Cinco
Ava
Nuvens cinza-escuro cobriam o céu, e um frio pairava no ar. Ainda assim, o mercado de agricultores estava movimentado. O pessoal de Hannibal adorava suas compras de sábado.
Eu e Linea também.
A ameaça de uma tempestade não podia nos parar.
Passamos por barracas e estandes. Paramos em alguns, olhamos os itens e barganhamos sem parar.
“Nós podemos fazer isso, sabia?” Linea largou uma escova que estava olhando.
“Fazer o quê?”
“Abrir uma barraca.”
Linea era uma mulher empreendedora. Toda semana, ela surgia com uma nova ideia do que poderíamos fazer. Mordi o lábio. “Estou ouvindo.”
Minha amiga girou no lugar. “Olhe ao nosso redor.” Compradores. Comerciantes. Um dia frio e sombrio. “Sim?”
“Todo mundo sai para fazer compras aos sábados, e nós não trabalhamos aos sábados.” Ela agarrou meu braço, me prendendo com seus olhos cor de avelã. “Podemos começar nossa própria barraca. Só abrir aos sábados. Podemos vender produtos de limpeza.”
“Hmm, como isso é diferente dos centenas de produtos já no mercado?”
“Vamos lá.” Ela me arrastou para a próxima barraca e pegou uma garrafa. “Olhe, apenas olhe os ingredientes.” Linea os leu em voz alta. “São tóxicos. Isso é o que as pessoas usam para limpar suas casas.”
“Menina, se você não largar minha água sanitária...” A vendedora colocou a cabeça para fora da barraca.
Linea largou rapidamente, e seguimos em frente.
“Olha, não estou dizendo que vamos fazer uma fortuna, mas temos uma boa chance.”
“É uma boa ideia,” eu refleti. “Já que a maioria do que usamos é orgânico, podemos educar e iluminar os outros para usarem também.”
“Exatamente.”
Nos separamos por um segundo para dar passagem a um homem com uma cesta pesada.
Quando nos reunimos novamente, Linea acrescentou: “Além disso, você sabe que algumas pessoas gostariam de usar nossos serviços, mas não podem pagar.”
“Bem, se apenas—”
“Não, Ava, não vamos reduzir nossas tarifas.”
Eu ri. Ela me conhecia. Já tivemos essa conversa muitas vezes.
Linea tinha certeza de que, se não trabalhássemos juntas, eu estaria limpando casas de graça. Ela não estava totalmente errada.
“Olha, isso seria uma maneira de ajudá-los e ainda ganhar dinheiro extra. O que você acha?”
“Eu—”
“Ava! Yoo-hoo, Ava.”
Eu me virei na direção da voz para ver a Sra. Mullen. Ela era uma mulher robusta na casa dos quarenta. Alguns fios de cabelo grisalho se misturavam com seu cabelo ruivo. Esse cabelo agora chicoteava em volta do rosto dela enquanto ela corria até nós.
“Oi, Sra. Mullen.” Eu sorri. Linea também ofereceu uma saudação.
“Como vocês estão hoje, meninas?” Ela lançou um olhar terno entre nós. “Ava.” Ela sorriu calorosamente. “Não posso te agradecer o suficiente pela caçarola.”
Meu rosto esquentou. “Não foi nada, e isso foi há três semanas. Não mencione.”
“Bem, as crianças ainda estão falando sobre isso.” Ela pegou minha mão e a acariciou.
“Obrigada.”
Um sorriso curvou meus lábios. “Papai fez. Eu só trouxe.”
“Oh, Thomas. Ele realmente sabe se virar na cozinha. Espero poder retribuir o favor algum dia.”
Apertei a mão dela. “Tenho certeza de que você vai se recuperar em breve.”
Enviando um último sorriso entre mim e Linea, ela disse: “Espero que sim. Tenham um ótimo dia, vocês duas.”
E então ela se foi.
“Eles realmente gostam de você,” Linea comentou.
“O quê? Não.” Continuei pelos corredores. “Você é muito gentil.”
“Qualquer um faria isso. Não importa.” Para evitar que ela insistisse no assunto, mudei de tema. “Então, sobre vender produtos de limpeza.”
“Mm-hmm.” Linea se animou, os elogios esquecidos.
“E se não só oferecêssemos os produtos, mas também uma lista de verificação?” As sobrancelhas dela se franziram. “Como?”
“Bem, sabemos que as casas ficam muito desorganizadas com o tempo, e a maior razão para isso é que os donos não mantêm a organização diariamente. E se criássemos modelos de coisas simples que eles podem fazer a cada dia, para que não acumule e os sobrecarregue?”
Linea parou no meio do caminho. Eu me virei para ela. “O quê?”
“Deus, Ava. Eu não sei o que fazer com você.” Ela suspirou. “O quê?” Eu ri.
“Ensinar eles a organizar suas casas?” Ela arregalou os olhos. “Esse é o nosso trabalho — limpar e arrumar casas descontroladamente bagunçadas. Se mostrarmos como fazer, perderemos negócios.”
Pensei por um momento. “Ah, entendi.”
“Que bom que entendeu.” Ela balançou a cabeça. “Eu me pergunto como você ganharia dinheiro se eu não controlasse sua generosidade.”
“Linea!”
Ela riu, andando à frente. “Só estou dizendo. Você é como o Papai Noel, mas o ano todo.”
“É, bem,” Nenhum argumento surgiu na minha mente. “Ninguém está reclamando,” terminei em voz baixa.
“Aww, não fique assim.” Ela se virou, um sorriso nos olhos. Eu balancei a cabeça. “Você é impossível, Linea.”
“A barraca de limpeza ainda é uma boa ideia, certo?” Eu assenti. “Parece divertido. Podemos pegar uma barraca na frente.”
“Acho que tem uma taxa. Podemos verificar, no entanto.”
“Sim, deveríamos—” Meu estômago revirou, o calor subindo pelo meu corpo.
Parei no caminho, tentando me recompor. Alguém esbarrou em mim e pediu desculpas. Eu não conseguia falar.
Só conseguia me concentrar em ficar de pé enquanto minha cabeça girava. O que estava acontecendo?
Mãos quentes tocaram meu ombro. “Ava, você está bem?” Pisquei para minha amiga. “Não sei. Só estou me sentindo tonta.”
Ela olhou ao redor, então puxou meu braço. “Venha comigo.” Linea nos levou a uma área de descanso e me empurrou para uma cadeira. “Eu já volto.”
Enterrei meu rosto nas mãos e massageei minha testa. O que há de errado comigo?
“Aqui.”
Afastei as mãos. Linea segurava uma lata de refrigerante diante de mim. “Obrigada.”
O primeiro gole desceu pela minha garganta, trazendo um pouco de estabilidade. Linea se jogou na cadeira oposta a mim. “Está se sentindo melhor?”
“Um pouco.”
“O que foi aquilo?”
Balancei a cabeça e bebi profundamente. “Não faço ideia. Mas…” Deixei a lata na mesa. “Tenho me sentido exausta ultimamente.”
Linea se inclinou. “Desde quando? Por que só está me contando agora?”
“Há cerca de uma semana. Não é nada. Provavelmente só estou trabalhando demais e me esgotando.”
“Ava,” ela repreendeu gentilmente, “você faz demais. E se você tirar a segunda-feira de folga e eu cobrir para você? Você pode descansar e—”
“O quê? De jeito nenhum.” Sentei-me, e minha cabeça girou um pouco. Cerrei os dentes contra a sensação. “Você não pode fazer três casas sozinha em um dia de trabalho de oito horas.”
“Mas—”
“Mas nada.” Levantei-me rápido demais, mas mantive o equilíbrio. “Estou bem.” Mais ou menos. “Vou dormir até mais tarde amanhã, e estarei fresca como uma margarida na segunda-feira.”
Linea ofereceu um relutante, “Ok.”
Retomamos a caminhada quando ela acrescentou, “Mas se você sentir o menor sinal de tontura de novo, vai para casa.”
“Combinado.” Só para acalmá-la. Eu estava bem.
Contornamos a saída do mercado. “Pegamos tudo?” Linea olhou dentro da sacola de compras. “Pegamos.”
Com isso resolvido, saímos. As barracas abertas deram lugar às ruas da cidade, e logo caminhávamos em direção ao supermercado do meu pai.
“Quero dar um oi para o papai. Talvez eu não consiga ir ao jantar de amanhã.”
“Beleza,” disse Linea.
Meu estômago revirou, mas me recusei a mencionar. Não podia deixá-la trabalhar sozinha na segunda-feira.
Para me distrair, disse a primeira coisa que veio à mente. Risque isso.
A única coisa na minha mente.
“Eu te contei o que papai disse sobre o amigo dele?” “Liam?” Ela sorriu, os olhos brilhando.
Eu tinha trazido isso sobre mim mesma. “Sim.”
“Não, conte-me.” Linea se aproximou.
Quando descobri quem ele era, contei a ela, mas nada mais. Ela também não insistiu.
Agora, porém, já fazia uma semana. Mesmo que eu pensasse nele diariamente, agora conseguia falar sobre ele sem corar até os pés.
E eu estava morrendo de vontade de contar para Linea.
“Papai disse que ele era médico em Nova York. Ele se cansou da correria e decidiu vir para Hannibal para uma vida mais tranquila.”
“Eu juraria que ele trabalhava para uma agência secreta.” “Como um espião, né?”
“Sim, ele tem o perfil.”
Eu ri. “Ele é só um médico.”
“Um médico com quem você se envolveu.” Ela beliscou meu lado, mexendo as sobrancelhas.
“Ugh, não diga desse jeito.” “Mas foi um ótimo sexo.”
“Linea!” Olhei ao redor, mas ninguém prestava atenção em nós. “Shh.”
“O quê? Você me disse que não foi nada demais.”
“Bem, isso foi antes de eu descobrir que ele vai ficar. Ele está montando um consultório aqui.”
“Oh, céus.”
“Pois é. Adeus à ideia de nunca mais vê-lo.”
“Bem…” Linea mordeu o lábio. “Não tenho nada. Isso é complicado.”
Meu estômago revirou. “É mesmo.”
“Então, seu pai sabe?”
Meu coração saltou para a garganta. “Claro que não. E você não vai dizer nada sobre isso.”
“Não vou falar uma palavra.”
Nos aproximamos do supermercado, e relaxei os ombros. Se eu não contasse ao meu pai, e Linea também não, tudo ficaria bem.
Liam também estava cooperando, recusando os convites para jantar do meu pai. Eu tinha certeza de que era por minha causa.
Recusei-me a deixar isso me afetar de qualquer maneira. Era o que eu queria.
Nesse momento, meu estômago se contraiu, e uma sensação de enjoo subiu pela minha garganta. Corri para a lixeira mais próxima e me inclinei sobre ela.
Meu café da manhã voltou.
“Oh, céus.” Linea apareceu ao meu lado, segurando meu cabelo para trás. Outra onda veio, e eu vomitei novamente.
Linea murmurava desculpas repetidamente até que meu estômago esvaziou. Afundei nos calcanhares, respirando fundo.
“Isso foi nojento.” Afastei a lixeira. Minha piada pairou no silêncio entre nós.
“Ava,” ela começou, “há quanto tempo você está se sentindo mal?”
“Uma semana.” Passei a mão pela testa. Já tinha mencionado isso antes. “Por quê?”
Os olhos dela se estreitaram.
“O que você está pensando?” Me levantei, e um calafrio percorreu meu corpo.
“Bem, quando você dormiu com Liam, vocês usaram—”
Meu estômago afundou, e balancei a cabeça. “Não, não é possível.”
“Ava.” Ela se aproximou do meu rosto. “Vocês usaram?”
“Nós não usamos, mas—” Pressionei uma mão contra a boca, meus pulmões se contraindo.
“Foi só uma vez. Como isso é possível?”
“Oh, não.”
“Não diga isso.” Minha voz tremia. “Eu não estou… Eu não posso estar…” A palavra não saía da minha garganta.
“Ei.” Linea segurou minhas mãos trêmulas. “Olhe para mim.” Encarei seus olhos cor de avelã, forçando-me a manter a calma.
“Não sabemos com certeza. É só uma teoria. Talvez você esteja no auge do seu esgotamento.” O tom leve dela soou vazio, e eu não consegui esboçar um sorriso.
“Olha, em vez de especular, que tal eu pegar um teste de gravidez para termos certeza?”
Agarrei o braço dela e apontei para a loja do meu pai. “Lá dentro? E se papai te vir? E se ele perguntar?”
“Ele não vai.” Ela esfregou meus braços. “Porque você vai distraí-lo.”
Soltei um suspiro. “Certo?”
“Certo.”
“Ava?”
“Estou bem.” Assenti, respirando fundo. “Faça o que precisa fazer.”
Linea entrou na loja, e eu a segui. Meus olhos foram para a porta do escritório do meu pai. O gosto amargo subiu pela minha garganta.
Eu poderia vomitar de novo.







































































































































