Capítulo 2

Adelaide

A lama estava fria e áspera contra minhas bochechas enquanto Thalia aplicava outra camada com dedos trêmulos. Três dias haviam se passado desde que deixamos o palácio, e agora nos agachávamos na sombra de uma fazenda abandonada na beira do reino, transformando-nos no que esperávamos que passasse por escravos capturados.

"Fique quieta, Alteza," Thalia sussurrou, sua voz quase inaudível enquanto trabalhava a sujeira em meu cabelo preto e curto. As mechas douradas que antes caíam além dos meus ombros agora estavam descartadas em uma lareira do palácio, junto com minha vida anterior.

Agarrei seu pulso gentilmente. "Não estamos mais em Eldoria, querida amiga. Chame-me apenas de Adelaide. Nossas vidas dependem disso."

Ela assentiu, embora eu pudesse ver o medo que ela lutava para esconder. Meu próprio coração martelava contra minhas costelas enquanto o som distante de cascos se aproximando chegava aos nossos ouvidos — a patrulha de lobisomens que estávamos rastreando há horas, conduzindo sua última colheita de cativos humanos.

"O feitiço de ocultação?" perguntei em voz baixa.

Os olhos de Thalia se fecharam em concentração, seus dedos traçando símbolos antigos no ar acima das minhas costas. Uma sensação quente se espalhou pela minha pele onde a marca da lua de sangue estava escondida. "Vai durar vários dias," murmurou. "Mas Adelaide... uma vez que cruzarmos essa fronteira, entraremos em um reino onde a morte pode ser o destino mais bondoso que nos aguarda."

Apertei sua mão, buscando força em sua presença. "Então vamos garantir que isso não aconteça."

O trovejar de patas de lobo e passos pesados se aproximava. Através de uma fenda na parede da fazenda, eu os avistei — uma procissão de talvez trinta humanos, cabeças baixas em derrota, suas roupas rasgadas e espíritos quebrados. Atrás deles cavalgavam os guardas lobisomens em lobos enormes, os olhos de suas montarias brilhando como chamas âmbar na luz moribunda.

Thalia e eu saímos do nosso esconderijo, juntando-nos à retaguarda da coluna enquanto ela passava. Nenhum dos outros cativos levantou os olhos; eles haviam aprendido que chamar atenção significava dor. O lobisomem mais próximo de nós — um brutamontes com cicatrizes cruzando seus braços nus — mal olhou em nossa direção enquanto nos juntávamos aos outros.

O posto de controle na fronteira se erguia à frente como um portal para o submundo. Pilares de pedra maciça esculpidos com cabeças de lobo rosnando ladeavam a estrada, e entre eles pendia uma grade de ferro com o brasão de Silverhowl — uma cabeça de lobo prateada contra um campo de azul meia-noite. Tochas ardiam em arandelas de ferro, lançando sombras dançantes que faziam os lobos esculpidos parecerem se contorcer e saltar.

Um oficial lobisomem se aproximou, seu uniforme de couro escuro e fivelas de prata marcando-o como alguém de autoridade. Suas narinas se dilataram enquanto ele examinava os cativos, e por um momento aterrorizante, seu olhar se deteve em Thalia e em mim. Forcei-me a permanecer perfeitamente imóvel, olhos baixos, cada músculo tenso para a descoberta.

"Estoque fresco dos assentamentos orientais," rosnou um dos nossos escoltas. "O tributo usual para os Comandantes da Legião."

O oficial assentiu secamente. "Passem. A cota ainda não foi atingida neste ciclo lunar."

O alívio inundou-me enquanto a coluna avançava novamente. Nós nos arrastamos entre os pilares de pedra, e a cada passo, eu sentia o peso da minha terra natal caindo atrás de nós. O próprio ar parecia diferente aqui — mais espesso, carregado com uma energia sobrenatural que fazia minha pele arrepiar.

À medida que avançávamos mais fundo no território dos lobisomens, a própria paisagem parecia proclamar nossa entrada em um reino alienígena. As árvores cresciam mais altas e mais retorcidas, seus galhos formando formas grotescas contra o céu escurecido. Uivos estranhos ecoavam das florestas de ambos os lados da estrada, respondidos por outros mais distantes ainda, até que o próprio ar vibrava com seu coro assombroso.

O que mais me impressionou foi a chocante disparidade entre os escravos humanos. Os homens superavam em número as mulheres — talvez dez para uma — e os poucos que restavam mostravam os sinais do trabalho exaustivo. Eles se curvavam sob cargas que desafiariam bois, suas costas permanentemente arqueadas, suas mãos cruas e sangrando de carregar pedras e madeira sob o sol escaldante.

Os capatazes lobisomens rondavam entre eles como predadores espreitando presas feridas, chicotes cravejados de prata enrolados ao lado de seus corpos. Observei horrorizado enquanto um dos guardas chicoteava um menino que não devia ter mais de quinze anos, o couro mordendo fundo o suficiente para fazer sangue jorrar, simplesmente porque a criança havia tropeçado sob seu fardo.

Minhas mãos se fecharam em punhos dentro das mangas rasgadas, unhas cravando crescentes nas palmas enquanto a fúria queimava em meu peito. Esses eram os súditos do meu pai — meu povo — reduzidos a bestas de carga para o divertimento de seus captores.

"Tanta beleza," uma voz áspera cortou meus pensamentos sombrios. "Faz muito tempo que não adquirimos um espécime tão encantador."

Um lobisomem enorme se separou dos guardas e agora estava diretamente diante de Thalia, seus olhos amarelos percorrendo-a com uma fome indisfarçada. Mesmo sob a lama e a sujeira que havíamos aplicado, suas feições etéreas não podiam ser completamente ocultas.

"Esta eu vou guardar para meu prazer pessoal," ele anunciou, estendendo uma mão com garras para agarrar o braço de Thalia. "Não provo uma carne humana tão doce há muitas luas."

O terror passou pelo rosto de Thalia enquanto o bruto começava a arrastá-la para fora da coluna. Sem pensar, me joguei entre eles, encontrando o olhar surpreso do guarda com toda a ousadia que pude reunir.

"Ela é minha irmã," declarei, rezando para que minha voz não traísse meu medo. "Não podemos ser separados."

A resposta do lobisomem foi rápida e brutal. Sua palma aberta atingiu minha bochecha com força suficiente para me jogar no chão, estrelas explodindo na minha visão. Através do zumbido nos meus ouvidos, ouvi sua risada cruel.

"Sua irmã servirá a um propósito muito maior do que carregar pedras, pequeno vira-lata. E você—"

"Basta." A voz que cortou o ar carregava tanta autoridade que até o guarda se calou. Um lobisomem em uniforme militar se aproximou montado num cavalo preto, sua postura marcando-o como um soldado de alta patente. Insígnias de prata brilhavam em seu casaco azul escuro, e seus olhos pálidos observavam a cena com fria calculação.

"Eu sirvo sob ordens do Comandante da Primeira Legião, Draven," ele anunciou, suas palavras fazendo com que vários dos guardas se endireitassem com evidente respeito. "Preciso de uma jovem para transporte imediato à corte real. Você não vai interferir."

O aperto do guarda em Thalia afrouxou ligeiramente. "Mas Comandante, eu a reivindiquei primeiro—"

"Você está questionando a autoridade do Comandante da Legião, Draven?" A voz do oficial caiu para um sussurro mortal que fez todos os lobisomens ao alcance da voz darem um passo inconsciente para trás.

"Claro que não, Sargento. Perdoe-me." O guarda soltou Thalia imediatamente, inclinando a cabeça em submissão.

Lutei para me levantar, sentindo o gosto de sangue onde meus dentes haviam cortado meu lábio. "Por favor," disse, adotando o tom desesperado de uma irmã assustada. "Somos tudo o que temos neste mundo. Não nos separe."

O sargento nos estudou por um longo momento, sua expressão indecifrável. Finalmente, ele assentiu. "Muito bem. Duas servirão aos nossos propósitos adequadamente. Montem atrás dos meus homens — partimos para a Fortaleza de Lycandor imediatamente."

Enquanto mãos ásperas nos erguiam para os cavalos dos soldados, encontrei o olhar de Thalia e vi minha própria mistura de terror e determinação refletida ali. Havíamos conseguido nosso primeiro objetivo — entrar na fortaleza dos lobisomens — mas o que nos aguardava nas profundezas da Fortaleza de Lycandor permanecia envolto em sombras e temor.

Os cavalos começaram a se mover, nos levando mais fundo no território inimigo, rumo a um destino desconhecido.

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