Meus dias no orfanato acabaram

—O que você está dizendo?—gritou Rachel— Eu te amo, Daniel!

—Mas eu não —disse ele— você é a esposa do meu melhor amigo, só foi uma diversão, entenda, seu lugar é com ele. Voltei porque quero falar com meu amigo.

—Maldito bastardo!—disse Rachel— Você vai me pagar!

—Calma, Rachel!— disse Daniel— vamos conversar como pessoas civilizadas. Nos divertimos muito durante esses meses, mas agora tudo acabou.

—Não para mim— disse Rachel— eu te amo, Daniel.

—Você está confundida!— disse Daniel.

Rachel caminhou para dentro da casa. Daniel acreditou que ela tinha entendido e decidiu voltar para sua casa. Depois ele explicaria tudo para Hafid e pediria perdão, se necessário de joelhos.

Quando estava prestes a sair da casa, Rachel apareceu e chamou:

—Daniel!

Ele se virou e a viu parada, olhando fixamente para ele. Ouviu um ruído e caiu de costas, ainda sem entender o que estava acontecendo. Outro ruído e a escuridão o envolveu completamente. Ao ver o que havia acabado de fazer, ela tomou uma decisão drástica. Tudo aconteceu em questão de segundos, e aquele romance terminou para sempre.

A babá, que havia saído do quarto ao ouvir o barulho, ao ver a cena triste, soltou um grito de terror e angústia; todo o pessoal doméstico também saiu.

Ao ver aquela cena horrível, chamaram o dono da casa imediatamente; foi um duro golpe para esse homem, que não podia acreditar que sua casa havia se transformado em um inferno de um momento para o outro.

A babá explicou à polícia o que havia acontecido, e também a Hafid. Depois do funeral, ele disse à mulher que ela ficaria cuidando das crianças até encontrarem uma nova babá.

Já havia passado um ano e até agora ela continuava lá. Ele tinha que viajar constantemente e não queria que essa mulher ficasse com seus filhos, então teve a ideia de oferecer um salário milionário para uma mulher que não só cuidasse das crianças, mas também se casasse com ele.

Assim, ela poderia ser a mãe de seus filhos. Ele não queria se deitar com ela, seu coração estava morto para o amor. Hafid estava apenas cheio de amargura e ódio.

Sylvia Smith havia sido criada em um orfanato. Sempre foi tímida, embora quando se sentia atacada, tinha uma língua muito afiada. Fora isso, era tranquila, taciturna e muito organizada; sempre andava sozinha, embora interiormente sempre desejasse companhia.

Cresceu sob a tutela das irmãs que dirigiam o orfanato, sonhando que um dia seria inserida em uma família, mas nunca foi selecionada.

Agora, com dezoito anos, ela precisava sair e fazer vida fora do orfanato. Não tinha ninguém, pelo menos que ela soubesse; a irmã Aurora havia prometido ceder-lhe suas economias.

No dia em que saiu, a irmã lhe entregou uma pequena quantia.

—Você precisa mais do que eu— disse a freira— eu tenho teto e comida aqui, além disso, sou velha, espero a morte.

Embora não concordasse, Sylvia aceitou o dinheiro, prometendo devolvê-lo assim que pudesse. A quantia serviu para alugar um quarto, comprar algumas roupas e também obter alimentos enquanto procurava um emprego.

Arranjou um trabalho em um restaurante que servia apenas café da manhã, das seis da manhã até as quatro da tarde, com um dia de folga na semana.

Toda semana, ela ia até o orfanato para pagar a dívida com a irmã Aurora. Pouco tempo depois, já tinha quitado toda a dívida com a irmã, mas algo inesperado aconteceu, ela ficou desempregada.

Os dias iam passando e ela não conseguia obter um emprego, assim a dívida do aluguel também se acumulava. Precisava resolver sua situação logo, senão acabaria na rua.

Decidiu recorrer novamente à irmã Aurora, já que não tinha ninguém a quem recorrer. Chegou ao orfanato para conversar com a irmã e a encontrou muito doente, então ela só deu dinheiro para comprar alguns alimentos.

Já haviam se passado mais de dois meses e ela continuava sem emprego. A senhoria estava se tornando hostil com ela e, a cada dia, lembrava-a da dívida pendente.

Naquela manhã, saiu novamente à procura de trabalho. Por volta do meio da manhã, estava faminta e ainda não havia conseguido nada.

Ela se sentou em um banco de uma praça qualquer, e depois um senhor idoso também se sentou na outra extremidade do banco, com um jornal na mão.

Como não o conhecia, ela não buscou conversar com ele, mas, uma vez que o idoso folheou todo o jornal, ele se levantou e o deixou ali.

Ela ficou observando enquanto o senhor se afastava e deixava o jornal, então se aproximou, pegou-o e começou a folheá-lo. Havia apenas uma seção que a interessava: a seção de empregos.

Ela procurou rapidamente antes que o idoso voltasse para buscar o jornal e começou a ler avidamente cada anúncio. Um deles chamou sua atenção.

O anúncio dizia: "Precisa-se de jovem para cuidar de duas crianças; requisitos: não ter família, estar disposta a viajar, bom salário".

Havia um endereço e um horário para as entrevistas das possíveis candidatas, a entrevista seria dali a uma hora, então ela pegou o jornal e foi imediatamente para o endereço indicado.

Quando chegou no local da entrevista, uma longa fila de mulheres vestidas modestamente e com os cabelos impecáveis aguardava. Sylvia, aparentemente, era a última da fila. Suas esperanças eram mínimas, ela pensou em ir embora várias vezes.

Uma jovem saiu com chocolate e biscoitos, oferecendo às candidatas ao emprego. Sylvia aproveitou para dar algum sustento ao estômago.

Duas horas depois, ela entrou em um amplo escritório com uma elegante mesa de madeira. Um homem muito formal, sentado em uma confortável cadeira, indicou com a mão para que ela se sentasse.

— Fale-me sobre você, senhorita Smith — disse o homem formal.

Ela o observou por alguns segundos, endireitou-se na cadeira e disse:

— Sou Sylvia Smith, tenho dezenove anos, cresci em um orfanato, de onde saí há um ano. Estou sem trabalho, sem casa e, que eu saiba, não tenho familiares — disse a jovem, muito ereta.

— Entendido; o trabalho consiste em cuidar de duas crianças de três anos, uma menina e um menino — disse o homem formal —, o salário será de doze mil dólares por mês. Você viajará a maior parte do tempo.

Sylvia arregalou os olhos ao ouvir o salário e depois disse:

— Eu não tenho passaporte — a voz de Sylvia tinha um tom agradável.

O homem assentiu e disse:

— Está bem, você tem um número para contato?

Ela forneceu o número da senhoria, torcendo para que, se ligassem, ela não estivesse de mau humor e pudesse atender.

Saiu com as esperanças no chão, o melhor era continuar a procura em outro lugar. Olhou o horário e decidiu ir para casa comer e descansar, sentia-se exausta.

Ao chegar, a senhoria a olhou com o rosto endurecido. Sylvia disse:

— Dei o número de casa, se ligarem, por favor me avise.

A senhoria soltou um grunhido que Sylvia não entendeu, não tinha escolha a não ser sorrir tristemente. Nem ela mesma acreditava que iriam ligar.

Por volta das cinco da tarde, bateram à sua porta. Era a senhoria. Ao abrir, Sylvia esperou pacientemente uma série de broncas, mas ela apenas disse:

— Você tem uma chamada.

Sylvia não podia acreditar. Saiu imediatamente e pegou o telefone, atendendo:

— Alô! Sim, sou eu. Às nove da manhã? Sim, senhor, estarei lá.

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