Capítulo 2- Perfume intoxicante
POV da Emily
A viagem até a casa da alcateia passou num piscar de olhos e, antes que eu me desse conta, Jax já tinha estacionado na frente.
Jax saiu do carro e deu a volta, abrindo a porta para Mila. Ele estendeu a mão e cuidadosamente ajudou sua companheira a sair do carro.
"Mila, meu amor," Jax disse, beijando o dorso da mão dela. "Já volto. Me espera!"
Meu coração apertou com a ternura em sua voz. Ele falava com ela com tanto amor e cuidado.
Mila assentiu com a cabeça, e Jax voltou para o carro e saiu dirigindo.
Dois minutos depois, o lobo de cabelos escuros apareceu ao lado de Mila.
"Pronta?" Ele perguntou, segurando as mãos dela.
Mila riu como uma típica colegial e corou.
Desviei o olhar, dando-lhes um pouco de privacidade.
Às vezes, eu queria ter o que a Mila e o Jax tinham. O amor deles era tão puro e incondicional.
Um pequeno sorriso surgiu nos cantos dos meus lábios, lembrando a noite em que Mila descobriu que Jax era seu companheiro.
Estávamos todos na clareira, esperando ela se transformar, quando a palavra "companheiro" escapou de seus lábios.
Jax avançou, respondendo ao chamado dela. Ele sabia o tempo todo que Mila era sua companheira. Ele descobriu no ano anterior e manteve em segredo enquanto a observava atentamente.
Meu olhar se moveu para onde os dois pombinhos estavam. O lobo alto de cabelos escuros tinha seus braços ao redor de sua bela companheira loira e seus lábios devorando os dela.
Mila foi a primeira a se afastar, virando-se para mim, e corou.
"Desculpe," ela se desculpou. "Não conseguimos evitar!"
Eu assenti, sorri e me aproximei.
"Já me acostumei," eu disse, gesticulando para os dois. "Tranquilo."
O olhar de Jax se moveu para as enormes portas duplas e voltou para nós.
"Estão prestes a começar," ele anunciou.
Mila segurou minha mão, e os três nos dirigimos juntos para a entrada.
Aquela mesma sensação estranha me atingiu, e meu coração começou a bater mais forte, me avisando de que eu não deveria estar ali — eu não devia ter vindo.
Parámos a alguns metros da porta, e Jax soltou a mão de Mila, abrindo a porta.
Respirei fundo, tentando controlar meu coração acelerado e afastar minha ansiedade.
Assim que Jax abriu a porta dupla, um cheiro tão intoxicante atingiu minhas narinas—crumble de maçã.
Era o cheiro mais delicioso que eu já havia sentido.
Minha boca salivou querendo provar.
O cheiro de repente começou a me sufocar, e eu me senti tonta. Dei um passo involuntário para trás, virando o rosto para longe do cheiro e buscando ar fresco.
"O que diabos?" Murmurei para mim mesma.
Mila virou-se para me olhar, e a preocupação cruzou seus olhos.
"Você está bem?" Jax perguntou preocupado.
"Eu-eu-eu não sei," gaguejei nervosa.
"O que está acontecendo?" Mila perguntou.
"Tem um cheiro doce de torta de maçã vindo lá de dentro. Tá me deixando tonta," expliquei.
Mila franziu as sobrancelhas, confusa, e levantou o nariz para o ar, farejando.
"Eu não sinto nada," ela disse um momento depois. "Você sente?" Perguntou, voltando o olhar para Jax.
Jax, por sua vez, balançou a cabeça.
"Não sinto nada fora do comum," ele disse.
"Talvez a cozinha esteja fazendo algumas tortas e sobremesas," Mila sugeriu como explicação. "O Alpha Cole mencionou que estava se esforçando para dar as boas-vindas ao Alexander."
Assenti, e o cheiro de repente clareou, me dando espaço para respirar.
Segui Mila e Jax para dentro da casa da alcateia e descemos até a sala comunitária.
A sala comunitária era um grande salão onde geralmente tínhamos funções e reuniões da alcateia; hoje à noite parecia mais um salão de baile digno de um rei.
"Uau!" Mila ofegou, "Está incrível!"
"Com certeza é de cair o queixo," eu disse, movendo o olhar das paredes para o teto. O Alpha Cole caprichou na decoração.
Chegamos bem a tempo de ver Alpha Cole deixar o palco, e segundos depois, a música começou novamente.
Eu movi meu olhar sobre o mar de pessoas, na esperança de ver Alex, mas ele não estava em lugar nenhum.
Será que ele já foi embora?
"Vamos dançar," disse Mila, interrompendo meus pensamentos e pegando minha mão.
Estávamos na pista de dança há cerca de uma hora quando Mila disse que queria ir ao banheiro.
"Jax, querido, já voltamos!" Mila gritou acima da música.
Ele assentiu, e nós nos dirigimos para a saída.
"Parece que você está se divertindo afinal," Mila disse quando estávamos no corredor.
"Você sabe que eu adoro dançar," eu disse. Eu me sentia mais eu mesma, e minha ansiedade tinha desaparecido.
"Sim, eu sei," Mila falou, séria. "Você sabe que todos os lobos solteiros estavam de olho em você!"
Fiquei surpresa com suas palavras. Eu nem percebi que as pessoas estavam me olhando.
"Bem, se estavam," eu disse amargamente. "São uns covardes por não me convidarem para dançar."
"Talvez seja melhor assim," Mila disse, empurrando a porta do banheiro feminino. "Nós duas sabemos que você é muito melhor do que eles."
Não pude evitar sorrir. Mila sempre sabia como me animar.
Observei Mila desaparecer no banheiro enquanto eu esperava por ela do lado de fora. Os membros do bando iam e vinham, ignorando minha existência—nem sequer olhavam para mim.
Às vezes, eu só queria que as pessoas me notassem. Eu não sumi. Eu ainda estava ali, e fazia parte da alcateia.
Um grupo de dez jovens adultos passou por mim em seguida, indo em direção à saída do prédio. Eles eram meus amigos antes do meu aniversário. Eu costumava fazer parte daquele grupo, e meu posto de Beta também me tornava popular.
Suspirei.
"Não se culpe." A voz suave de Mila soou atrás de mim, e eu congelei. "Eles não merecem suas lágrimas."
Será que ela viu o anseio e a tristeza nos meus olhos?
Não me entenda mal; não é que eu não apreciasse a amizade de Mila—eu apreciava. Eu valorizava nossa amizade. Doía ser rejeitada e afastada pelos meus amigos porque eu não tinha um lobo.
Por que eu fazia parte de um bando que não me aceitava do jeito que eu era?
Meu coração apertou, e minhas mãos voaram para o meu peito. A sensação dolorosa me fez sentir dormente por dentro.
"Em, você vem?" Mila perguntou, pegando minha mão.
Levantei meu olhar, e Mila sorriu gentilmente para mim, enxugando as lágrimas quentes do meu rosto que eu nem sabia que tinham caído.
"Você quer ir para casa?" ela perguntou, preocupada.
Eu balancei a cabeça. Se eu fosse para casa agora, meus pais pensariam que algo tinha acontecido, e eu não estava com humor para responder suas perguntas.
"Não," eu sussurrei. "Eu vou ficar bem. Só me dê um minuto."
Mila deu um tapinha suave no meu ombro, me dando tempo para me recompor.
"Se sentindo melhor?" ela perguntou, e eu dei um sorriso fraco, lendo a pena em seus olhos.
"Bom," ela disse, e eu a segui lentamente de volta para a sala comunitária, mas assim que passamos pelas portas duplas que levavam aos jardins, eu congelei no lugar.
Era como se tudo dentro de mim gritasse para ir lá fora.
"O que foi, Em?" Mila perguntou, olhando para a porta. "O que você está olhando?"
Eu lentamente virei meu olhar para encontrar o dela, e suas mãos voaram para seus lábios enquanto ela ofegava, dando um passo para trás.
"Nada," eu disse, minha voz soando mais alta do que o normal nos meus ouvidos. "Eu só preciso verificar uma coisa. Vou encontrar você em alguns minutos!"
Mila piscou algumas vezes antes de reagir. Então, ela se virou nos calcanhares e correu em direção ao centro comunitário, como se alguém estivesse a perseguindo.
Assim que ela saiu de vista, eu me virei em direção à porta.
O que aconteceu em seguida deixou meu mundo girando fora de controle.


















































































































