Prólogo

Jacksonville, Flórida

Março, 2003


Eu quero ser normal como as outras crianças. Aproveitar minha infância com um homem que me ama incondicionalmente, em vez de tirar o que não deveria ser tirado, especialmente quando ele se rotula como pai, mesmo sendo apenas um parente distante. Ele está destruindo a confiança que foi construída depois que George foi embora.

Deixar uma ferida no pescoço se torna um pesadelo para o resto da minha vida. Agora, toda vez que olho no espelho, me sinto inútil e suja como ser humano. A ferida é uma testemunha silenciosa e o maior segredo que deve ser escondido até a idade adulta.

Agora, estou sentada com os joelhos cruzados na sala de brinquedos, ignorando a pilha de livros de histórias e vários brinquedos. Tenho algumas lembranças de George, especialmente no verão. Os lábios finos que George abaixava para mim inchavam como os biscoitos da Mamãe, mas lágrimas caíam toda vez que eu sentia sua falta.

"Lizzie..." uma voz suave me chamou.

Eu não me mexi, escolhendo ficar e fantasiar estar com George. Mas, quando a pele atingida pelo ar do ventilador sentiu o toque, meu cérebro reagiu violentamente. Como resultado, eu gritei o mais alto possível como uma pessoa louca. Flashes daquela noite em que meu pai me forçou a fazer o que ele queria voltaram para me assombrar.

A voz que deveria ser suave e calmante se tornou assustadora. Eu cobri meus ouvidos com força, meu corpo tremendo. Os rostos na minha frente mudaram para os rostos do meu pai, que sorria enquanto brandia uma faca brilhante pronta para cortar cada centímetro do seu corpo.

"Ei... ei... Menina... Lizzie..." A voz tentou me puxar do abismo, mas eu resisti porque a voz do meu pai preenchia toda a minha cabeça. Eu corri, me encurralei e me debati, querendo que o som fosse embora.

"Lizzie... é a Mamãe, Querida..."

Mamãe?

Eu a culpo. Por que ela escolheu aquele homem e confiou nele para substituir George? Ele não é George—um cara amoroso como o Papai Noel. Ele é apenas um monstro que quer arruinar a vida das crianças.

Um abraço quente alivia toda a tensão do corpo. Quente. O aroma floral com um toque de pêssego acalma um pouco minha loucura. Era o cheiro de George—seu último odor corporal antes de desaparecer para sempre.

Eu chorei, gritando por George. Eu não preciso de um psiquiatra, mas de George. Eu também não preciso de uma mãe, mas ela agora está me segurando e acariciando o cabelo da sua pobre filha.

"Lizzie... é a Mamãe, Querida... você vai ficar melhor, tá..." ela sussurrou. "Mamãe está aqui, Lizzie. Mamãe não vai te deixar..."

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