Capítulo 1
PONTO DE VISTA DE JAX
Eu estava observando Layla Stevens há cerca de sete anos.
Um favor, a princípio. Depois um trabalho, tecnicamente. Adam Crest, apaixonado e obcecado, queria alguém de olho nela, alguém que pudesse ficar fora do radar. Indetectável e despercebido. Esse alguém era eu.
Não era difícil. A garota levava uma vida previsível, na maior parte do tempo. Suas rotinas se encaixavam perfeitamente em caixas... trabalho, apartamento, a ocasional saída à noite onde ela se soltava. Ela tinha hábitos. Pontos cegos. Aquele tipo de energia caótica que provavelmente atraiu Adam.
Mas eu nunca me interessei pela vida dela ou pelo que diabos ela fazia. Não realmente.
Até dois anos atrás.
Até ele aparecer.
Eu não sabia o nome dele no começo. Só o vi uma manhã... cabelo preto bagunçado, tênis gastos, um andar como se não se importasse se o mundo olhasse. O tipo de homem que não se encolhe com a atenção, mas também não a busca.
Só existia. Alto. Obsceno. Contente.
Algo mudou em mim no segundo em que o vi.
Foi químico. Animal.
Repentino.
Um olhar, e a espiral no meu peito apertou... afiada e faminta. E eu fiz o que sempre faço quando algo me incomoda.
Eu observei.
O nome dele era Xander Devereaux. Cheio de tatuagens e ocasionalmente boca suja.
Nunca trancava a maldita porta na maioria dos dias. Toda manhã, a mesma rotina... saía pontualmente às 6:50, bolsa de academia sobre um ombro, fones de ouvido, mandíbula tensa como se já tivesse brigado com três pessoas na cabeça antes de sair do prédio.
Ele corria até a academia a seis quarteirões dali, fazia peito e tríceps nas segundas-feiras. Pernas nas quartas. Sextas eram de cardio, e ele sempre saía irritado, como se sua própria resistência o tivesse ofendido pessoalmente.
Ele bebia seu shake de proteína no caminho de volta, suor esfriando no pescoço... o mesmo trajeto toda vez, passando pela padaria com a placa rachada, passando pelo beco que ele nunca olhava.
Ele guardava a chave no bolso esquerdo. Sempre limpava as solas dos sapatos antes de entrar, como se o chão daquele apartamento fosse sagrado.
Ele nunca soube que eu estava lá.
Observando.
Eu dizia a mim mesmo que não era nada.
Curiosidade ou talvez hábito... um efeito colateral de estar entediado no trabalho.
Eu estava bem observando de longe. Bem fingindo que ele não me afetava. Que eu não acordava duro, imaginando como seria a boca dele envolta no meu pau, ou como sua garganta se flexionaria enquanto engolia tudo que eu tinha para dar.
Eu mantinha a linha traçada... fria, calculada.
Até agora.
Olhei novamente para a mensagem de Adam.
"Preciso que você pegue Layla e a traga até aqui. Diga que você é meu assistente."
Mensagem simples. Pedido básico.
Mas eu olhei para ela por tempo demais. Mandíbula tensa. Pulso mais alto do que deveria estar.
Porque Layla estava na Ziggler Ink, no mesmo lugar onde ele trabalhava.
Eu podia sentir... aquele lento e delicioso desenrolar. O desfiar de uma linha que eu não tinha certeza de ter traçado com firmeza. Um pé sobre a borda. Um passo mais perto do lugar que eu jurei não ir. Havia uma ponte na minha frente, uma que eu construí com sombras e silêncio. E eu estava prestes a atravessá-la.
Então agora eu estava parado do lado de fora da Zig’s, cigarro preso entre os dedos, queimando lento e amargo entre as tragadas. O céu estava opaco, lavado, como se não conseguisse decidir se queria chover ou se abrir.
Dei uma última tragada, segurei nos pulmões até doerem, então joguei o filtro no chão. Pisei com a ponta da bota e torci.
Vozes, risadas e música baixa filtravam pela porta.
Ele estava lá dentro... Xander.
Eu já conhecia o som da sua voz. O tom rouco sob a risada. A maneira como suas palavras sempre saíam com muita mordacidade, muito charme. O tipo de voz que permanecia em uma sala muito depois de ele sair.
Abri a porta e o calor me atingiu... tinta, couro, café, barulho.
Eu examinei o espaço. Nem deixei meus olhos passarem por ele. Em vez disso, encontrei Layla, empilhando alguns folhetos.
“Você está pronta?” perguntei.
Ela piscou. Seus olhos percorreram meu corpo, jaqueta preta, botas, nós dos dedos ainda cicatrizando de uma briga que eu nem me preocupei em lembrar. Eu quase podia ouvir ela pensando "você não parece um assistente pessoal."
Dei de ombros. “Crest me mandou.”
Eventualmente, ela levantou o dedo, tocando no celular para confirmar com ele.
Eu não ouvi o resto.
Porque eu podia sentir ele.
Seu olhar atingiu o lado do meu rosto como calor vindo do concreto. Fixo e intenso. Como se estivesse estudando um problema, e eu fosse a parte que não se encaixava.
Cerrei o maxilar e jurei que não olharia. Não viraria. Não daria a ele a satisfação de me puxar ainda mais para dentro de qualquer correnteza distorcida em que eu já estava preso.
Mas então, justo quando Layla e eu estávamos saindo, ele falou.
“Qual é o seu nome? Só para o caso de ela desaparecer e precisarmos de algo para dar aos policiais?” ele chamou. Voz casual, mas com algo afiado. Seus olhos castanhos estreitando ligeiramente... cauteloso, como se soubesse que não deveria olhar por muito tempo.
Mas olhou mesmo assim.
E por baixo da cautela, havia calor.
Baixo e borbulhante. Do tipo que tremula atrás das costelas quando o perigo parece desejo. Seu olhar varreu sobre mim como um desafio que ele ainda não tinha decidido se aceitava ou sobrevivia.
Eu olhei direto para ele.
Ele estava em pé ao lado de uma grande mesa, focado em um banner meio acabado. Pernas longas plantadas firmemente, mangas arregaçadas, dedos tatuados sujos de tinta e pintura enquanto arrastava um pincel sobre a tela em movimentos lentos e deliberados.
Seus lábios se abriram, só um pouco, e eu o vi engolir, com força. Como se o que ele visse em mim não fosse o que esperava.
Meu olhar caiu para sua boca. Merda.
Eu imaginei aqueles lábios ao meu redor. Rápidos e desesperados.
Pisquei uma vez. Afastei o pensamento. Essa era uma linha que eu não cruzaria. Não com alguém como ele. Não com o cara que ria demais, vivia alto demais, parecia não saber o que significava estar tão dolorosamente e completamente destruído.
“Meu nome é Jax,” eu disse finalmente, voz baixa, cortante.
E assim, parecia que algo se selou. Como um trinco fechando em torno de algo que eu não pretendia oferecer. Algo que eu lutei para manter intocado. O nome dele não deveria importar, o meu menos ainda... mas no segundo que saiu da minha boca, o ar mudou.
Algo se acomodou. Algo se prendeu.
Isso... só estar tão perto dele, respirando o mesmo maldito ar, era o máximo que eu tinha sentido desde...
