Um jogo sem fim
Uma risada pesada ecoou por toda a sala mal iluminada. O dono da risada estava sentado em uma cadeira em sua cobertura em Midtown Manhattan. Ele cruzou as pernas e cobriu a boca com uma mão. Não conseguia parar de rir.
Ao contrário, o humano que estava em pé na frente dele não achava graça nenhuma na situação. O humano e também o mordomo, Xavier, estava pálido. Ele não tinha coragem de olhar para seu mestre, Alexander Stone.
"Desculpe, Mestre," o mordomo sussurrou com medo. "Eu não pensei que ela iria–"
O pedido de desculpas de Xavier foi interrompido por outra explosão de risada de Alexander. O mordomo estremeceu com o som. Seu rosto ficou ainda mais pálido.
"Ela desistiu?" Alexander perguntou incrédulo. "Aquela mulher conseguiu desistir do contrato?"
Alexander parou de rir instantaneamente. Seu olhar escureceu. A aura que emanava dele ficou pesada. E antes que Xavier pudesse proferir outro pedido de desculpas, sua respiração ficou ofegante.
Xavier segurou o peito. De repente, sentiu uma dor. Uma dor muito forte. Ele se curvou até os joelhos para tentar respirar melhor, mas até suas pernas cederam. Logo, ele estava se contorcendo no chão.
"Como isso pôde acontecer?" Alexander perguntou.
Xavier lutava para responder. Cada palavra que tentava dizer ficava presa na garganta. "E– ela b– brincou c– com... ações..."
Alexander piscou. E no segundo seguinte, a dor no peito de Xavier desapareceu. O velho homem respirou fundo para encher os pulmões. Seu coração estava acelerado, bombeando sangue por todo o corpo. Seu corpo começou a tremer no chão.
"E de onde ela conseguiu o dinheiro para brincar com ações em primeiro lugar?" O tom de Alexander ficou mais pesado a cada pergunta.
"E– ela usou o cartão preto, Senhor," Xavier conseguiu dizer, ainda com o corpo curvado no chão. "Ela investiu o dinheiro do cartão preto para obter lucro para si mesma. Depois, devolveu todo o dinheiro que havia emprestado junto com o dinheiro que você deu como pagamento inicial do contrato."
Alexander franziu a testa. Os cantos de seus lábios se viraram para baixo. Ele não gostou da resposta.
"Ela é muito inteligente, não é?" Alexander disse, "Pelo menos tenho que admitir isso."
"Você está dizendo... que todo esse tempo, ela nunca tocou em um centavo do dinheiro que eu dei a ela?"
O mordomo tremeu novamente. Xavier engoliu seco antes de responder, "Ex– exceto o dinheiro que você deu para a mensalidade dela–"
Xavier gritou com o rosto no chão quando ouviu Alexander se levantar de repente e jogar um vaso na parede. O vaso se despedaçou. E Xavier sabia que, se não escolhesse bem suas palavras, o próximo a se despedaçar seria sua cabeça.
"Deixamos de fora o dinheiro da mensalidade do contrato!" Alexander berrou.
"S– sim, Senhor."
"E você está dizendo que todo esse tempo, você não sabia que ela nunca tocou em um centavo e estava brincando com ações?" A voz de Alexander se elevou. O mestre da casa deu um chute na mesa de centro à sua frente com tanta força que a mesa voou até a parede oposta. Os vidros da mesa se quebraram e a madeira se estilhaçou.
"Você está dizendo que não temos nada para vinculá-la ao contrato novamente? NADA??!" Desta vez, ele pegou um vaso de planta e jogou na parede.
O fogo dentro do peito de Alexander continuava a ferver. Era ou jogar todos os objetos ao redor ou matar seu mordomo pessoal que estava com ele há muito tempo. Ele quase o havia matado antes.
"Como você não percebeu??" ele perguntou furioso.
Xavier murmurou incorrigivelmente. Seus lábios tremiam tanto que ele não ousava responder.
"Responda, Xavier!"
Quando o mordomo se recusou a responder, os olhos de Alexander escureceram novamente. Seus olhos inteiros ficaram negros.
Xavier sentiu a pressão no peito novamente. Sua boca de repente se moveu sozinha.
"C– com todo o d– devido respeito, Senhor," o mordomo disse ainda com o rosto no chão. "V– você também não sabia q– quando é você q– quem passa t– tanto tempo c– com a Senhorita Ann..."
O mordomo afundou mais o rosto no chão. Ele estava gemendo agora, com medo da ira de Alexander. Não podia acreditar nas palavras que saíam de sua boca. Definitivamente, era sua sentença de morte agora. Com certeza. Não havia como prever ao lidar com um ser imortal como Alexander. Um ser que podia fazer magia e facilmente escravizar os outros.
Francamente, Xavier estava extremamente ciumento de Ann, que conseguiu se libertar facilmente. Mas ele também estava irritado porque ela era a razão pela qual ele tinha que lidar com o temperamento de Alexander.
Por que ela não podia simplesmente ficar quieta? O dinheiro era pouco para ela?
Não. O dinheiro era enorme. E Xavier pensou que Ann não resistiria à tentação. Xavier pensou que Ann definitivamente usaria o cartão preto para gastar mais consigo mesma. Mas ele ficou chocado quando Ann lhe disse que nunca usou um centavo. Mesmo que tivesse usado, ela devolveu cada centavo ao cartão preto. E, ela não tocou no pagamento inicial do contrato – uma quantia de cinquenta mil, e ela não tocou nisso de jeito nenhum.
Por que ela não podia ser como qualquer outro humano?
Se ela tivesse sido, estaria vinculada ao contrato por toda a vida, como Alexander queria.
Se ela tivesse sido como Xavier, estaria escravizada a Alexander por toda a eternidade, gostando ou não.
Mas ela não foi.
E agora a cabeça de Xavier estava em risco. Ele esperava que Alexander tivesse outro acesso de raiva devido às suas palavras anteriores.
Inesperadamente, Alexander riu novamente. O Imortal se levantou da cadeira e limpou o rosto com as mãos. "Três mil anos eu vivi nesta Terra e nunca consegui adivinhar aquela mulher, não é?" ele disse mais para si mesmo.
Então ele soltou um suspiro pesado. "O que devo fazer com esta? Eu a marquei para que todos no submundo tentassem pegá-la. Especialmente aqueles três."
"V– você pode tentar vinculá-la c– com outro contrato, Senhor," Xavier sugeriu.
"Não é assim que o jogo funciona, Xavier," Alexander disse em um tom baixo. Ele se aproximou de outra mesa onde um tabuleiro de xadrez estava aberto. As peças de xadrez estavam espalhadas de maneira abstrata, mas estratégica, entre os quadrados pretos e brancos. Ele pegou a peça da rainha branca do tabuleiro. "Você sabe que é um jogo de xadrez entre várias pessoas. Temos que esperar nossa vez."
Alexander colocou a peça da rainha no meio do tabuleiro. Em seguida, colocou a peça do rei preto atrás da rainha. "Eu fiz minha jogada. E pensei que venceria desta vez. Mas ela continua um passo à minha frente, não é?" Ele zombou, mais para si mesmo. "Tch. Uma mera mulher humana conseguiu me enganar."
"Agora é a vez deles."
Alexander pegou o cavalo, o bispo e as peças do rei branco. Colocou todas na frente da peça da rainha, prendendo a rainha com a peça do rei preto.
"Se isso continuar... o jogo nunca terminará de verdade."
Então ele colocou um sorriso sinistro. Um que, mesmo sem Xavier olhar, fez o mordomo tremer mais.
"Bem, essa é a diversão de tê-la no jogo."















































