O pavilhão das Lunas:
Isso realmente É um jardim! Contemplo, cheio de felicidade, o verde fresco que se estende diante dos meus olhos até onde a vista alcança. Aqui e ali, as plantas mais estranhas florescem. Aromas exóticos enchem o ar, a brisa faz as palmeiras e coqueiros carregados balançarem. Pelo menos cinquenta fontes derramam água cristalina. De um lado e do outro, descubro pássaros coloridos em gaiolas ou pequenos animais que correm livres entre as flores. Empoleirados nos galhos das árvores, observo pombos de diferentes tipos.
Não consigo sair do meu estupefato mudo. Prostro-me de rosto no chão e beijo a terra, enquanto elevo uma oração de agradecimento ao Magnânimo. Este lugar deve ser a réplica terrena do Grande Oásis Celestial.
— Venha, deixe suas orações para depois. É hora de se apresentar aos outros sóis. - apressa-me Lady Citié. Hoje ela parece impaciente e mal-humorada.
Levanto-me e a sigo, caminhando pela passarela de granito que serpenteia entre flores, fontes e gaiolas... Os tamancos de madeira de Citié fazem um característico clap-clap contra o pavimento e eu sorrio, mordendo o interior da bochecha para não explodir em risadas.
Depois de um curto tempo caminhando, chegamos a uma mansão interior e Citié não me permite apreciar em detalhes a riqueza e apoteose dos valiosos objetos espalhados por todo o lugar. A pequena mulher me leva correndo atrás dela. Tento acompanhá-la, meus pés estão em sandálias macias e confortáveis, mas esta roupa pesada que me colocaram é realmente incômoda, os tecidos são pretos e grossos. Assim também é o hayab e o véu que me forneceram. Da cabeça aos pés, apenas meus olhos estão visíveis.
Em um momento chegamos a um amplo pavilhão, sustentado por colunas de prata. Em toda parte vejo divãs cobertos com almofadas e sedas finas ou peles grossas. Quatro mulheres descansam nos divãs em diferentes posturas de relaxamento. As donzelas que me banharam e vestiram na noite anterior agora estão ocupadas indo e vindo entre os divãs, trazendo e levando bebidas, tâmaras e pequenas porções de carne para as mulheres que descansam complacentemente, enquanto outras jovens em roupas mais rudes e com grilhões ao redor do pescoço, as massageiam, trançam seus cabelos, besuntam seus corpos com óleos aromáticos ou simplesmente as abanam.
— Ela está aqui! - alguém grita. - A nova garota está aqui!
Envolvo meus braços ao redor do corpo e me preparo para a avalanche que sei que me atingirá a qualquer momento... As quatro mulheres se levantaram como uma só e correram para nos cercar, a mim e a Lady Citié.
— Meninas, meninas, por favor, decoro! - exclama Citié, escandalizada.
— Deixe o decoro para depois. - retruca uma.
— Estávamos morrendo de curiosidade! - grita outra.
— Vamos, vamos, não seja tímida. - Uma garota esbelta, ruiva, vestida com tecidos azuis de diferentes tons, se dirige a mim. Seu cabelo flamejante contrasta fortemente com sua pele escura como ébano. Ela é magra, atlética, e seus olhos são tão avermelhados quanto seu cabelo.
— Zai, você sabe que tem que seguir um protocolo... - repreende Citié.
— Você e seus protocolos! - protesta Zai.
— Calma, irmã. Você vai assustar a nova garota. - comenta outra garota que... abro os olhos bem abertos. Ela é idêntica a Zai. Bem, não. Elas não são exatamente iguais. O rosto é o mesmo, e a altura, e a roupa é semelhante. Mas seu cabelo é branco. Total e completamente branco. E seus olhos, como prata.
Um falatório incessante reina ao meu redor.
— Cala a boca, Mem, não vê...
— Já chega!
Todas se viram na direção do arco que se abre na direção oposta de onde estamos. Uma mulher com cabelo platinado e vestindo sedas em tons pastéis caminha em nossa direção. Seus movimentos são graciosos, lentos.
Lembra-me os de uma gazela.
Essa mulher também é alta, mas não tão alta quanto as gêmeas Zai e Mem. Seu cabelo está preso em um penteado intrincado de tranças adornadas com pequenas pedras translúcidas que brilham ao sol. Uma fita prateada cobre sua testa e no centro dela repousa uma enorme pedra oval vermelha. O cabelo prateado e essa joia avermelhada fazem um enorme contraste contra sua pele alva.
O resto das mulheres se cala instantaneamente e se afasta de mim com as cabeças baixas. Fico com a testa erguida e os olhos arregalados de espanto. Até mesmo Lady Citié está em uma pose reverente diante da recém-chegada.
— Aparentemente, vocês ainda são um bando de vacas desordeiras. - sussurra a mulher de cabelos dourados. Mesmo que seu tom seja baixo e lento, não posso deixar de notar o veneno em suas palavras.
— Tanto tempo tentando ensinar a vocês os modos dignos da nobreza Kuraní, e ainda se comportam como as selvagens que são.
Um silêncio pungente reina no pavilhão. A mulher de cabelos dourados caminha em minha direção e me olha com desprezo, balançando a cabeça em desaprovação.
— Tzk, tzk. Cítiê... você não explicou a essa adoradora de camelos que ela deve manter os olhos baixos diante de alguém de posição superior?
Lady Cítiê se encolhe, e vejo que ela treme de medo, mas não levanta a cabeça nem oferece qualquer explicação.
Enquanto isso, eu permaneço com a cabeça erguida, os olhos negros e maldosos da loira fixos nos meus. É como se ela estivesse medindo minha força, e eu me recuso a ser a primeira a desviar o olhar. Uma longa sobrancelha autoritária se ergue, e os olhos da minha oponente se arregalam. Por um momento, ela me encara, seu corpo inteiro enrijecendo em espasmo. Seu rosto, que até então mostrava sentimentos de desprezo, torna-se inexpressivo e vazio. A joia em sua testa vibra, emitindo um clarão ofuscante.
Cubro meu rosto com o braço e fecho os olhos. É como se um segundo sol tivesse nascido, vindo da testa da mulher, um sol mais vermelho e mais próximo do que o real.
De repente, o clarão para. A mulher desperta de seu transe, pisca algumas vezes e então retoma sua postura superior e expressão zombeteira.
Removo meu braço do rosto e a encaro mais uma vez.
— Sorte sua... - diz ela, mostrando os dentes. Como uma víbora faria antes de atacar... - Devo me apresentar imediatamente diante do Imperador. Os rebeldes do leste estão se reunindo e o conselho se reunirá em quinze minutos. Caso contrário, você pagaria caro por sua insolência.
Ela se vira, seu olhar varrendo o resto das mulheres e pousando em Lady Citié.
— Cítiê, espero que ensine a essa novata a maneira apropriada de se comportar na minha presença... ou eu o farei. - Dizendo isso, ela se vira e sai, atravessando o arco de pedras pelo qual Citié e eu viemos.
— Quem diabos era essa? - resmungo indignada.
As outras mulheres se fecham em um círculo ao meu redor e Citié me silencia com um gesto da mão.
— Fique quieta, não seja imprudente. - a pequena mulher me repreende.
— Ela está certa. Não é conveniente para você fazer inimiga dessa cobra. - aconselha a gêmea de cabelos brancos.
As outras mulheres balançam a cabeça negativamente.
— Será que você está louca? - grita outra mulher, seu cabelo castanho encaracolado em cachos grossos enquanto balança a cabeça. Esta é mais alta do que eu, mas não tão alta quanto as gêmeas, e tem uma expressão francamente amigável e curiosa em seus olhos castanhos vivos.
Citié remove a mão da minha boca e passa um momento tirando poeira imaginária de seu traje tradicional.
— Bem, bem, meninas, acalmem-se. - diz a pequena mulher. - Para responder à sua pergunta, a senhora que acabou de sair é Lady Cassandra, a primeira esposa do nosso amado.
Ela se vira para mim e continua. — Eu sou Lady Citié, segunda esposa do nosso amado.
— Nós somos Lady Zai e Mem... - diz a gêmea ruiva.
— Somos a terceira e quarta esposas do nosso amado. - responde a gêmea de cabelos brancos.
— Eu sou Lady Burya, a quinta esposa do nosso amado. - canta a mulher com os grandes cachos castanhos.
A outra senhora permanece em silêncio. Seu rosto é uma careta de desgosto. Ela rosna e se afasta de nós. Ela usa roupas provocantes e esvoaçantes que revelam suas curvas incríveis e suas longas pernas. Seu rosto está fortemente maquiado ao redor dos olhos verdes e seu cabelo é preto e extremamente longo e liso, quase chegando aos joelhos. Está preso em uma enorme trança adornada com fitas coloridas. Uma tornozeleira de prata tilinta em um de seus tornozelos.
Lady Citié bufa. - Ela é Lady Sarab, sexta esposa do nosso amado.
— Ela é muda? - pergunto baixinho.
As outras mulheres explodem em risadinhas e balançam a cabeça.
A bela mulher com a trança para, e por cima do ombro lança uma resposta para mim.
— Não, não sou muda. É só que me recuso a dizer, mesmo que vá contra o protocolo, que amo aquele tirano sanguinário.



































