Capítulo 2

Antes que eu pudesse sequer contemplar a ideia de enfrentar meus pais, Beckett me empurrou para dentro do carro dele com um rápido "Vamos não perder tempo."

O silêncio no carro era sufocante. Eu olhava pela janela enquanto as ruas familiares de Boston passavam borradas, meus dedos batendo nervosamente contra a minha coxa. A certidão de casamento queimava na minha bolsa como contrabando.

"Seus pais moram em Beacon Hill?" Beckett perguntou, quebrando o silêncio.

Eu assenti, incapaz de formar palavras. A enormidade do que eu tinha feito finalmente estava caindo sobre mim. Eu tinha me casado com um estranho. Um completo estranho com olhos penetrantes e um sorriso sarcástico que não revelava nada de seus pensamentos.

Meu telefone vibrou novamente. O nome de Calloway apareceu na tela pela terceira vez em quinze minutos. Eu o observei tocar, meu coração martelando contra minhas costelas.

"Você provavelmente deveria atender," Beckett disse, seus olhos fixos na estrada. "Calloway, certo? Ele parece bem insistente."

Engoli em seco, depois pressionei aceitar. "Alô?"

"ONDE DIABOS VOCÊ ESTÁ?" A voz de Calloway estalou de raiva. "A equipe cirúrgica está pronta e esperando. Você tem ideia de quanto isso está me custando? Traga sua bunda inútil para este hospital AGORA!"

Minha expressão congelou enquanto o veneno na voz dele me atingia. Cinco anos. Cinco anos que eu passei amando esse homem, moldando-me no que eu achava que ele queria.

"Rosalind! Você está me ouvindo? Eu concordei com sua demanda patética de se casar com você—o que mais você poderia querer, sua ingrata? E você realmente acha que essa besteira de 'marido falso' me engana? Sonha!"

Sorri amargamente enquanto algo dentro de mim finalmente, misericordiosamente, morria. Meu olhar ficou frio.

"Você não entende, Calloway?" Minha voz estava surpreendentemente firme. "Eu quero algo que você nunca aprendeu a dar. Algo que exige me ver como mais do que peças sobressalentes."

"O que diabos você está falando?" Ele riu, o som feio e cortante. "Você está delirando! Você não é nada! Venha aqui agora, Rosalind, e você ainda pode ser a Sra. Montgomery. Me desafie, e você não terá nada e não será nada!"

"É tarde demais, Calloway. Estou casada. Então, temo que não possa ajudá-lo com isso." Desliguei antes que ele pudesse responder.

Por um momento, apenas fiquei sentada lá, lágrimas escorrendo pelo meu rosto, meu corpo tremendo com cinco anos de raiva e desgosto reprimidos.

"Homens são todos uns cachorros!" Eu cuspi, rangendo os dentes.

Quando paramos na casa dos meus pais, eu tinha conseguido me recompor. Vi um vislumbre do meu reflexo no espelho retrovisor e estremeci. Olhos vermelhos e inchados me encaravam, lábios pálidos e sem cor. Eu parecia uma boneca de porcelana quebrada.

Revirei minha bolsa em busca do meu estojo de maquiagem, rapidamente passando sombra nos olhos e pintando os lábios de um rosa empoeirado. O ritual familiar era reconfortante, uma máscara que eu havia aperfeiçoado ao longo dos anos escondendo meus verdadeiros sentimentos.

"Melhor?" Perguntei, virando-me para Beckett.

Ele desviou o olhar, um indício de sorriso brincando em seus lábios. "Transformação impressionante."

Respirei fundo e encarei a casa da minha infância. Cada passo em direção à porta parecia uma marcha para a execução.

"Mãe, Pai! Estou em casa!" Eu chamei ao entrarmos.

Meu pai apareceu primeiro, ajustando os óculos com surpresa. "Rosalind! O que te traz de volta tão inesperadamente?"

Antes que eu pudesse responder, minha mãe desceu as escadas correndo, o rosto iluminado de excitação. "Rosalind, querida! Calloway acabou de ligar! Ele disse que você finalmente vai se casar! É verdade? Isso é uma notícia maravilhosa!"

Fiquei paralisada. Claro que Calloway ligaria para eles. Claro que ele distorceria tudo isso.

"Sério?" Meu pai se virou para minha mãe, os olhos brilhando. "Calloway finalmente decidiu? Depois de todos esses anos!"

O choque me deixou muda. Mordi o lábio, paralisada pela alegria deles—uma alegria construída sobre uma base de mentiras.

"Boa tarde, Sr. e Sra. Blackwell." A voz profunda e composta de Beckett cortou a excitação deles enquanto ele avançava. "Na verdade, sou o marido de Rosalind. Nós nos casamos esta manhã."

A sala ficou em silêncio. O rosto do meu pai escureceu enquanto ele olhava para Beckett e depois para mim. "Rosalind, que diabos é isso?"

"Registramos nosso casamento esta manhã," Beckett respondeu antes que eu pudesse falar, seu tom educado, mas distante. "Foi bem repentino, admito."

Minha mãe agarrou meus ombros, suas unhas cravando na minha pele. "O que você fez, criança? Você sempre foi louca por Calloway! Ele finalmente concorda, e você joga tudo fora por um ninguém?"

Vi Beckett pelo canto do olho—o canto de sua boca se contraiu para cima, mas sua expressão permaneceu inalterada, mãos calmamente entrelaçadas atrás das costas.

Eu me afastei de seu aperto. "Ninguém me forçou! Eu só me recuso a casar com um homem que me odeia, que me usaria como um depósito de peças sobressalentes!"

O rosto da minha mãe se contorceu de confusão. "Do que você está falando?"

"Você sabe por que Calloway de repente 'concordou' em se casar comigo?" Minha voz falhou. "Ele quer minha medula óssea para Hannah. Esse é o preço dele! É isso que meus cinco anos de devoção valeram para ele!"

Seguiu-se um silêncio pesado. Meus pais trocaram um olhar que fez meu sangue gelar.

"Querida," minha mãe disse, seu tom doentio e doce, "eu sei que você está chateada. Mas pense logicamente. Uma doação de medula óssea—é algo rotineiro hoje em dia. Você salva sua prima, assegura seu futuro com a família mais poderosa de Boston. É realmente perfeito, não é?"

Eu me encolhi como se ela tivesse me esbofeteado. "Perfeito? Mãe, você está falando sobre perfurarem meus ossos para tirar medula como se eu fosse algum tipo de gado!"

Meu pai finalmente encontrou sua voz, embora não me olhasse nos olhos. "Não seja tão dramática, Rosalind. É um pequeno sacrifício por uma vida de segurança. Além disso, qual é a sua alternativa? Esse cara?" Ele gesticulou desdenhosamente para Beckett. "O que ele pode te oferecer?"

"Que tal decência humana básica?" Retruquei. "Algo que vocês dois parecem ter esquecido que eu mereço!"

"Decência não paga as contas," minha mãe rebateu, sua máscara de doçura finalmente caindo. "Decência não restaura o nome Blackwell! Você tem vivido em algum tipo de fantasia, criança. Hora de encarar a realidade."

Antes que eu pudesse responder, o som de motores de carro roncando lá fora nos fez congelar. Pela janela, pude ver três SUVs pretos parando em frente à nossa casa. Homens de terno escuro começaram a sair, movendo-se com precisão militar.

Meu sangue gelou.

"O que—" meu pai começou, mas sua voz morreu quando a porta da frente se abriu sem cerimônia.

Um homem alto em um terno caro entrou, flanqueado por vários guarda-costas. Seu sorriso era frio e predatório enquanto seus olhos encontravam os meus.

"Sra. Blackwell," ele disse, sua voz suave como seda. "Meu chefe manda lembranças. Ele está esperando por você no hospital."

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