CAPÍTULO 2

FRANCESCA

Já faz três meses que estou frequentando a escola e, ao contrário do que eu imaginava, as outras meninas não são nada gentis, pelo contrário, são ainda mais cruéis do que as que eu já havia encontrado na minha vida.

No começo, elas falavam das minhas roupas surradas, ou dos meus sapatos gastos, ou até mesmo da minha mochila que não era da última moda.

Quando vou ao banheiro e encontro algumas delas retocando a maquiagem, ou até fumando escondido, como já vi algumas vezes, elas se calam e logo saem, me deixando sozinha.

Sem falar na aula de esportes, onde fazem questão de sempre jogar a bola em mim para me machucar.

O pior é que a professora muitas vezes faz vista grossa, sabendo de quais famílias essas mesmas meninas pertencem.

Sim, percebi que aqui o sobrenome que você carrega tem um grande peso. E o meu não tem peso nenhum, o que não difere muito das outras instituições que frequentei.

Para piorar, Rafaella Givadotti, a aluna mais respeitada da escola por ser filha de um dos maiores benfeitores da instituição, não gostou de mim. Segundo ela, porque eu simplesmente existo e cruzei seu caminho.

Ela conseguiu todas as informações sobre minha origem e espalhou para todos os alunos, expondo a mim e minha mãe. Mas como minha mãe é professora, a pior parte da humilhação ficou para mim.

A única que me acolheu e me trata com carinho é Giovanna, ou Gio, que se tornou minha amiga. Assim como eu, ela vem de uma família humilde, sua mãe é a secretária da diretora, Ruth, mas ao contrário de mim, Rafaella apoia sua presença e não a atormenta. Porque as notas de Gio sempre foram as mais altas da sala, os professores a escolheram como monitora e foi aí que ela começou a ser "respeitada."

Aqui, ao contrário de outras escolas, são os professores que escolhem os monitores pelas notas altas e Rafaella não conseguiu alcançar essa marca, mesmo sendo muito respeitada por todos aqui.

Giovanna é doce e adora ler romances, é a típica garota que sonha com um príncipe chegando em um cavalo branco para salvá-la dos males do mundo.

Confesso que nunca acreditei em príncipe no cavalo branco, afinal, desde cedo a vida não me apresentou esse lado doce e bonito, mas sonho em ter algo que nunca tive, uma família.

Gio é a única que conversa comigo e ainda tenta me defender dos ataques gratuitos das outras meninas. Minha mãe, por outro lado, não pode se envolver para não correr o risco de ser convidada a se retirar da instituição e perder sua renda, assim como uma educação de qualidade para mim.

Como também gosto de ler, Gio e eu passamos muito tempo na biblioteca, um lugar tranquilo onde posso ter paz. No entanto, ao contrário da minha amiga, adoro ler livros sobre mitologia romana e grega. Sou apaixonada pelas narrativas dos deuses e deusas do Olimpo, até descobri que meu nome do meio é o de uma deusa.

Diana é a deusa dos animais selvagens e da caça, assim como dos animais domésticos. Filha de Júpiter e Latona, irmã gêmea de Febo, ela obteve de seu pai a permissão para não se casar e permanecer sempre casta. Júpiter providenciou um séquito de sessenta oitavas, ninfas das profundezas inacessíveis do mar, e vinte ninfas, espíritos femininos naturais, ligados a um lugar ou objeto particular da natureza, que, como ela, renunciaram ao casamento.

Como disse, sonho em ter uma família e um marido que me ame e me faça feliz. Não quero ficar sozinha e sofrer como vejo acontecer com minha mãe.

Nunca vi minha mãe com ninguém, afinal, sua vida é a escola e eu, mas acredito que ela se sente sozinha e já a vi chorando muitas noites quando dividia um quarto com ela. Normalmente isso acontecia quando ela acreditava que eu já estava dormindo.

Nesta instituição, por ser um internato, infelizmente nos separamos. Minha mãe volta todos os dias para a casa que herdou dos pais.

Sim, ela ficou com a casa depois que meu avô faleceu.

Acabei dividindo um quarto com a Gio, pelo menos nisso tive sorte.

Saio dos meus pensamentos com minha amiga me cutucando.

"Fran, estou te chamando aqui faz um tempo e você parece estar longe. O que aconteceu?"

"Nada, Gio, só pensando na vida. Mas o que está acontecendo?" - pergunto olhando ao redor.

A sala de aula está um verdadeiro alvoroço e as meninas riem enquanto a professora de Artes pede silêncio.

"Amiga, pelo jeito você não ouviu nada mesmo. As festividades de Sant'Ana, nossa padroeira, estão chegando, um dia em que teremos folga e iremos à igreja de Orsanmichele, perto da Piazza della Signoria, junto com os meninos da escola ao lado. É quando podemos paquerar alguns e talvez sermos correspondidas. Pena que ao anoitecer voltamos para a escola e temos que esperar uma nova data para poder encontrá-los novamente."

"Ah, é isso... Gio, nem me animo, porque sei que serei invisível aos olhos de todos e até prefiro assim. Talvez Rafaella encontre alguém e me esqueça de vez."

"Rafaella está apaixonada por Lorenzo Rocatelli, um dos meninos mais populares da escola romana. Ele é lindo, mas pelo que sei não dá muita bola para ela. Então, nem se aproxime dele, senão sim, você terá mais problemas."

"Credo em cruz, quero distância e espero não cruzar com ele. Não quero correr o risco de Rafaella achar que quero roubar o que é dela."

"Ele não é dela, mas é melhor."

"Meninas, silêncio! Para a festa ainda falta um mês, então vamos prestar atenção na aula. Hoje vamos pintar uma tela sobre a história de Sant'Ana. Que tal usar toda essa empolgação para transmitir na tela uma pintura rica e cheia de emoção. Saibam que as melhores serão expostas no salão principal da igreja," diz a professora muito animada.

Admito que odeio pintar, não tenho talento nenhum e minhas obras parecem feitas por uma criança de cinco anos.

Pensando bem, acho que a única coisa que gosto além de ler é ouvir música. Adoro sentir a melodia invadir meus ouvidos e viajar nas notas musicais.

A professora começa a contar a história de Sant'Ana, a santa protetora de Florença, avó de Jesus, e decido prestar atenção em suas palavras.

Logo temos nossas telas em branco à nossa frente e uma paleta de cores ao lado.

Não vou conseguir escapar, vou começar a colorir e seja o que Deus quiser.


A aula termina e estou suja de tinta até onde não devia, mas consegui pintar algo. Enquanto estou apreciando meu trabalho, Rafaella passa por mim, olha com desdém e esbarra seu pincel na minha tela, estragando a pintura recém-feita.

"Ah, desculpe, não tinha te visto," diz ironicamente.

Lágrimas tomam conta dos meus olhos e logo estão escorrendo, mesmo enquanto tento evitar.

Saio correndo da sala, ando pelos corredores, até me encontrar no muro que separa as duas escolas.

Sento em uma pedra no jardim e deixo as lágrimas correrem livremente pelo meu rosto.

Passo um tempo ali, tentando me acalmar e quando consigo respirar, sem deixar as lágrimas voltarem, percebo que já é noite. Olho ao redor e percebo que estou sozinha entre as flores e árvores. Há apenas o som de alguns pássaros voando pelo lugar em busca de um local para se recolher.

Olho para o céu estrelado e penso na minha vida.

Meu pai me abandonou, meu avô nos virou as costas, e a pessoa que me deu amor, além da minha mãe, morreu.

Será que eu não vim ao mundo para ser amada?

"Oi, posso ajudar?"

Abro os olhos, assustada, e encontro um lindo par de olhos azuis, me observando atentamente.

"Quem é você? O que faz aqui?"

Pergunto olhando para o belo rapaz à minha frente.

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