Capítulo 2
PONTO DE VISTA DE XANDER
Eu estava correndo o último trecho de volta para o meu apartamento, shake de proteína na mão, suor secando desconfortavelmente nas minhas costas nuas. Ainda tinha que tomar banho, pegar os ingressos para o Arcadia Bloom e chegar ao trabalho antes que Zig percebesse que eu ainda não estava lá. Eu estava atrasado... de novo. Mas eu sempre dava um jeito.
Minha mente já estava pulando para a noite de hoje, fazia um tempo que eu não ia a um clube exclusivamente gay e já estava na hora. Talvez o Lucid? Sem cobrança de entrada antes das dez, música meio decente e geralmente algum garoto magro, de olhos arregalados, disposto a ir para casa comigo e me deixar dobrá-lo sobre o balcão da cozinha. A gente transaria até extravasar a loucura mútua, sem amarras, sem nomes, sem arrependimentos. Apenas o tipo de automedicação que me impedia de sair da minha pele.
Virei a esquina do meu prédio, desenroscando a tampa do meu shake quando diminui o passo. Só um pouco. Como se algo no ar tivesse mudado... estática, tensão, chame do que quiser. Pisquei e estreitei os olhos.
Não é possível.
Parei no meio do passo, a mão congelada a meio caminho da boca, o coração dando um salto estúpido. Ótimo. Agora estou alucinando com um cara que não posso ter.
Encostado na parede de tijolos, moletom preto puxado até os cotovelos, botas cruzadas nos tornozelos.
Jax.
Meu peito apertou antes que meu cérebro pudesse acompanhar.
Diminui o passo, estreitei os olhos. Pisquei. Porque eu tinha que estar imaginando isso. Não tinha como ele estar realmente aqui. Minha mente estava rodando em círculos sobre ele ultimamente, claro, mas isso? Isso era outra coisa. Uma alucinação em full HD.
Mas não. Quanto mais eu me aproximava, mais real ele se tornava. O mesmo cabelo loiro escuro, os mesmos olhos escuros e perturbadores, a mesma expressão indecifrável que me fazia sentir como se estivesse perto demais da beira de algo íngreme e estúpido.
Eu ainda estava sem camisa, suor grudando em mim, shorts de academia caindo baixo nos meus quadris. Apertei o shake de proteína, resistindo ao impulso infantil de segurá-lo na frente do meu pau.
Minha boca ficou meio seca.
Ele apenas me observava. Olhos firmes, sem piscar. E eu olhava de volta. Porque que porra é essa?
Um momento passou. O olhar dele caiu, deslizou lentamente pelo meu peito, sobre meu estômago suado, e depois voltou, e meu pau deu um espasmo, como o traidor que era.
Eu deveria ter desviado o olhar. Eu queria. Mas caramba, ele estava apenas parado ali, irradiando calor como se soubesse exatamente o que fazia comigo. E talvez soubesse.
Olhei ao redor, como se talvez alguém fosse sair e explicar o que diabos estava acontecendo. Sem sorte.
"Oi?"
As palavras escaparam antes que eu pudesse filtrá-las. Fraco. Não era meu estilo. Eu estava acostumado a controlar o ambiente, definir o tom. Mas esse cara? Ele me desequilibrava, e eu odiava isso.
Ele não disse nada a princípio. Apenas deu um passo à frente.
Meu corpo ficou tenso. Luta ou fuga entrando em ação, mas com uma terceira opção surgindo... desejo.
Eu não me movi. Não recuei. Mesmo quando meu instinto dizia que eu deveria. Mesmo quando algo quente e torcido se enrolou no fundo do meu estômago, igual à primeira vez que coloquei os olhos nele.
Será que ele se lembrava daquele momento?
Eu definitivamente lembrava, tinha sido um piscar, um olhar. Mas ficou comigo, como vidro sob a pele. Eu lembrava de me sentir observado. Conhecido... fixado.
"Tá bem?" perguntei, voz rouca. "Precisa de algo?"
Aquilo pareceu diverti-lo. Um sorriso lento se formou em sua boca, seco e com algo mais afiado.
"Você," ele disse.
De repente, seus dedos estavam no meu cabelo... profundamente nele. Puxando.
Eu sibilei, o ar saindo de mim. "Que porra é essa—"
Seu aperto não afrouxou. Ele apenas me encarou como se eu fosse a resposta para uma pergunta que ele vinha tentando não fazer.
"Você está se tornando um problema sério," ele disse, casualmente, como se estivesse me dizendo a previsão do tempo. Apenas essas merdas de apocalipse casual.
Eu agarrei seu pulso, mandíbula travada. Não puxei imediatamente. Talvez eu devesse. Talvez eu quisesse ver o que ele faria em seguida.
"Quer soltar, ou eu te dou uma joelhada nas bolas primeiro?"
Mesmo assim, ele não se mexeu. Apenas me olhou com aqueles olhos escuros que não tinham motivo para serem tão intensos.
"Estive pensando," ele disse, o tom calmo demais para o caos que crepitava entre nós. "E percebi que há apenas uma solução."
Eu arranquei sua mão do meu cabelo, quase certo de que ele tinha arrancado alguns fios, minha respiração mais rápida do que deveria. "Do que diabos você está falando?"
Ele não piscou. "Vou ter que te foder pra te tirar do meu sistema."
Minha mente ficou em branco. Como um verdadeiro ruído branco. Eu o encarei, certo de que não tinha ouvido direito. Mas o calor emanando dele dizia o contrário. Ele quis dizer cada palavra.
"Você é maluco," eu disse, ainda tentando processar o que diabos tinha acabado de sair da boca dele.
Ele piscou lentamente. "Provavelmente. Mas não muda o que eu disse."
Naquele momento, eu queria bater nele. E beijá-lo. E empurrá-lo contra a parede e descobrir o que diabos era isso que estava me corroendo por dentro. Mas eu também queria correr. Queria arrancá-lo de mim antes que ele fosse mais fundo.
Ele enfiou a mão no bolso dos meus malditos shorts e tirou meu telefone. Eu nem tive tempo de reagir antes que ele tocasse a tela, então o estendeu para mim, firme e expectante.
"Desbloqueia."
Eu pisquei para o telefone. Depois para ele. "Você está brincando."
Ele não estava brincando.
Dei um passo para trás, o instinto entrando em ação.
"Me dá meu maldito te–"
"Shhh."
Minha boca se abriu em choque. Ele literalmente acabou de me mandar calar a boca. Um dedo levantado. Como se eu fosse uma criança travessa na igreja e não um homem adulto. Eu o encarei em descrença.
Então ele disse de novo... quieto, calmo, mas firme.
"Desbloqueia."
Não era uma pergunta, era uma ordem. Como se ele tivesse algum direito.
E eu não sei o que diabos estava errado comigo, talvez fosse o jeito que ele estava ali como se tivesse todo o tempo do mundo, ou o fato de que meu corpo ainda estava zumbindo pelo jeito que ele tinha acabado de puxar meu cabelo como se fosse dele... mas de alguma forma, eu fiz isso.
Eu realmente fiz isso.
Meus dedos se moveram no piloto automático. Toque. Deslize. Código. Desbloqueado.
Ele digitou o número dele como se pertencesse ali, então ligou para si mesmo. O telefone dele vibrou um segundo depois e ele assentiu como se algo tivesse sido resolvido. Como se um acordo tivesse sido feito.
Ele me devolveu o telefone, e eu o peguei antes que ele pudesse ficar ainda mais imprevisível e fazer outra coisa com ele.
Então ele se virou e começou a se afastar. Sem explicação, nem mesmo um olhar para trás.
"Ei!" Eu gritei atrás dele. "Vou te bloquear, seu maluco."
Ele levantou a mão em um aceno preguiçoso.
"Não vai não," ele respondeu. Calmo. Certeiro. Como se já fosse um fato. E eu fiquei ali, irritado e confuso pra caralho, olhando para o meu telefone como se ele pudesse começar a soltar fumaça.
E a pior parte?
Ele provavelmente estava certo.
