Capítulo 4

Capítulo 4: Eu Deixei a Máfia Furiosa.

~Eve Moretti

Antes mesmo do sol estar alto no céu, eu já estava completamente vestida e pronta para meu primeiro dia de trabalho. Minhas palmas estavam úmidas, mas minha maquiagem estava impecável. Eu tentava repetidamente me convencer de que isso era apenas um emprego. Um emprego enorme, com certeza, mas ainda assim, apenas um emprego. Um que eu talvez não estivesse qualificada para se tivesse me candidatado sozinha.

"Você tem certeza disso, Eve?" Lina estava parada na porta, com os braços cruzados e o rosto nublado de preocupação. Ela tinha visto os sapatos e roupas de grife na noite anterior. Não era burra.

"Tenho certeza, Lina. Não tenho outra escolha. Já concordei. É apenas um trabalho normal como assistente pessoal," eu disse a ela, esperando que isso a fizesse parar de se preocupar.

"Você não entende," ela disse, balançando a cabeça. "Eu ouvi falar de Dante Valentino. Ele não é apenas de uma geração de pessoas ricas. Dizem que ele lida com coisas ruins. A máfia. A família Valentino é da máfia. Você não pode confiar nele, Eve. Ele pode fazer qualquer coisa a qualquer momento."

Virei-me para confrontá-la, já segurando meu casaco na mão. "Eu sei o que estou fazendo, Lina. Isso pode ser o que vai mudar minha vida. Vou tomar cuidado. Eu prometo."

Ela não acreditou em mim, mas me abraçou apertado de qualquer forma.

A viagem até a mansão dos Valentino foi silenciosa, o motorista não disse uma palavra para mim, era como se cada um estivesse distraído com seus próprios pensamentos. Talvez porque quanto mais viajávamos, mais eu percebia que estava entrando em algo do qual não tinha certeza.

Os portões rangiam ao abrir, como se fossem me devorar inteira.

Lá dentro, a mansão era deslumbrante. Elegante, imponente, intimidante.

"Você deve ser a Srta. Moretti," disse o mordomo secamente. "Por aqui."

Ele me levou até um homem alto, de queixo afiado, que estava sentado a uma mesa de vidro, tomando café. Ele estava vestido de preto, o tipo de homem que exalava controle sem nem fazer esforço.

O mordomo pigarreou. "Sr. Dario, ela está aqui."

O homem se virou—e parou. Seu olhar se fixou no meu.

Crash!

O copo caiu de sua mão e se quebrou no chão.

Ele olhou como se tivesse acabado de ver um fantasma. Pisquei atordoada. "Hum, você está bem?"

Sua mandíbula caiu, depois se fechou rapidamente. "Você... Você é..."

O quê?

Enquanto ele tentava falar, a porta rangeu ao abrir. Um cara entrou correndo, ajoelhando-se. "Por favor, por favor, devolva meu emprego! Eu—eu nem sei o que fiz de errado!

O Sr. Dario nem piscou. "Ordens do Sr. Valentino. Não minhas."

"Por favor! Eu fui leal—não fiz nada de errado—"

Ele assentiu uma vez. "Seguranças."

Dois homens pareciam surgir do nada e arrastaram o homem embora, gritando. Eu estava paralisada. Meu coração disparou. Então era assim que o poder funcionava. Frio. Cruel.

"Não se preocupe com isso," o homem finalmente falou comigo. "Isso não é da sua conta."

Eu não tinha tanta certeza.

"Você deve ser a Srta. Moretti, a nova assistente pessoal. O Sr. Valentino está esperando por você. Ele está no vestiário." Ele fez uma pausa, depois acrescentou, "Você chegou um pouco atrasada. Deveria estar aqui antes de ele tomar banho. Ele não tolera atrasos. Vai deixar passar porque é seu primeiro dia."

Assenti rapidamente, mas parei. "Eu... eu te conheço? Você pareceu tão chocado há pouco."

Ele desviou os olhos. "Você só me parece familiar. Só isso."

Mentiroso. Ele estava obviamente mentindo para mim. Mas eu voltaria a isso mais tarde.

Mesmo assim, obedeci às suas instruções e segui por um corredor até entrar no closet.

Bati uma vez antes de entrar — e fiquei parada.

Dante Valentino estava em frente a um espelho, meio vestido. Suas costas estavam viradas para mim, a camisa solta sobre os ombros. E seu físico... Deus. Uma obra de arte esculpida em escuridão e pigmento. Tatuagens envolviam seus braços e costelas — cicatrizes deliberadas e ameaçadoras que gritavam máfia. Lina estava certa.

Ele se virou, puxando a camisa enquanto nossos olhares se encontravam. Imperturbável. Aterrorizante. Belo.

Ele acenou para um monte de gravatas sobre a cômoda. "Escolha uma."

Eu me aproximei da mesa, passando os dedos sobre uma gravata azul escura. Parecia sólida. Simples. Como ele.

"Boa escolha," ele disse. "Você sabe amarrar?"

"Sim," eu disse. Não fazia isso desde que acordei daquele incidente, mas tinha a sensação de que saberia amarrar perfeitamente.

Ele se aproximou. "Então venha."

Eu a peguei e fiquei na ponta dos pés por causa da diferença de altura, mas ele se inclinou um pouco para eu ter acesso. Sorri com seu pequeno gesto e dobrei a gravata ao redor do colarinho da sua camisa. Ele não se mexeu — apenas me olhou. Intensamente. Silenciosamente.

Seus olhos queimavam.

E então me atingiu.

Um flash — tão real que quase caí.

Cabelos longos. Um sorriso brilhante. Um homem se aproximando de mim.

"Meu amor."

Seu rosto estava desfocado. Mas a voz — clara. Familiar. Eu tinha ouvido aquela voz recentemente.

A dor atravessou minha cabeça, súbita e rápida. Meus joelhos cederam.

Dante me segurou antes que eu caísse. Seus braços eram sólidos, inflexíveis. Minha cabeça estava contra seu peito. Parecia... familiar.

Eu me afastei rapidamente. "Desculpe. Eu—eu não quis—"

"Você está bem?" ele perguntou, sua voz surpreendentemente gentil.

"Estou bem," menti. "Apenas uma dor de cabeça. Vai passar."

Ele me estudou por um instante a mais. Então assentiu. "Vá para o escritório. Pegue o que vou precisar para hoje."

Assenti e saí correndo. Meu coração ainda acelerado.

O escritório era enorme. Livros antigos o forravam. Móveis pesados o preenchiam. Cheirava a poder.

Passei a mão pelas lombadas dos livros, tentando me recompor. E então eu vi.

Uma foto na mesa, em um porta-retratos.

Eu a peguei — e o mundo simplesmente parou.

A mulher na foto... era eu. Mesmo rosto. Mesmos olhos. Apenas o comprimento do cabelo diferente.

Minhas mãos tremiam. Eu a deixei cair. O vidro quebrou.

Não. Não, não, não...

Abaixei-me e a peguei novamente, olhando fixamente para ela.

Quem era ela?

Quem era eu?

E então eu senti — a mudança no clima.

Dante estava parado na porta.

Ele se aproximou de mim, pegou o porta-retratos das minhas mãos, sua mandíbula travada.

Eu tinha conseguido deixar a máfia irritada no meu primeiro dia.

E desta vez, eu não tinha tanta certeza de que iria sobreviver.

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