescoço. Se algo acontecer a eles, isso me destruiria.
O tempo passa devagar. Meu cérebro ferve em tormento, reproduzindo mil diferentes realidades alternativas do que acabou de acontecer e do que acontecerá. Tudo por causa de uma escolha que fiz—um clamor distante interrompe minha linha de pensamento. Sento-me ereta contra a parede. O barulho se repete, seguido por um rangido metálico. Meu coração dispara. Um ruído áspero cresce, ecoando nas paredes. Um ponto de luz surge. Ele se expande como o amanhecer rompendo a noite, com o som de passos se aproximando a uma velocidade tranquila, um andar que denota importância.
Uma figura masculina se coloca diante da boca de aço.
"Senhorita Moor... nos encontramos novamente," ele diz com uma cadência casual, sua voz imbuída de charme natural. Um sotaque tão refinado.
Reconheço aquela voz.
Ele se aproxima, revelando seu rosto com um sorriso. "Peço desculpas pela reunião rude. Mas não havia outra maneira de interceptá-la com segurança."
Respiro fundo, tentando me acalmar. "Então, é isso que o COO da Zenith faz em seu tempo livre?" Inclino a cabeça, encostando as costas na pedra fria. "Drogam e sequestram mulheres?"
"Apenas as problemáticas," ele diz com ênfase, aludindo à nossa última conversa. "Especialmente aquela com uma recompensa de um milhão de dólares por sua cabeça bonita."
Um milhão! Droga, Gaza realmente quer seu livro de volta.
Meus olhos se voltam para suas mãos. Ele está segurando algo.
Curioso, Torin olha para baixo e finge surpresa, levantando a pasta no ar, depois a agitando. "Oh, isso?" Ele a abre e folheia pensativamente. "Sim, esta é toda a informação que tenho sobre Hadassah Moor."
Minha cabeça se inclina para um lado. "Você tem um arquivo sobre mim?"
Ele sorri, seus dentes luminosos. "Eu tenho um arquivo sobre todos." Seu dedo desliza pelos registros. "E o seu é fascinante. Você realmente lutou para sair da sarjeta. Um dedo-duro, que virou informante, que virou detetive particular licenciado. A história de uma garota negra determinada, desesperada para se ver no topo."
A raiva surge dentro de mim, aquecendo meu sangue. "Desesperada?"
"Eu posso admirar alguém que não coloca limites em suas ambições. Eu posso me identificar." Ele fecha o arquivo, fixando seu olhar em mim com uma expressão severa. "Mas não alguém que se colocaria em uma situação tão perigosa. Muito... descuidada. Idiota até."
Desvio o olhar. "Veja, esse é o problema de um arquivo. Ele não te conta o porquê ou como. Como uma criança trabalhou nas ruas, construiu uma rede de informantes informais que só confiavam nela. Um ativo para as agências de aplicação da lei porque ela conhece pessoas que conhecem pessoas maiores."
Torin acena lentamente com a cabeça. "Foi assim que você conseguiu sucesso," ele afirma como um fato. "O caso da Bratva três anos atrás, onde apreenderam cem milhões em armas e drogas. Você ganhou uma comissão de dez por cento de toda essa apreensão. Um grande impulsionador de carreira."
A irritação acelera meu sangue. "Eu nunca ganhei nada. Eu trabalhei para isso. E ao contrário de criminosos corporativos como você, eu não faço isso pelo dinheiro."
"Como é presunçoso da sua parte assumir que esse é o meu motivo." Ele se inclina para frente inquisitivamente. "Por que você faz o que faz?"
Solto um suspiro irritado. Usando a parede, deslizo para ficar de pé, semi-instável. "Por que você faz o que faz?" devolvo. "Você não é o único com arquivos sobre pessoas de interesse."
Torin se endireita. "Tenho certeza de que não são tão extensos."
"Vamos ver," digo, como se estivesse aceitando um desafio. "Torin Moon, que tem uma educação em uma universidade da Ivy League, recebeu seu mestrado em administração de empresas em Oxford. Depois de explorar seus próprios fracassos empresariais, você se juntou ao irmão mais velho para dominar o mundo corporativo. Um excedente de capital não contabilizado para construir um império sobre os ossos de pessoas inocentes. Neutralizando testemunhas que vão contra a Zenith, evidências desaparecendo magicamente. Com sussurros de laços com chefões do crime." Um sorriso puxa meus lábios. "Perdi alguma coisa?"
Ele permanece em silêncio como se estivesse deliberando sobre algo. "Talvez tenha." Ele levanta a pasta novamente. "Sabe o que mais me fascinou no seu arquivo? Seu perfil psicológico." Veneno envenena seu tom. "Quem diria que a lendária investigadora era tão talentosa quanto especial. A condição tem um nome... qual era mesmo? Hipertimesia." Ele solta uma risada sarcástica. "Deve ser um inferno se você passou por traumas."
Memórias enterradas tentam emergir. Respiro fundo para afastá-las.
"Há outros transtornos mentais que eu deveria saber?"
"Por que estou aqui?" Tento suprimir minha surpresa ao sentir que meu telefone ainda está no meu bolso de trás. "Você planeja me entregar pessoalmente ao Gaza e coletar a recompensa?"
Ele explode em uma risada curta. "Você realmente acha que precisamos ou queremos o dinheiro dele?" Ele zomba da ideia. "Eu ganho mais em uma hora do que ele ganha em um mês."
Finjo um bocejo alto. "Se você terminou de medir quem é maior, gostaria de saber por que fui sequestrada!"
Ele abre a boca, mas um estrondo estridente faz seus lábios se fecharem em silêncio.
"Quem é?"
Torin lança um olhar por cima do ombro.
Uma silhueta hercúlea emerge das sombras, ficando diante das grades da cela.







































































































































