Aaron Capítulo 8
A caminhada para casa não deveria ter sido longa, mas ele estava se deleitando em seus pensamentos e na lembrança do corpo dela pressionado contra o seu. Era quase impossível acreditar que Aislyn havia concordado em se casar com ele. Como ele tinha se tornado tão afortunado a ponto de ter a moça mais bonita do mundo como sua?
Logo, ele se viu parado em frente à sua própria porta e percebeu que também tinha muita sorte de nada ter surgido das sombras enquanto ele voltava para casa, já que não estava prestando nenhuma atenção ao seu redor e teria sido um alvo fácil se algo, terreno ou sobrenatural, tivesse escolhido atacá-lo.
Ele ainda estava nas nuvens quando abriu a porta silenciosamente. No entanto, não precisava se preocupar em interromper o sono de seus familiares, pois todos os três estavam acordados, e claramente algo não estava certo. Genty estava sentada em uma cadeira perto da lareira apagada, sua mãe no chão ao lado dela, segurando sua mão, enquanto o avô estava atrás dela, com as mãos pressionando seus ombros. Sua irmã estava chorando tanto que seu corpo inteiro tremia a cada soluço doloroso.
Aaron fechou a curta distância rapidamente, parando bem na frente dela. “Genty? O que aconteceu?”
“Oh, Aaron, graças a Deus,” disse sua mãe, levantando-se e envolvendo os braços ao redor dele. “Eu estava tão preocupada com você.”
“Estou bem, mãe. Eu acompanhei Aislyn até em casa. O que aconteceu com a Gen?”
“Foi horrível,” começou sua mãe, virando-se para encarar sua filha mais velha, que mal conseguia respirar de tanto chorar. “Eles foram atacados no caminho para casa. Ela mal conseguiu sair viva.”
“Oh, meu Deus,” exclamou Aaron, quase sem acreditar na história. Ele caiu de joelhos e se jogou sobre sua irmã, seus braços envolvendo sua cintura. “Você está bem, Gen? Por favor, me diga que eles não te machucaram.” Ele começou a procurar arranhões nos braços e no pescoço dela, sabendo que até o menor corte poderia levar a uma infecção.
“Ela está bem,” garantiu o avô. “Nós fizemos uma verificação completa.”
“Eles não me tocaram,” Genty conseguiu dizer entre os soluços. “Foi todo mundo.”
“Todo mundo?” Aaron repetiu, recuando de joelhos para poder olhar para ela.
“Sim,” ela confirmou. Embora as lágrimas ainda rolassem por suas bochechas, sua respiração estava se tornando mais regular. “Eles saíram dos arbustos, perto da casa da Min. Loughlin gritou para corrermos, e eu corri para os campos. Min também, mas ela tropeçou. Quin parou para ajudá-la a se levantar e então... tudo o que ouvi foram gritos. Eu me escondi atrás de uma árvore, incapaz de correr mais, e pude vê-los, delineados contra o céu noturno. Quatro Seres das Trevas, três dos meus amigos, todos sendo levados. Eu sabia que não havia nada que eu pudesse fazer para ajudá-los, então, assim que recuperei o fôlego, saí correndo novamente, deixando todos para trás.” Seus olhos começaram a ficar vidrados, o choque tomando conta. Balançando a cabeça lentamente, ela disse, “Eu simplesmente os deixei para trás.”
“Você fez o que tinha que fazer,” garantiu o avô. “Você fez o que Loughlin insistiu que você fizesse.”
“Eu fui uma covarde,” insistiu Genty, com a cabeça apoiada no cotovelo sobre a pequena mesa de jantar. “Eu deveria ter ficado e lutado pelos meus amigos.”
“Se você tivesse ficado, eles ainda estariam desaparecidos, e você também,” argumentou sua mãe, usando as mãos para secar as lágrimas que escorriam pelo rosto da filha.
Aaron ficou em silêncio por um momento, mas podia sentir a raiva crescendo dentro dele. Aquele som que ele e Aislyn tinham ouvido, devia ter sido um dos Seres das Trevas durante o ataque. “Desculpe,” começou ele, ficando de pé na frente de sua irmã, com os braços cruzados. “Eu deveria ter estado com você.”
“Estou tão feliz que você não estava,” garantiu Genty. “Eu não sei o que teria feito se precisasse proteger você, Aaron, mas certamente não teria fugido. Eles poderiam ter pego nós dois.”
Passando a mão pelos cabelos com tanta força que alguns fios realmente se soltaram, Aaron exclamou, “Não podemos continuar vivendo assim. Com medo por nossas vidas dia após dia. O número de cruzes no cemitério continua a crescer, o pavor nos olhos das crianças, nos seus pais, é mais evidente a cada vez que ocorre outro ataque como este. Até quando vamos ficar parados sem fazer nada?”
“Não há nada que possamos fazer,” insistiu o avô. “Temos o acordo.”
“O acordo?” Genty disse, virando-se para poder olhar para ele. “Loughlin era membro da Ordem, vovô. Você sabe disso. Quin também era. Se os Seres das Trevas podem nos atacar agora, por que não podemos fazer nada em troca?”
“Não fale essas palavras,” respondeu o avô, sua voz um sussurro afiado. “Não fale sobre eles, ou eles virão.”
“Eles virão de qualquer maneira,” disse Aaron, agora com as mãos nos quadris. “Realmente não há nada que possamos fazer, ou apenas dissemos que não faremos por causa desse suposto acordo?”
Seu avô abaixou os olhos, seus ombros caindo. “Não há nada que possamos fazer. Somos impotentes contra eles.”
Aaron conhecia seu avô como um homem honesto, mas algo na maneira como ele disse aquelas palavras o fez saber que ele não estava sendo sincero agora. “Então por que há uma diferença entre os membros da Ordem e os outros?” ele perguntou. “Certamente deve haver algo que nos distinga.”
“Se algum dia houve, ninguém sabe o que é agora,” disse Bree, de pé ao lado da cadeira de sua filha. “Embora eu ache que deve haver algo também. Havia rumores quando eu era mais jovem, histórias de Seres das Trevas derrotados, banidos para as cinzas.”
“Não falaremos mais sobre isso,” exigiu Ferris, batendo a mão na mesa com força suficiente para deixá-la tremendo por vários segundos. “Somos parte da Ordem, e honraremos o acordo. Pelo menos, enquanto eu caminhar por esta terra, essa é a escolha que meu clã, o clã McReynolds, manterá. Qualquer um que deseje fazer o contrário pode deixar esta casa!”
O ar entre eles ficou denso por vários segundos enquanto todos olhavam para o avô em silêncio atônito. Após alguns momentos, Genty se levantou da cadeira, alisou seu vestido e disse em uma voz assustadoramente calma, “Eu vou embora. Se não amanhã, então no dia seguinte. Não posso mais ficar em um país que permite que seu povo passe fome enquanto envia comida para o exterior, que se recusa a enfrentar aqueles de quem não falamos, que nos trata como se fôssemos escravos.”
“Oh, Genty,” disse Bree, com lágrimas escorrendo dos olhos. “Para onde você vai?”
“Para a América,” ela respondeu, como se sua decisão já estivesse tomada há muito tempo. “Tenho um pouco de dinheiro que economizei com as costuras que fiz, e embora não seja muito, é o suficiente para a passagem. Loughlin falou sobre vir comigo….” Seu rosto era corajoso e sua voz não vacilou, mas Aaron podia ver que ela começava a desmoronar ao falar o nome dele. “A irmã dele mora lá, em Boston. Vou me juntar à família dela lá.”
Deixando sua mãe ofegante, Genty terminou e se virou para ir embora. A mão de Bree disparou e agarrou o ombro da filha. “Podemos falar sobre isso pela manhã, quando as cabeças estiverem mais frias?”
“Minha cabeça está fria, eu garanto,” Genty respondeu por cima do ombro sem se virar para encarar a mãe. “Podemos conversar sobre isso, mas não vou mudar de ideia. Esta Irlanda não é aquela em que desejo criar uma família. Se você escolher ficar, então, temo que teremos que viver vidas separadas.”
Em todos os seus anos, Aaron nunca tinha ouvido sua irmã falar com a mãe daquela maneira. Enquanto a observava subir a escada para o sótão, ele percebeu que ela já devia saber que ele havia pedido Aislyn em casamento. Sem o irmãozinho em casa para cuidar, Genty estaria livre para perseguir a vida que sempre sonhou. Agora, no entanto, graças aos Seres das Trevas, ela seria forçada a encontrar outra pessoa para viver esses sonhos ao seu lado.
Aaron jurou que nunca deixaria algo assim acontecer com sua doce Aislyn. Se houvesse uma maneira de protegê-la, ele a encontraria — ou morreria tentando.
