Capítulo 3

CAPÍTULO 3: Aquele Rosto Muito Familiar.

~Dante Valentino

Entrei no bar como entrava nas salas de reuniões e nos campos de batalha. Frio. Calculado. Impassível. As pessoas olhavam, hesitavam e se afastavam. Esse tipo de reação era normal para mim. Eu as esperava. O que eu não esperava era o rosto atrás do balcão.

Meus pés vacilaram por um breve momento.

Ela estava lá, limpando um copo, empurrando uma mecha de cabelo curto para trás da orelha. E então ela olhou para cima. Por um segundo, nossos olhos se encontraram.

Eu congelei.

Os olhos dela. Aqueles belos olhos.

A mesma cor. A mesma tempestade.

Não.

Não podia ser.

Meu peito apertou. Ela não era como minha mulher. Essa garçonete tinha cabelo curto, sem traço da elegância rica que envolvia Aurora, minha esposa, como seda. Mas a semelhança era forte e irresistível. Era como se Aurora tivesse aparecido para mim, exatamente como em todos os meus sonhos.

"Sr. Valentino," Marco estava ao meu lado, sua voz trêmula, mas educada. "Gostaria do seu habitual?"

Eu nem olhei para ele. Ainda estava focado nela.

"Quero que ela me sirva," disse novamente, meu tom baixo.

"Senhor?" ele gaguejou. "Ela é apenas a garota do bar—"

"Ela. Ninguém mais."

Ele assentiu e desapareceu apressadamente, não querendo me irritar. Bom para ele.

O homem ao meu lado continuou a falar, algo sobre papéis, contratos que precisavam da minha assinatura. Não ouvi uma palavra. Minha cabeça estava girando. Ele provavelmente pensou que eu ia repreendê-lo, então estava suando profusamente.

Lembrei-me de um sorriso. Um vestido de noiva branco. Cachos caindo sobre ombros nus. A maneira gentil com que Aurora caminhava até mim pelo corredor—linda, bela. Ela era tudo que eu sempre quis para mim. E então, de repente, perdida. Arrancada de ao meu lado horas depois, numa noite que deveria ter sido nosso começo.

Enterrei um caixão depois de anos procurando por ela, mesmo que fosse seu corpo morto.

Enterrei meu coração com ele.

Mas agora, ela estava aqui? Não—alguém parecida com ela. Alguém com as mesmas feições. Alguém com a sensação que ela me dava.

Eu precisava saber.

Na sala VIP, esperei, dedos firmemente entrelaçados. A porta se abriu e ela entrou. Minha respiração falhou.

Ordenei que todos saíssem. Sem perguntas. Apenas silêncio.

Quando a porta se fechou, ela me serviu as bebidas que trouxe.

De perto, a semelhança era quase insuportável.

Mesma voz. Mesma presença. Eu queria segurá-la e chamá-la pelo nome dela.

Mas não era a mesma mulher.

Essa mulher parecia ter rastejado pelo fogo e recusado a queimar. Ela não era graciosa como Aurora, mas era bonita. Ela era crua.

"Qual é o seu nome?" perguntei, rezando para ouvir o nome que não dizia em voz alta há anos.

"Aurora," eu esperava.

"Eve," ela disse.

Eu a encarei, cada parte de mim gritando. Não. Não pode ser isso.

Mas a voz dela—Deus, era a mesma.

Abaixei a mão e cuidadosamente levantei seu queixo. Seus olhos não vacilaram. Corajosa. Igual a ela.

Ela me olhou, confusa, mas serena.

Tentei ver além dela, buscar mentiras, verdades, respostas. Mas tudo que vi foi o desejo persistente de saber quem ela era.

Se ela não era Aurora, então por que diabos ela parecia com ela?

"Quero que você trabalhe para mim," disse, recostando-me.

"O quê?" ela piscou, pega de surpresa.

"Preciso de uma assistente pessoal," menti. Na verdade, eu já tinha uma assistente pessoal, só precisava que essa Eve ficasse ao meu lado.

Ela me deu um olhar inquiridor—garota esperta.

"Já estou empregada aqui," ela disse.

"Bem, não mais."

Chamei Marco através de um botão especial conectado ao escritório dele. Ele veio correndo, uma expressão preocupada no rosto. Falei da minha intenção e ele conversou com ela silenciosamente e desesperadamente.

Eu permaneci em silêncio. Não precisava.

Ela hesitou, depois assentiu de má vontade.

Quando me levantei para sair da sala VIP, Marco fez um gesto para que ela me acompanhasse até a saída.

Ela me seguiu do lado de fora, seus passos vacilantes.

Um dos meus homens abriu a porta do carro, e eu me acomodei no banco traseiro. Ela ficou parada ali, como se não soubesse o que fazer em seguida.

Abaixei o vidro e olhei para ela, com um leve sorriso no rosto.

"Não está curiosa sobre qual é o seu trabalho de verdade?"

Ela não respondeu.

Ainda atordoada. Ótimo. Isso tornaria mais fácil observá-la sem que ela desconfiasse de nada.

"Não quero explorá-la, Eve. Você será minha assistente pessoal. Espero pontualidade, compostura e discrição." Eu a examinei da cabeça aos pés. "Você precisará de roupas novas. Sapatos. Estará comigo onde quer que eu vá."

Ela continuou em silêncio.

"Entre," eu disse.

Ela piscou. "Agora?"

"A menos que queira que eu mude de ideia."

Isso a fez se mexer.

Ela sentou-se rigidamente enquanto o motorista arrancava. Eu podia sentir sua curiosidade fervilhando.

"Primeira regra de trabalhar comigo: você me representa. Isso significa nada de jeans desgastados, nada de sapatos gastos e definitivamente nada de jaquetas com botões faltando."

Ela me olhou e revirou os olhos. Deve ter pensado que eu não vi.

Eu não estava.

"Vamos comprar roupas novas para você," eu disse. "Agora."

Ela se virou para a janela. "Certo."

A boutique era de alto padrão—demais para o mundo dela, mas perfeita para o meu. Os funcionários correram para me cumprimentar, arregalando os olhos quando notaram a mulher ao meu lado.

"Ela precisa de um guarda-roupa novo," eu disse. "Algo refinado. Elegante. Adequado para o trabalho. Vestido branco."

Eles assentiram, dispersando-se como pássaros nervosos.

Sentei-me no sofá de couro, observando-a ser arrastada para o provador.

Eu não pretendia pedir um vestido branco. Simplesmente... escapou.

Mas eu sabia exatamente por quê.

Aurora usava branco na maior parte do tempo. Era a cor favorita dela. Era a cor que a vi usando pela última vez.

Quando Eve saiu com um vestido de seda, justo, com alças delicadas e uma leve fenda na lateral, o tempo parou.

Ela parecia etérea. Atemporal.

Ela parecia com ela.

Engoli em seco, meu coração martelando contra minhas costelas.

Ela me pegou olhando. "Você quer que eu use esse tipo de coisa... para trabalhar?"

Meus lábios se curvaram ligeiramente. "Essa é uma das opções. Experimente outro."

Ela desapareceu novamente. E outro vestido veio. Depois outro.

Cada um era como descascar camadas de tempo e memória. Eu não estava apenas testando o estilo dela. Estava testando o destino. Testando a mim mesmo.

E se ela realmente fosse ela?

Não. Isso era insano.

E ainda assim...

Trinta minutos depois, ela estava segurando sacolas que não pediu. Pagas integralmente. Sem política de devolução.

Ela me olhou enquanto voltávamos para o carro. "Você sempre faz as coisas tão rápido?"

"Não tenho tempo a perder."

Sentamos em silêncio enquanto a cidade passava. Eu a observava pelo canto do olho—o jeito como ela abraçava as sacolas de vestidos como se fossem uma armadura. O jeito como olhava para qualquer lugar, menos para mim.

Ela não era Aurora.

Ela não podia ser.

Mas eu queria que fosse.

Deus, eu queria tanto, que isso me assustava.

O motorista entrou na rua dela—um lugar antigo, com prédios velhos e portões enferrujados.

Ela hesitou quando o carro parou. "É aqui."

Assenti.

Ela não agradeceu. Apenas abriu a porta, saiu e foi embora.

Eu a observei até que desaparecesse no prédio.

"Me leve para casa," eu disse ao motorista.

Enquanto partíamos, recostei-me no assento, meu coração batendo forte pela primeira vez em anos.

Quem diabos era ela?

Seria apenas uma estranha reviravolta do destino?

Peguei meu telefone.

"Consiga tudo sobre a garota chamada Eve que trabalha no bar do Marco," eu disse friamente.

Lembrei de algo. "Ah, demita minha assistente pessoal. Contratei outra pessoa."

Terminei a ligação, mas meus pensamentos não pararam.

Se ela realmente fosse quem eu achava que poderia ser...

Então nada mais seria o mesmo.

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