Capítulo 5 - Chamas vermelhas
POV da Emily
A casa da matilha estava estranhamente quietaquando Mila e eu chegamos.
Meus pais, o casal Beta da matilha, pediram para eu vir ajudar a limpar o centro comunitário.
Não era comum a família Beta se envolver na limpeza após um evento da matilha. Acho que o Alpha Cole deve ter pedido ajuda depois de dar um dia de folga para todos.
"Cadê todo mundo?" Mila perguntou, surpresa ao notar a falta de guardas na entrada da casa da matilha.
"Acho que todo mundo foi pra clareira curtir a neve," respondi, apontando para a camada branca e fofinha espalhada por aí.
Mila suspirou.
"Por que você me convenceu a ajudar?" Ela perguntou, tremendo. "Eu poderia estar deitada debaixo das cobertas com uma xícara de chocolate quente nas mãos, assistindo a um filme."
"Porque eu precisava de uma mãozinha," falei, dando de ombros. "E você é minha única amiga."
Mila revirou os olhos enquanto entrava na casa da matilha.
O principal motivo do mau humor de Mila era que ela estava um pouco decepcionada por Jax ter ido praticar snowboard com os amigos naquela manhã. Assim, ela acabou no meu quarto.
Jax não era membro da nossa matilha; ele era de uma das matilhas vizinhas, a Matilha do Rio Escuro.
Alpha Colt e o pai de Jax, Beta David, cresceram juntos e eram melhores amigos na época. Quando ele descobriu que Mila era a companheira de Jax, deu-lhe permissão para vir e ir quando quisesse.
Um dia, Mila provavelmente pediria transferência para a matilha de Jax e se tornaria membro lá.
Suspirei quando entrei no centro comunitário—estava uma bagunça e levaria pelo menos três horas para limpar tudo.
O olhar de Mila se voltou para mim, balançando a cabeça.
"Eu deveria ter ficado na cama," ela murmurou para si mesma.
Pegamos um esfregão e um balde e começamos a grande limpeza.
"Em," minha mãe chamou, depois de uma hora. "Vocês já terminaram de limpar a sala comunitária?"
"Quase terminamos, mãe," respondi. Foi mais rápido do que eu pensei.
"Ótimo," ela disse. "Pedi para a Omega Julie preparar algo para vocês comerem. Quando terminarem, venham almoçar."
A comida da Julie era sempre simples e deliciosa. Não tinha nada esquisito nas refeições, que eram sempre perfeitas pra nós, que somos meio frescos com comida.
Desliguei a ligação logo em seguida, limpei o suor da testa e coloquei o esfregão no balde.
"Mãe disse que nossa comida está pronta," disse a Mila. "E foi a Julie que fez."
"Ótimo, estou morrendo de fome," Mila respondeu, me entregando o esfregão e o balde.
Menos de vinte minutos depois, terminamos na sala comunitária e nos dirigimos à cozinha.
Julie nos avistou no segundo em que entramos, levantou o olhar e nos cumprimentou com um largo sorriso.
Não pude deixar de notar que seu cabelo loiro estava cuidadosamente preso em um coque no topo da cabeça, e seus olhos brilhavam de alegria. Ela parecia feliz hoje.
Julie havia perdido seu companheiro recentemente em um ataque de renegados. Ela tentava ser corajosa, mas todos podíamos ver que ela estava sofrendo por dentro.
Essa era a primeira vez que a Omega de quarenta e cinco anos tinha um sorriso no rosto.
"Boa tarde, meninas," ela nos cumprimentou e acenou para nos aproximarmos.
"Oi, Omega Julie," a cumprimentamos. Todos, especialmente as crianças, a adoravam.
"Sua comida está pronta," ela disse, apontando para o aquecedor, e Mila e eu corremos para lá.
"Vocês duas lavaram as mãos?" Julie perguntou no momento em que tentamos pegar nossos pratos.
Mila e eu nos olhamos e depois olhamos para Julie.
"Não," sussurramos ambas.
"Então vão lavar as mãos," ela disse, nos expulsando da cozinha.
Mila e eu saímos da cozinha cabisbaixas. Estávamos morrendo de fome, e agora precisávamos lavar as mãos antes de pegar nosso prato de comida.
Julie fez seu famoso macarrão com queijo, e eu já podia imaginar o sabor na minha língua.
Mila fez uma cara feia, aparentemente irritada—a sala das mulheres estava fechada no fim do longo corredor.
Eu, por outro lado, dei a ela um sorriso travesso e pisquei.
"Ah, não vai não," Mila avisou.
"Ah, vou sim," eu disse, me preparando para correr pelo corredor.
"Vamos nos meter em encrenca," Mila reclamou.
"Só se nos pegarem," eu disse.
Mila revirou os olhos com um suspiro, e antes que terminasse de revirar os olhos para mim, eu já estava correndo pelo corredor.
"Isso é trapaça!" ela gritou atrás de mim.
Mila me alcançou alguns segundos depois, e as duas estavam rindo a cada passo que dávamos.
Ninguém estava lá para nos ver, e ninguém gritaria conosco por fazer barulho ou reclamaria de nos ver correndo.
Mila ganhou a corrida por apenas alguns segundos.
"Você roubou," reclamei, ofegante.
"Por que diz isso?" Ela disse, olhando para o teto, ignorando meu olhar.
"Porque você usou a velocidade do seu lobo," eu disse, irritada.
"Você não estabeleceu nenhuma regra," Mila argumentou.
"Mas você sabe que eu não tenho um lobo," eu defendi. "Você não está jogando justo!"
Mila ficou em silêncio, olhando para seus pés, e eu de repente me perguntei o que ela estava pensando.
Será que eu disse algo errado?
"O que foi?" eu perguntei, me aproximando.
"Em," ela disse, hesitante. Ela abriu a boca sem fazer som, mas eu podia ver que ela tinha muito a me dizer.
"Mila, o que foi?" eu perguntei.
Seu olhar se fixou em mim, e preocupação e confusão se refletiram nele.
"Você pode me contar," eu disse. "Você sabe que pode."
Mila respirou fundo.
"Ontem à noite," Mila disse, baixando o olhar para suas mãos e brincando com a barra da camisa. "Eu vi algo acontecendo com você."
Meu coração deu um salto. Será que ela me viu com Alex?
"O que você viu?" eu perguntei, engolindo em seco o nó que se formava na minha garganta.
Mila levantou o olhar lentamente.
"Quando voltamos do banheiro, notei que você estava agindo de maneira estranha," ela disse.
Minha mente voltou para a noite passada. Lembrei que a atração para a saída era inevitável—cada célula viva do meu corpo queria ir para lá.
"E?" eu perguntei, lembrando dela ofegante e dando um passo para trás de mim. Ela parecia meio horrorizada.
"Você não parecia você," ela disse.
Eu fiquei em silêncio, tentando processar o que Mila estava tentando me dizer.
O que Mila viu?
"O que você quer dizer com 'eu não era eu'?" eu perguntei.
"Emily, seus olhos ficaram vermelhos," Mila sussurrou. "E sua aura parecia chamas vermelhas se movendo ao seu redor."
Isso me confundiu ainda mais.
"Você acha que pode ser meu lobo?" eu perguntei esperançosa.
"Seja o que for," Mila disse. "Me deu um baita susto."
Será que eu tenho um lobo afinal?


















































































































