3. Não sei se é uma boa ideia

°❀⋆・ᥫ᭡⋆゚❣︎ Eleonor ⋆˚✿

Arya nos explica o próximo caso. Embora ainda não saibamos quem fará a investigação, precisamos de mais detalhes do local. O dono do rancho colaborará conosco e, ao que parece, estaremos perto de Laredo, Texas. A notícia me anima. Meu irmão mora lá e espero ter a oportunidade de vê-lo.

A sala está iluminada com um tom quente, o murmúrio das conversas flutua no ar. A tensão é quase palpável enquanto Arya continua com sua explicação.

—Temos um túnel que é muito provável que chegue até a fronteira —diz com seriedade, apoiando as mãos sobre a mesa—. A investigação é crucial, pode nos levar a desmantelar um grande cartel do México. Suspeitamos que alguém próximo ao rancho Prescott tem ligações com eles.

Monique cruza uma perna sobre a outra e se inclina para frente.

—E devemos passar despercebidos? —pergunta.

—Sim, para evitar levantar suspeitas e não expor o senhor Prescott —explica Arya.

—Eu não tenho muita relação com o campo —adverte Monique, esboçando uma careta.

—Eu também não, mas posso fazer isso perfeitamente —comenta Frank com confiança.

—Nunca fiz um trabalho assim —admito—. Se eu for a escolhida, só espero não acabar trabalhando com um daqueles vaqueiros convencidos.

As risadas estouram ao meu redor e a atmosfera se relaxa momentaneamente.

—Em Laredo passei por experiências ruins —expresso—. A última foi uma grande briga com um cara que se achava dono da cidade só porque usava botas e chapéu —faço uma cara feia.

Arya me observa com diversão no olhar.

—Não conheço o senhor Prescott, mas Nathan me pediu ajuda com isso e se ele é amigo dele, tenho certeza de que é uma boa pessoa —afirma—. Nos próximos dias entrarei em contato com ele e definirei quem de vocês é a melhor opção para passar despercebido e realizar a investigação.

—E se o senhor Prescott estiver envolvido? —pergunto, duvidosa—. Ele pode estar aproveitando sua amizade com o detetive Blake.

—É uma possibilidade —intervém Benji, que estava em completo silêncio—. No nosso trabalho nunca podemos descartar nada. Embora seria muito tolo da parte dele denunciar algo em que está envolvido.

—Também poderia culpar outros para se livrar de qualquer acusação e continuar com suas atividades ilegais sem que ninguém interfira —argumento e Monique me olha com desaprovação.

—Eleonor, você nem conhece o senhor Prescott e já está acusando ele —me diz em tom recriminatório.

—Só estou dizendo —dou de ombros.

A reunião termina quando Arya recebe uma ligação de Nathan Blake.

—O que acha de voltar para sua casa? —me pergunta Frank, depois que nos retiramos.

—Estou ansiosa para ver minhas sobrinhas —respondo com um enorme sorriso.

—Duvido muito que você consiga, considerando a missão —adverte Monique.

—Não se adiantem —nos interrompe Benji—. Isso ainda é uma investigação preliminar. Ainda não há nada concreto, vamos esperar para ver o que Nathan diz para Arya.

Passamos o resto do dia trabalhando. Arya sai do escritório, aparentemente para se reunir com seu supervisor. Quando a tarde cai, Benji se despede e nós nos dirigimos a um bar próximo.

—Preciso de mais do que uma cerveja —declara Monique, apoiando os cotovelos no balcão—. Quero um tequila duplo —ela diz ao barman—. E você? —me aponta.

—Uma cerveja —peço e me acomodo em um dos bancos.

—O mesmo para mim —levanta a mão Hassan—. Estou com sede.

—Eu prefiro algo diferente —acrescenta Frank, acomodando-se ao meu lado—. Um conhaque, por favor.

O barman nos entrega nossas bebidas e começamos a conversar sobre tudo um pouco. A noite avança e as palavras fluem mais livremente.

—Vocês acham que Nathan virá para a cidade? —pergunta Frank, com a voz pastosa.

—Para que ele viria? —franze o cenho Hassan.

—Não sei —Frank levanta as mãos—. Pode ser porque estamos investigando o caso do amigo dele, o tal Prescott.

Monique lança um olhar incrédulo.

—Você só quer que ele venha com a Milly —o repreende—. Quando vai parar de suspirar por essa mulher?

Frank resmunga, mas evita nos olhar diretamente.

—Não estou suspirando por ela! —responde irritado e bebe o resto do seu conhaque para pedir outro imediatamente.

—Só você não percebe —Monique cruza os braços—. Tem uma mulher incrível na sua frente que poderia te fazer feliz e você continua preso ao passado.

Meu estômago se aperta. Sei perfeitamente a quem ela se refere.

—Monique —a interrompo, desconfortável.

—É a verdade —resmunga—. Vocês poderiam ter tido algo bonito e esse idiota estragou tudo. Só ele não percebeu o quanto você gostava dele.

Frank me observa com os olhos um pouco turvos pelo álcool.

—Você realmente gosta de mim? —pergunta surpreso.

—Idiota, claro que ela gosta de você —responde Monique antes que eu possa fazer isso—. Ou gostava, agora não sei.

A incomodidade me invade. Levanto-me, pego dinheiro na bolsa e pago a conta.

—Hassan, você cuida para que eles cheguem em casa?

—Claro, Eleonor —confirma, me deixando mais tranquila.

Tento ir embora, mas antes de chegar ao carro, Frank me alcança.

—Espera, por favor —se coloca na minha frente, bloqueando meu caminho.

—O que você quer?

—Por que você nunca me disse que gosta de mim?

—Gostava —corrijo frustrada—. Saímos uma vez, não se lembra?

—Sim, mas…

—Você passou a noite toda falando de como a Emilia Blake é linda, maravilhosa e excelente agente.

Ele fica em silêncio.

—Isso foi quando eu acabei de chegar, Frank —minimizo—. Agora é diferente.

—Podemos nos dar uma chance? —sugere, se aproximando.

Tento recuar, mas ele se inclina para mim, tentando me beijar.

—Não, Frank. —empurro-o suavemente—. Primeiro, você está bêbado. E segundo, agora não me interessa ter um relacionamento.

Frank fica parado, sua expressão é uma mistura de frustração e resignação.

Sem dizer mais nada, entro no carro e arranco.

Chego ao apartamento e meu telefone não para de tocar, é Monique. Certamente está envergonhada por tudo o que disse.

Na verdade, não me preocupa. Frank chamou minha atenção quando cheguei aqui, mas ao perceber que não tinha chance com ele, deixei pra lá e nunca mais pensei nisso.

Nunca tive sorte em relacionamentos amorosos, embora não culpe meus ex-namorados. Meu caráter também não facilita as coisas.

Lembro do meu último namorado, Ángel. Cavalheiro, educado, sensível, com um físico que chama atenção em qualquer lugar: alto, magro, mas tonificado, cabelo castanho claro, olhos azuis e uma personalidade agradável, além de ser um excelente advogado.

Nos dávamos bem, até que na sua festa de aniversário decidiu me pedir em casamento na frente de toda sua família e meu irmão. Não bastou me entregar o anel ali mesmo, também me condicionou a mudar de trabalho, já que, segundo suas próprias palavras, não queria viver preocupado comigo.

As risadas ao nosso redor me atordoaram. E se não fosse por essa condição absurda, teria aceitado. Eu o amava e podia imaginar um grande futuro juntos.

Disse que conversaríamos depois, mas ele não quis. Continuou pressionando, convencido de que eu cederia. Não me deixou opção. Recusei na frente de todos e ele nunca me perdoou.

Gabo dizia que quem te ama de verdade não te impõe condições, já que, sendo um casal, devem chegar a um acordo em que ambos estejam satisfeitos.

Coloco o pijama e me deito na cama. Antes, desligo o telefone. Monique continuará ligando e pretendo descansar, amanhã converso com ela. Não estou chateada, embora tenha me incomodado que ela tenha feito Frank acreditar que eu o amo loucamente, algo que é completamente falso.

O sono não vem fácil. Estranhamente, a noite é inquieta. Nos meus sonhos, um homem com botas e chapéu me aponta. Não distingo seu rosto, mas sua presença me impõe. Me lembra que nos meus anos de universidade tive uma experiência muito ruim com um vaqueiro.

No sábado, acordo cedo com uma dor de cabeça incômoda. Vou para a cozinha, ligo a cafeteira e começo a desfrutar meu café em silêncio. Mas há algo mais no meu peito, uma inquietação que nunca havia experimentado antes.

A campainha do meu apartamento me tira dos pensamentos. Me aproximo, abro a porta e me encontro com Arya e Benji.

—Bom dia —cumprimentam ao mesmo tempo, rodeando-me para entrar.

—Sim, queremos café, por favor —Benji aponta para minha xícara.

Respiro fundo, rogando para que tudo esteja bem. Cumprimento-os formalmente, sirvo o café, entrego a eles e me acomodo em frente a eles na mesa.

—Tudo bem? —pergunto, embora algo em seus rostos me diga que não.

—Sim e não —responde Arya.

Ela pega seu computador e mostra um mapa.

—Entendo que você conhece bem Laredo, certo?

—Sim, eu moro lá —confirmo.

Arya amplia a imagem na tela.

—Este é o rancho Prescott —seu dedo aponta a extensão de terra—. A algumas horas da cidade. Aqui é onde encontramos o túnel, a entrada está dentro de um galpão abandonado. Legalmente, o terreno pertence à cidade, mas há vários ranchos próximos. Não sabemos quem controla o lugar.

—E o que eu tenho a ver com tudo isso? —dou um gole no meu café.

—Você vai ao rancho Prescott —informa Arya, recostando-se na mesa.

A xícara em minhas mãos de repente parece mais pesada.

—O quê!? —exclamo preocupada.

—Você conhece a área. Tem experiência no lugar —intervém Benji—. Acho que você poderia fazer um excelente trabalho de investigação.

—Nunca fiz uma missão secreta —digo com o pulso acelerado.

—Por isso mesmo esta é sua melhor oportunidade —insiste Arya—. Brook Prescott sabe que você é agente, só ele, e contará com sua ajuda, mas não saberá seu nome nem nenhum outro detalhe pessoal.

—Arya, não sei se isso é uma boa ideia.

—É sim —assegura Benji—. Estou convencido disso.

—Amanhã mesmo você viajará para Laredo —continua Arya, sem prestar atenção às minhas palavras—. Depois, deverá ir a uma cafeteria onde alguém do rancho passará para te buscar. Você será contratada como assistente pessoal de Brook e aqui está a informação sobre a família dele para você estudar —me entrega uma pasta—. Aqui está seu passaporte para a missão e uma identificação. Como sabe, seu telefone pessoal deve ficar aqui —me lembra—. Este será seu telefone —me mostra um novo—. Não tem riscos de rastreamento, mas é apenas para uso oficial. E este é seu computador, para relatar avanços na investigação e para todo o trabalho —me entrega em uma maleta.

—Monique, Hassan e Frank se instalarão em Laredo durante a investigação —informa Benji—. Terão reuniões eventuais com você —me olha com firmeza—. E lembre-se, não poderá entrar em contato com sua família.

Assinto, tentando assimilar todas as informações.

—Sei que é sua primeira vez em algo assim, mas aqui estão todas as instruções —Arya me entrega um pendrive—. Alguma dúvida? —pergunta.

—Ainda não —admito atordoada.

—Lembre-se, é apenas investigação. Não intervenha em nada sem nos consultar primeiro —me aponta Benji e eu assinto lentamente—. No pendrive está a informação do seu voo —explica, deixando a xícara vazia sobre a mesa—. Qualquer coisa, nos ligue.

Eles se despedem algumas horas depois e eu ainda estou em choque.

Sem mais nada a fazer, pego o telefone e ligo para Gabo, tenho que avisar que estarei incomunicável por algumas semanas.

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