Capítulo 3

Amelia

Olhei para o relógio pela quinta vez em tantos minutos. 9:48 da manhã. Minhas mãos estavam suadas apesar do ar fresco da primavera. O que diabos eu estava fazendo aqui? Encontrando um estranho para me casar?

Pontualmente às 9:50, um Mercedes preto com vidros escurecidos deslizou até o estacionamento. Deu uma volta antes de parar a seis metros de onde eu estava. Os vidros eram tão escuros que eu não conseguia ver nada dentro.

Por vários segundos, nada aconteceu. Então a porta traseira se abriu automaticamente.

"Entre, Srta. Thompson." A voz era profunda e controlada, não revelando nada.

Respirando fundo, deslizei para o banco de trás. A porta se fechou automaticamente atrás de mim, me selando na escuridão com cheiro de couro. Uma divisória de privacidade me separava do motorista. Em frente a mim, havia uma silhueta – as únicas características que consegui distinguir foram o contorno de ombros largos e o brilho dos olhos que me observavam atentamente.

"Sou Ethan Black," disse o homem. "Tudo o que discutirmos fica entre nós."

"Preciso ajudá-la para conseguir as ações do meu avô," ele disse calmamente. "Você quer sua herança. É um acordo simples."

Ele se inclinou ligeiramente para frente, e eu vislumbrei maçãs do rosto afiadas e olhos intensos. "Antes de prosseguirmos, você precisa assinar isto." Ele deslizou um documento grosso pelo banco.

Peguei-o, apertando os olhos na luz fraca. "Um acordo de confidencialidade? Sério?"

"Assine, ou saia do carro. Essas são suas opções."

Meus dedos traçaram a borda do papel. "Como sei que posso confiar em você?"

"Você não sabe. Mas considerando que sua audiência no tribunal é em três horas e você não tem outras opções, sugiro que decida rapidamente."

Droga, ele estava certo. Eu não tinha nada a perder, exceto a herança da minha mãe. Além disso, ele era alguém que o vovô conhecia, e vovô nunca me faria mal. Com um suspiro resignado, assinei o NDA.

Assim que a papelada foi concluída, o carro saiu, nos levando a uma entrada isolada do cartório que eu nem sabia que existia. Fomos rapidamente conduzidos a um escritório privado em vez do salão principal de registro.

Um funcionário de meia-idade esperava lá dentro, já preparado com os documentos.

"Isso é altamente irregular, Sr. Black," murmurou o funcionário.

"Mas legal," rebateu Ethan, sua voz não deixando espaço para discussão.

Pela primeira vez, na melhor iluminação do escritório, tive uma visão clara do meu futuro marido. Ele era mais alto do que eu esperava, com traços marcantes e olhos azuis penetrantes que não revelavam nada. Vestido com um terno impecavelmente ajustado, ele se portava com uma autoridade fria.

Ele não olhou para mim enquanto assinava a certidão de casamento, sua assinatura um traço decisivo no papel.

"Sua vez," ele disse, estendendo a caneta.

Com dedos trêmulos, assinei meu nome, tornando-me oficialmente Sra. Black aos olhos da lei.

"A aliança," disse Ethan de repente, enfiando a mão no bolso. Ele produziu uma simples aliança de platina com um diamante modesto. "Meu avô George insistiu."

Enquanto ele deslizava a aliança no meu dedo, nossos olhos se encontraram brevemente. Sem calor, sem emoção – apenas uma transação comercial sendo concluída.

O funcionário me entregou um documento curioso – uma certidão de casamento que de alguma forma obscurecia os detalhes do meu marido.

"Esta é uma cópia especialmente processada," explicou Ethan. "Confirma seu estado civil sem revelar detalhes específicos. Use isto na sua audiência."

Do lado de fora, no estacionamento, Ethan permaneceu no Mercedes preto enquanto um segundo carro, menos chamativo, se aproximou.

"Eu não entrarei no tribunal," ele disse pela janela parcialmente abaixada. "Michael me representará."

Um homem alto e de ombros largos, vestindo um terno impecável, se aproximou de nós. "Sra. Black," ele acenou educadamente. "Sou Michael Davis, assistente do Sr. Black."

"Vocês irão ao tribunal separadamente," continuou Ethan. "Depois da audiência, volte diretamente para este estacionamento. Certifique-se de que não está sendo seguida."

"E quanto a—" comecei.

Michael me interrompeu, explicando a estratégia. "Apenas confirme seu estado civil. Recuse-se a revelar a identidade do seu marido. Eu entregarei todos os documentos sensíveis diretamente ao juiz."

Quando me virei para sair, a voz de Ethan chamou do interior escuro do carro. "Lembre-se, não conte a ninguém sobre nosso acordo."

O tribunal se erguia à frente enquanto Michael e eu nos aproximávamos separadamente. Meu pai já estava esperando nos degraus, com um olhar presunçoso e confiante.

Passei por eles sem dizer uma palavra, sentindo a presença de Michael alguns passos atrás de mim, monitorando tudo.

Na pequena sala de audiências, apenas o juiz, um funcionário do tribunal, meu pai e eu estávamos presentes. O ar parecia pesado de tensão.

"Meritíssimo," Robert começou confiante, "minha filha continua solteira e, portanto, a herança deve permanecer sob minha administração."

O juiz se voltou para mim. "Srta. Thompson, qual é a sua resposta a essas alegações?"

"Estou casada, Meritíssimo," respondi, apresentando a certidão especial de casamento. "Isso confirma meu estado atual."

Meu pai arrancou o documento antes que o juiz pudesse pegá-lo. "Isso é claramente fabricado! Os detalhes do marido estão convenientemente ilegíveis!"

O rosto de Robert ficou vermelho de raiva. "Quem é esse suposto marido? Por que ele não está aqui? Porque ele não existe!"

Michael deu um passo à frente. "Meritíssimo, estou aqui representando os interesses da Sra. Black. Por razões de privacidade, preparamos um arquivo lacrado com toda a documentação para sua revisão exclusiva."

O juiz assentiu e se retirou para seus aposentos com o arquivo. Os minutos se arrastaram dolorosamente enquanto esperávamos. Robert andava de um lado para o outro, ocasionalmente lançando olhares venenosos na minha direção.

Quando o juiz voltou, sua expressão era impassível. "Revisei a documentação. O casamento parece válido e legalmente vinculativo."

"Impossível!" Robert explodiu. "Com quem ela é casada? Exijo saber!"

"Sr. Thompson," respondeu o juiz, severo, "o direito à privacidade de sua filha é protegido por lei. A identidade do cônjuge é irrelevante para estes procedimentos. O que importa é seu estado civil, que agora está confirmado como casada."

O juiz então decidiu que a herança passaria para meu controle, embora Robert tenha anunciado imediatamente sua intenção de apelar.

Do lado de fora do tribunal, Robert agarrou meu braço enquanto eu descia os degraus.

"Não sei qual é o seu jogo," ele sibilou, "mas descobrirei quem é esse marido misterioso. Quando eu fizer isso, essa farsa vai desmoronar."

Soltei meu braço. "Você já destruiu nossa família. Não vai levar o que a mamãe deixou para mim."

Afastei-me, tomando cuidado para seguir uma rota sinuosa de volta ao ponto de encontro, verificando repetidamente para garantir que não estava sendo seguida. O Mercedes preto estava esperando exatamente onde prometido.

Bati na janela, que abaixou ligeiramente. A expressão de Ethan estava ainda mais severa do que antes.

"De acordo com nosso contrato," disse ele sem preâmbulos, "você se mudará para minha residência esta noite. Michael vai te mandar o endereço por mensagem."

"Esta noite?" eu ofeguei. "Mas eu tenho trabalho e—"

Antes que eu pudesse terminar, a janela se fechou e o carro se afastou, me deixando sozinha no estacionamento, oficialmente casada com um estranho que nem conseguia me olhar.

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