Um.

A grama molhada havia encharcado completamente as calças de trabalho de Sammy, deixando-a fria e desconfortável enquanto ela se afastava do recinto dos lobos, em direção aos escritórios.

O ar de outono estava decididamente mais frio agora, e como era o fim do dia, ela suspirou aliviada ao pensar em um longo banho quente e uma noite relaxante sem fazer nada.

Ela estava apenas rabiscando suas anotações de medicação no calendário, quando Susan, sua chefe e amiga próxima, entrou no escritório.

— Menina, você parece um rato molhado — ela riu.

— Eu me sinto como um rato molhado — Sammy riu de volta. — Dei o vermífugo para a matilha hoje, mas com a gravidade do surto, provavelmente deveríamos dar outra dose em quinze dias — ela informou Susan. — E agora, vou tomar um banho quente.

— Isso é ótimo, mas é melhor você garantir que seja rápido — Susan sorriu, calculando.

Sammy se enrijeceu. — Por quê?

— Porque você vai com Tom e eu para a casa assombrada — ela concluiu. — E, não, você nos deu o cano nos últimos dois anos, então compramos um ingresso para você. Desta vez você vai. Sem desculpas. — Então ela acrescentou maliciosamente: — Ou vou te colocar para limpar os gambás até o Natal.

O rosto de Sammy se alargou em alarme. — Tudo bem, tudo bem. Eu vou. Nossa, não precisa ficar homicida comigo. — Ela riu, enquanto pegava as chaves do carro. — Que horas, e me mande as direções, eu encontro vocês lá.

Susan pulou de excitação. — Considere feito, querida.


Algumas horas depois, Sammy estava dirigindo por um longo e muito escuro corredor de árvores. Pinheiros gigantes se erguiam e cobriam a estrada; se não fosse pelos faróis, ela estaria na completa escuridão, toda a luz da lua escondida de vista.

Passaram-se mais quinze minutos antes que ela sentisse que estava de volta à terra dos vivos. Ela havia chegado a Armitage, a cidade local de onde o Santuário de Animais em que trabalhava obtinha a maioria de seus suprimentos.

Era uma cidade para a qual Sammy mesma estava se mudando na próxima semana, e ela mal podia esperar para sair do trailer em que passou os últimos dois anos, no local do Santuário de Vida Selvagem onde trabalhava.

Sim, ela ainda seria obrigada a ficar lá para o turno noturno ocasional se um animal estivesse doente, mas ter paredes permanentes ao seu redor e encanamento e aquecimento decentes seria um luxo que não poderia chegar rápido o suficiente.

As luzes da rua nesta parte da cidade, no entanto, pareciam estar diminuindo, quanto mais perto ela chegava do fim das direções de Susan. Até que ela parou em uma entrada escura, de uma mansão gigantesca.

Vendo o caminhão solitário de Susan, ela estacionou seu pequeno carro ao lado dele e saiu.

Mas sem os faróis, a única luz disponível era uma única lâmpada de varanda fraca, iluminando mal uns quatro metros ao seu redor.

Pegando seu celular, ela primeiro foi procurar o aplicativo de lanterna.

— Aaarrghhh! — Veio um rugido estrondoso, enquanto duas grandes mãos caíam sobre seus ombros.

Antes que pudesse se conter, Sammy grunhiu, girou e socou seu agressor na máscara macabra.

— AOW, sua desgraçada! Cristo, Sammy, exagera muito? — Veio o sotaque irlandês suave.

— Tom? — Sammy começou a sorrir. — O que diabos você achou que estava fazendo?

Susan de repente começou a gargalhar, atrás de seu caminhão.

— Isso foi impagável! — Ela engasgou entre risos.

— Essa é a última vez que eu cedo às suas ideias, Sue! — Tom reclamou. — Droga, se não fosse pela máscara, você teria quebrado meu nariz.

— Desculpa, Tom — Sammy sorriu. — Acho que você não deveria se aproximar sorrateiramente das mulheres então.

— É, tanto faz. Só lembre-se, isso é para ser divertido e em nenhum momento você deve socar os atores — Tom resmungou, jogando sua máscara na traseira do caminhão.

— Vou fazer o meu melhor — ela riu de volta, entrelaçando o braço com Susan enquanto se dirigiam para a luz fraca.

— Onde exatamente está todo mundo? — Sammy perguntou, sentindo-se apreensiva.

— Ah, somos só nós — Tom respondeu.

— O quê? — Sammy respondeu, confusa.

— Eles só permitem um grupo por vez, melhora a experiência e permite que eles reajustem as ilusões. Agora vamos — Susan afirmou, puxando Sammy pelos pequenos degraus até a porta.

Sammy sentiu seus nervos em chamas de apreensão, e definitivamente não conseguia se livrar da sensação de estar sendo observada. Puxando seu capuz vermelho mais para cima, ela engoliu o nervosismo e observou enquanto Susan empurrava a porta, que se abriu com um rangido audível.

Um uivo de lobo soou em algum lugar próximo, enquanto a porta se fechava com um estrondo atrás delas.

Embora o uivo não tenha assustado Sammy, o barulho alto e inesperado sim.

A casa estranha estava completamente escura e mortalmente silenciosa.

— E agora? — Sammy sussurrou apreensiva.

— Agora, esperamos... — A voz de Susan retornou, terminando em um grito.

— OOOMPH — veio a expiração de Tom.

— Gente? Gente? — Sammy chamou, mas seus amigos haviam sumido, ela estava sozinha.

Seu coração acelerou, enquanto o som de arranhões chegava aos seus ouvidos. Estava vindo de cima dela. A espinha de Sammy começou a formigar de alerta enquanto ela recuava em direção à porta, forçando os olhos na tentativa de distinguir qualquer coisa ao seu redor.

Ela estava mais perto da porta do que pensava, mas estava quente e... respirando?

Antes que pudesse reagir, dois braços a envolveram e o som de arranhões parou.

— Você é minha, Chapeuzinho Vermelho — veio um rosnado ao lado de seu ouvido.

Apesar de sua bravata no carro, ela congelou. Os braços ao seu redor eram como aço, e a respiração em seu pescoço enviava um tremor de medo por todo o seu corpo.

De repente, ela foi levantada e vendada.

— ME SOLTA — ela gritou, fazendo o homem rir.

— Uma coisinha bonita como você? — Ele a desafiou. — Nem em um milhão de anos.

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