Capítulo 10
Amelia
Acordei com a garganta parecendo que eu tinha gargarejado cascalho e o nariz tão entupido que mal conseguia respirar. A chuva de ontem à noite transformou meu pequeno resfriado em um monstro de gripe. Só podia ser azar.
Quando entrei no meu SUV prateado, liguei o aquecedor no máximo, tentando afastar o frio que tinha se entranhado nos meus ossos.
O trânsito matinal em Manhattan era o pesadelo de sempre. Me enfiei na bagunça de táxis amarelos e carros pretos elegantes, pegando lenços a cada poucos segundos para lidar com meu nariz escorrendo. Cara, eu odeio ficar doente. Como médica, eu deveria saber melhor do que me deixar pegar naquela chuva ontem, mas a cesariana de emergência demorou muito, e eu tinha deixado meu guarda-chuva para trás.
Cerca de dez minutos na minha viagem, algo no retrovisor chamou minha atenção. Um sedã preto estava mantendo a mesma distância há alguns quarteirões. Mudei de faixa para testar. Com certeza, ele seguiu.
Meu coração começou a bater um pouco mais rápido, mas meu treinamento médico me manteve com os pés no chão. Podia ser só coincidência. Fiz uma curva errada aleatória em uma rua de mão única, depois uma direita rápida.
O sedã preto ainda estava lá.
Agora meu pulso estava realmente acelerado. Apertei o volante. O semáforo à frente ficou amarelo. Por impulso, acelerei, passando pelo cruzamento justo quando ele ficou vermelho. No espelho, vi o sedã preso enquanto o tráfego cruzado entrava.
Depois de alguns minutos desviando e ziguezagueando, entrei no estacionamento do hospital, minhas mãos tremendo um pouco no volante. Fiquei ali por um segundo, tentando controlar minha respiração.
Estou ficando louca? Alguém realmente estava me seguindo?
No vestiário dos funcionários, minhas mãos ainda estavam trêmulas enquanto vestia meu jaleco branco. Vi meu reflexo no pequeno espelho dentro do meu armário—pálida, nariz vermelho como o inferno, e os olhos mostrando mais medo do que eu queria admitir.
Quem estaria fazendo isso?
Pensei em contar para o Ethan, mas não, isso não vai acontecer. Nosso acordo é claro: vivemos nossas próprias vidas.
Entre os partos, me escondi em um canto tranquilo da sala dos médicos e disquei para Olivia.
“Oi, amiga,” a voz dela animada na linha. “Como está a vida de casada?”
“Liv, aconteceu uma coisa estranha esta manhã,” mantive minha voz baixa, verificando para ter certeza de que ninguém estava por perto. “Acho que alguém estava me seguindo.”
“O quê?” O tom dela mudou de brincalhão para sério. “Você tem certeza?”
Contei sobre o sedã preto e como consegui despistá-lo.
“Caramba, Amy. Isso não é brincadeira. Você acha que é seu pai?”
“Quem mais? Ele está obcecado em colocar as mãos no dinheiro da mamãe.”
“Certo, escuta.” A voz dela adquiriu aquele tom autoritário que ela usa quando está falando sério. “Vou te buscar depois do seu turno. Que horas você sai?”
“Às seis, mas—”
“Sem discussões. Se eles marcaram seu SUV, não é seguro. Você precisa de outro carro.”
Suspirei, sabendo que ela tinha razão. “Tá bom. Entrada sul às seis.”
Às seis em ponto, corri pelos corredores do hospital até a saída sul, olhando por cima do ombro a cada poucos passos.
Lá fora, avistei Olivia de imediato—mesmo com seus óculos de sol gigantes e boné de beisebol, ela se destaca. Ela estava encostada em um sedã preto simples, nada como os carros chamativos que ela costuma usar.
“Você está com uma cara péssima,” ela disse em vez de dar um oi, me puxando para um abraço rápido.
“Poxa, obrigada. Me sinto assim também.” Entreguei as chaves do meu SUV. “Seu segurança pode dirigir meu carro como isca?”
Ela assentiu, passando as chaves para um cara musculoso de terno que estava por perto. "Já estou cuidando disso."
Eu deslizei para o banco do passageiro do carro dela, finalmente soltando um suspiro. "Obrigada por isso."
"Para que servem os amigos senão para ajudar você a fugir de perseguidores assustadores?" Ela me lançou um sorriso enquanto entrava no trânsito. "Então, qual é o plano? Quer ficar lá em casa por um tempo?"
Balancei a cabeça. "Não posso levar essa confusão para sua casa. Só preciso de um carro diferente, algo que eles não reconheçam."
"E para onde você vai? Voltar para a casa do Ethan?"
Assenti, sem muita animação. "Por enquanto, sim. É o lugar mais seguro."
"Você pensou em contar pra ele? Talvez ele possa fazer algo."
"Nosso acordo não é sobre resolver os problemas um do outro, Liv. É estritamente profissional."
Ela me olhou de lado. "Se você diz."
A garagem subterrânea da Olivia parecia uma concessionária de carros de luxo. Carros brilhantes e caríssimos estavam estacionados lado a lado.
"Escolha seu veneno," ela acenou com a mão como uma apresentadora de programa de TV. "Ferrari? Porsche? Lambo?"
Revirei os olhos. "Algo discreto, Liv. Estou tentando me misturar, não me destacar."
Ela apontou para um sedã azul escuro espremido entre dois carros extravagantes. "Esse é o carro velho do meu irmão. Ele está na Europa, dirigindo o escritório de Londres. É a coisa mais chata aqui—ele comprou antes de virar um idiota rico."
Eu o examinei—tanque cheio, em bom estado, nada chamativo. Exatamente o que eu precisava.
Olivia pressionou as chaves na minha mão, segurando um segundo a mais do que o necessário. "Tome cuidado, Amy. Se isso piorar, promete que vai ligar para o James. A equipe de segurança dele é a melhor da cidade."
"Eu prometo," disse, embora eu soubesse que não envolveria mais ninguém no meu drama.
A noite já tinha caído completamente quando comecei a voltar para o Upper East Side. Peguei uma rota estranha de propósito, mantendo-me nas ruas secundárias sempre que possível. Nos primeiros quinze minutos, me senti bem, achando que tinha despistado eles.
Então eu vi—aquele sedã preto, igual ao da manhã, mantendo uma distância constante atrás de mim.
Filho da mãe. Devem ter vigiado o hospital ou nos seguido até a casa da Olivia.
Meu coração batia forte no peito enquanto eu acelerava, tentando despistá-los. O sedã mantinha o ritmo como se fosse nada. Esses caras não eram novatos; sabiam exatamente como me seguir.
As ruas estavam mais silenciosas agora, tornando mais difícil despistá-los. Fiz várias curvas rápidas, mas aqueles faróis continuavam grudados no meu retrovisor.
Isso não é só sobre me vigiar, percebi, com o pavor crescendo. Eles vão agir esta noite.
Quando me aproximei de um cruzamento, outro carro cortou minha pista do nada. Pisei nos freios, o sedã derrapando no asfalto molhado. Por um segundo, senti os pneus deslizando, o carro virando de lado antes de parar bruscamente a poucos centímetros do outro veículo.
O carro atrás de mim parou bruscamente, me prendendo. Pelo espelho, vi dois caras grandes saindo, sombras contra os faróis. Um deles tinha algo que parecia um bastão de choque na mão.
Eles caminharam em direção ao meu carro, devagar e com propósito, fazendo sinal para eu abaixar a janela. Eu procurei meu telefone, mãos tremendo enquanto tentava ligar para o Ethan. O sinal estava péssimo—uma barra só, mal dava para tentar.
A linha tocou uma vez, duas...
Um dos caras estava na minha janela agora, batendo o bastão de choque contra o vidro.
"Dra. Thompson," a voz dele veio abafada, mas clara o suficiente. "Saia do carro, por favor."
A ligação para o Ethan caiu na caixa postal.
Eu estava presa.
