Capítulo 4 - Eu sabia que você era um problema, parte 2

Meu relacionamento com Doug terminou depois de uma noite louca de amor. Ele perguntou se eu queria namorar com ele, eu disse que sim e depois desapareci por duas semanas. Quando voltei, ele nem queria olhar para a minha cara, e uma semana depois tivemos a grande cena, um Doug bêbado jurando amor na porta do apartamento errado.

"Gostei da roupa, Ella." Diz ele quando passo por ele. "Você sabe que pode me ligar quando quiser, não sabe?" Corro para a segurança do meu carro. Doug até poderia ser uma opção se não fosse tão meloso.

Ligo o carro e sigo para o meu novo apartamento. O trânsito está tranquilo porque é uma bela manhã de domingo, o que me faz chegar rapidamente ao meu novo endereço.

Assim que chego ao prédio, uso o antigo código de Jebe para entrar, mas o código é negado. Digito novamente e aparece negado de novo. Dou ré com o carro, saindo da garagem, e paro em frente ao prédio. Mal posso esperar para ver a cara do porteiro quando me vir de pijama.

Saio do carro pegando minha bolsa e a documentação do apartamento. Caminho rapidamente até a portaria do prédio. Assim que me vê, o porteiro abre a porta.

"Bom dia, Srta. Ella." Ele me cumprimenta sorrindo de maneira amigável. "Nem precisa dizer, o código foi mudado pelo Sr. Kross."

"Ele já está no apartamento, John?" Pergunto olhando para o homem. "O carreto colocou tudo no apartamento?"

"Ele chegou esta manhã e Alice recebeu tudo." Ele fala, desviando o olhar dos meus pijamas. "A senhorita deve querer a nova senha, não é?"

"Sim, se possível." Digo sorrindo enquanto John faz uma ligação. Passam-se cinco minutos antes de eu ter o novo código do apartamento em mãos e poder entrar no prédio.

Jebe tinha um total de sete vagas de estacionamento, hoje todas estão ocupadas. Respiro fundo olhando para o carro que ocupa metade do espaço. Não vou entrar no joguinho do John, era hora dele saber que dois podem jogar esse jogo. Manobro meu carro e entro na vaga empurrando o outro carro até conseguir estacionar o meu. Assim que faço isso, pego minhas coisas e saio do carro. Caminho até o elevador e digito o código para a cobertura e logo estou subindo. Estou pensando em ligar para Patrick, mas estarei com ele na segunda-feira, então vou solicitar a mudança do código do apartamento e a remoção de quatro carros das vagas do prédio. Assim que o elevador para, saio e vou direto para o quarto de Jebe, bem, certamente não é mais o quarto dele. Abro a porta e vejo todas as minhas caixas espalhadas pelo lugar. Tudo está diferente, parecia impossível que Debbie tivesse trocado o papel de parede em menos de um dia, a menos que ela já soubesse o que ia acontecer. Coloco minha bolsa na cama e olho ao redor. O novo papel de parede é de um tom rosa muito claro com lírios brancos delicados, algumas prateleiras de madeira branca saem da parede perto da lareira, cortinas em tons de branco e rosa caem em frente à janela. No centro do quarto há uma cama com dossel, maior que a antiga de Jebe, atrás dela uma penteadeira de estilo provincial e uma porta que deve levar ao closet, do outro lado, a porta do banheiro está aberta. Tudo parece estranho e familiar para mim.

Pego a sacola com os muffins e vou para a cozinha. Sinto o cheiro de café fresco e, assim que vejo Alice, sorrio. Aproximo-me e sento no balcão, observando a mulher trabalhar. Ela não deve ter mais de 55 anos, seu cabelo loiro está sempre preso em um coque e seu uniforme cinza está sempre limpo e engomado.

"Eu pensei que depois do testamento do Jebe, você e Vincent iriam embora." Falo, vendo Alice dar um pequeno grito de surpresa e se virar sorrindo.

"Senhorita Ella, você me assustou." Alice dá a volta no balcão e me abraça. "Não podemos deixar vocês dois sozinhos, o Sr. Kross já está aqui, ele teve um ataque quando viu o quarto que você escolheu."

"Alice, primeiro de tudo, me chame de Ella." Falo sorrindo enquanto a mulher volta para trás do balcão. "Em segundo lugar, não me importo com ele, se ele quiser que eu fique com outro quarto, esse é meu."

"Ele ficou com a outra suíte, afinal temos mais cinco além da master." Diz Alice com um sorriso no rosto. "Aceita um café, Ella?"

"Sim, aceito. Trouxe alguns bolinhos que minha mãe fez." Concordo, colocando os bolinhos no balcão de mármore. "Faz tempo que ele chegou?" Alice me entrega uma xícara enquanto escolho um dos bolinhos.

"Ele chegou às sete da manhã e se trancou no quarto, as coisas dele chegaram quase junto com ele."

"Espero que ele fique lá para sempre, assim não terei que lidar com ele." Aponto, dando uma generosa mordida no bolinho. Vou em direção à janela da cozinha, onde um balcão foi montado como uma mesa em frente à janela com vista para a cidade. Puxo um dos bancos e me sento, apreciando a vista incrível do Central Park. O tempo aberto faz a vista parecer ainda mais surreal e majestosa. Bebo meu café comendo mais um pedaço do delicioso bolinho.

Estou tão hipnotizada pela vista que só volto ao mundo real quando ouço uma risadinha abafada. Antes de me virar, termino meu bolinho e meu café, e desço do banco. John está encostado no balcão central da cozinha, me observando com um sorriso malicioso.

"Poderia pensar em várias coisas para te dizer agora, mas sem dúvida é melhor apontar o quão ridícula você está com essa roupa." Ele aponta enquanto passo por ele, indo direto para a pia da cozinha onde Alice está.

"Você gostaria de mais alguma coisa, Ella?" Alice pergunta, olhando para mim com simpatia. Respondo que não e apenas peço para ela guardar os bolinhos enquanto me viro e olho para John de cima a baixo.

"Está gostando da vista?" Ele pergunta zombeteiramente.

"A única coisa ridícula e patética que estou vendo é você." Encaro-o firmemente enquanto caminho em sua direção. "O que você acha ridículo, para muitos é artigo de luxo. Tentar explicar o que é realmente bom para um homem acostumado a coisas sem valor é perder tempo." Sorrio. "Olhe bastante, grave cada detalhe para que, quando estiver com suas modelos esqueléticas, roendo os ossos, lembre-se de que há alguém melhor que você comendo filé." Antes que ele possa responder, viro-me e saio da cozinha confiante.


Após o breve encontro com John, decidi arrumar minhas coisas, o que me levou toda a manhã e parte da tarde. Estava organizando meu closet quando ouvi uma batida na porta.

"Entre!" Gritei de dentro do closet, arrumando os últimos pares de sapatos.

"Ella, o almoço está pronto." Alice anuncia, sorrindo.

"Vou tomar um banho e já volto." Digo levantando-me. "Obrigada." Antes de ir para o banheiro, escolho um vestido de verão simples e pego minha toalha junto com meu nécessaire e vou tomar um delicioso banho no chuveiro. O banheiro da minha nova casa é enorme, todo em mármore branco e com as mesmas janelas de vidro do resto da casa. De frente para a janela mais ampla, uma banheira oval de porcelana branca repousa como um item de outro mundo. Tiro meu pijama e coloco no cesto de roupa suja, entro na box envidraçada e ligo o chuveiro, deixando a água fria correr pelo meu corpo. Quinze minutos depois, vou para a sala de jantar, onde infelizmente John já está sentado na cabeceira da mesa com um tablet na mão. Sem dizer uma palavra a ele, sento-me no outro lugar à sua esquerda. Alice rapidamente serve o almoço, uma salada verde e salmão grelhado com molho de ervas e arroz com brócolis. Assim que Alice me serve, começo a comer, deliciando-me com a comida maravilhosa que ela preparou. Ela coloca uma jarra de suco de laranja na mesa, sirvo-me com um pouco de suco e continuo a comer, ignorando completamente John.

"Sabe o que eu acho muito engraçado?" Pergunta John, quebrando o silêncio. Eu não respondo. "Vou falar de qualquer jeito." Ele diz, ao perceber que não dou atenção a ele. "Você acha que, enquanto estou com uma mulher com o corpo perfeito, eu ficaria com ciúmes de um cara que está com uma gorda."

"Demorou tanto para pensar nessa resposta?" Pergunto retoricamente. "Claro, você tem que escolher entre ser um cretino e ter um cérebro." Rio ao ver a cara feia que ele faz. "John, realmente me surpreende como você pode ser tão idiota." Digo antes de terminar meu salmão e suco, encho o copo novamente e me levanto. "Com licença." Falo indo para o meu quarto.

A noite já havia caído quando finalmente terminei de arrumar tudo com a ajuda de Alice. Assim que terminei, peguei alguns papéis da empresa e fui para a sala ler. Liguei a TV e coloquei em algum canal de filmes, fui para a cozinha e preparei um chá de jasmim, voltei para a sala, sentei no sofá e comecei a analisar os papéis. Já passava das onze quando terminei com todos os papéis, comecei a passar de canal em canal até encontrar um filme que chamou minha atenção, Marilyn Monroe está na tela sensualizando sobre a saída de ar do metrô. Minha mãe escolheu meu nome em homenagem a ela, já que compartilhávamos o sobrenome, que mal teria sido ter o mesmo nome? Graças a Deus, meu pai, em um surto de consciência, escolheu Ella como nome do meio em homenagem a Ella Fitzgerald, a mesma Ella que cantava Dream A Little Dream of Me, a música que ele dizia ser a música dele e da minha mãe. Aumento o volume da TV, prestando atenção ao diálogo que segue na cena.

"Quem é essa? Você não disse que era casado." Sou arrancada da minha bolha quando uma voz estridente grita, coloco a televisão no mudo e me viro para ver uma loira alta e magra olhando para mim ao lado de John.

"Ela não é ninguém, vamos direto para o quarto." John fala, arrastando a mulher para fora da sala enquanto eu observo a cena. Se ele acha que vou permitir que transforme o apartamento de Jebe em um motel, está muito enganado. A partir de amanhã, ele vai descobrir quem vai mandar aqui.

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