Capítulo 3
Sandy Benson, a oficial de comunicações de plantão, parecia ter sido criada a partir de um tubarão e um machado. Olhos negros, traços afiados, lábios tão finos que poderiam muito bem não existir. A história a bordo era que ela havia aceitado o trabalho para escapar da acusação de matar um ex-marido. Rotfold gostava dela.
"Sinal de emergência," ela disse. "Recebi há duas horas. A verificação do transponder acabou de voltar de Reel. É real."
"Ah," disse Rotfold. E então: "Droga. Somos os mais próximos?"
"Única nave a alguns milhões de quilômetros."
"Bem. Isso faz sentido," disse Rotfold.
Sandy voltou seu olhar para o capitão. Cilliam estalou os dedos e olhou para sua tela. A luz do monitor dava a ele um tom esverdeado estranho.
"Está próximo a um asteroide não mapeado pelo Trem," disse Cilliam.
"Sério?" Rotfold disse, incrédulo. "Eles bateram nele? Não há mais nada por aqui por milhões de quilômetros."
"Talvez tenham parado porque alguém precisava ir ao banheiro. Tudo o que sabemos é que algum idiota está lá fora, emitindo um sinal de emergência, e somos os mais próximos. Supondo..."
A lei do sistema solar era inequívoca. Em um ambiente tão hostil à vida como o espaço, a ajuda e a boa vontade dos seus semelhantes não eram opcionais. O sinal de emergência, só por existir, obrigava a nave mais próxima a parar e prestar socorro - o que não significava que a lei fosse universalmente seguida.
A Star Trik estava totalmente carregada. Bem mais de um milhão de toneladas de gelo haviam sido aceleradas suavemente no último mês. Assim como o pequeno glaciar que esmagou o braço de Cruise, seria difícil desacelerar. A tentação de ter uma falha de comunicação inexplicável, apagar os registros e deixar o grande deus Dustin fazer o que quisesse estava sempre presente.
Mas se Cilliam realmente tivesse essa intenção, ele não teria chamado Holden. Ou feito a sugestão onde a tripulação pudesse ouvi-lo. Rotfold entendia a dança. O capitão seria aquele que teria ignorado a situação, exceto por Rotfold. Os grunhidos respeitariam o capitão por não querer cortar o lucro da nave. Respeitariam Rotfold por insistir que seguissem a regra. Não importava o que acontecesse, o capitão e Rotfold seriam odiados pelo que eram obrigados por lei e mera decência humana a fazer.
"Temos que parar," disse Rotfold. Então, corajosamente: "Pode haver salvamento."
Cilliam tocou sua tela. A voz de Oda veio do console, tão baixa e quente como se ela estivesse na sala.
"Capitão?"
"Preciso de números para parar esta lata," ele disse.
"Senhor?"
"Quão difícil vai ser nos colocar ao lado da EE-7778900?"
"Vamos parar em um asteroide?"
"Eu te digo quando você seguir minha ordem, Navegadora Fuko."
"Sim, senhor," ela disse. Rotfold ouviu uma série de cliques. "Se virarmos a nave agora e queimarmos como o inferno por quase dois dias, posso nos colocar a cinquenta mil quilômetros, senhor."
"Pode definir 'queimar como o inferno'?" Cilliam disse.
"Vamos precisar de todos nos assentos de impacto."
"Claro que vamos," Cilliam suspirou, e coçou sua barba desgrenhada. "E o deslocamento do gelo vai fazer apenas alguns milhões de dólares de danos no casco, se tivermos sorte. Estou ficando velho para isso, Rotfold. Estou mesmo."
"Sim, senhor. Está. E sempre gostei da sua cadeira," disse Rotfold. Cilliam fez uma careta e um gesto obsceno. Sandy riu alto. Cilliam se virou para ela.
"Envie uma mensagem para o farol dizendo que estamos a caminho. E avise Ceres que vamos nos atrasar. Rotfold, como está o Knight?"
"Sem voar na atmosfera até conseguirmos algumas peças, mas ele vai bem para cinquenta mil quilômetros no vácuo."
"Tem certeza disso?"
"Olivia disse. Isso torna verdade."
Cilliam se levantou, desdobrando-se até quase dois metros e vinte e cinco, mais magro que um adolescente na Terra. Entre sua idade e nunca ter vivido em um poço de gravidade, a queima que estava por vir seria um inferno para o velho. Rotfold sentiu uma pontada de simpatia que nunca envergonharia Cilliam expressando.
"Aqui está a coisa, Leo," Cilliam disse, sua voz baixa o suficiente para que apenas Holden pudesse ouvi-lo. "Somos obrigados a parar e tentar, mas não precisamos nos esforçar demais, se você entende o que quero dizer."
"Já teremos parado," disse Rotfold, e Cilliam acenou com as mãos largas e esqueléticas. Um dos muitos gestos do Trem que evoluíram para serem visíveis quando se usa um traje ambiental.
"Não posso evitar isso," ele disse. "Mas se você vir algo lá fora que pareça estranho, não seja herói de novo. Apenas recolha os brinquedos e volte para casa."
"E deixar para a próxima nave que passar?"
"E manter você seguro," disse Cilliam. "Ordem. Entendido?"
"Entendido," disse Rotfold.
Quando o sistema de comunicação da nave entrou em ação e Cilliam começou a explicar a situação para a tripulação, Rotfold imaginou que podia ouvir um coro de gemidos subindo pelos conveses. Ele foi até Sandy.
"Ok," ele disse, "o que temos sobre a nave avariada?"
"Pequeno cargueiro. Registro marciano. Mostra Orion como porto de origem. Chama-se Trairors..."
