Quatro
Sentei-me na cadeira de couro rígido do escritório do advogado, olhando para a pasta de papéis à minha frente. Do outro lado da mesa, o advogado—um homem de aparência afiada, com pouco mais de quarenta anos, cabelo bem penteado e um terno que provavelmente custava mais do que meu aluguel mensal—folheava alguns documentos com facilidade prática. A placa com seu nome na mesa dizia Benjamin Cross, mas mesmo sem a introdução formal, tudo nele exalava profissionalismo refinado.
“Então, Srta. Montrose,” ele disse, olhando para mim por cima dos óculos, “você está procurando assistência jurídica para o caso de desvio de seu irmão?”
“Sim,” respondi, apertando minhas mãos no colo para evitar que tremessem. “Meu irmão é inocente. Ele não roubou aquele dinheiro. Ele só... cometeu um erro. Assinou papéis sem lê-los.”
O advogado levantou uma sobrancelha. “Isso não é incomum em casos como este. Infelizmente, a negligência dele pode não absolvê-lo aos olhos da lei. O que você precisará é de uma defesa forte para provar a intenção maliciosa de outra parte ou fornecer dúvida razoável suficiente para evitar a condenação.”
Assenti, embora meu estômago estivesse revirando. “Você pode nos ajudar?”
Ele se recostou na cadeira, ajustando os óculos. “Certamente posso tentar, mas casos como este exigem tempo, recursos e expertise. Cobro R$ 500 por hora para consultas e R$ 5.000 adiantados para começar a trabalhar no caso.”
Minha respiração falhou. “R$ 5.000?”
“Sim,” ele disse de forma objetiva, como se não tivesse acabado de mencionar um valor que poderia muito bem ser um milhão de reais para mim. “Isso é padrão para casos de crimes de colarinho branco. Dependendo da complexidade, podem haver taxas adicionais ao longo do tempo.”
Olhei para ele, tentando manter a compostura, mas meu coração afundou. Não havia como podermos pagar isso. Eu mal conseguia manter nossas cabeças fora d'água com as contas médicas do Vovô e a loja.
“Eu... vou pensar sobre isso,” consegui dizer, minha voz tensa.
Ele assentiu, claramente desinteressado se eu realmente voltaria ou não. “Claro. Tome seu tempo. Mas devo alertá-la—quanto mais você demorar para agir, mais difícil será construir uma defesa sólida.”
“Obrigada,” disse, levantando-me rapidamente e pegando minha bolsa. Precisava sair dali antes de começar a chorar.
A luz do sol brilhante lá fora era chocante, tornando a ardência nos meus olhos ainda pior. Respirei fundo, segurando firmemente a alça da bolsa enquanto me dirigia ao ponto de ônibus. As palavras do advogado continuavam ecoando na minha cabeça, misturando-se com o peso de tudo o que tinha acontecido. Como eu deveria resolver isso? Como eu deveria salvar Theo quando cada solução parecia tão fora de alcance?
Quando cheguei em casa, a dor no meu peito havia se transformado em um peso entorpecido. Empurrei a porta e forcei um sorriso ao entrar. O Vovô estava sentado em sua poltrona, o suave zumbido do tanque de oxigênio preenchendo o silêncio da sala. A enfermeira, Margaret, estava sentada na beirada do sofá, dobrando roupas. Ela olhou para mim quando entrei, seu rosto gentil, mas preocupado.
“Dia longo?” ela perguntou.
Eu assenti, tirando o casaco. “É, algo assim.”
Os olhos afiados do vovô me seguiram enquanto eu atravessava a sala, colocando minha bolsa na mesa. “Ella, venha aqui,” ele disse, a voz mais rouca do que de costume.
Fui até ele, ajoelhando-me para segurar sua mão. “O que foi, vovô?”
“Você me diz,” ele respondeu, franzindo a testa. “Você está carregando algo pesado o dia todo. Eu vejo isso no seu rosto.”
Tentei rir, mas saiu um som vazio. “Não é nada, vovô. Eu só… não consegui encontrar o tecido que uma das minhas clientes queria para o vestido dela. Só isso.”
Ele estreitou os olhos, claramente desconfiado. “Ella, eu já vivi tempo suficiente para saber quando alguém está mentindo para mim. O que está realmente acontecendo?”
Antes que eu pudesse responder, Margaret falou. “Você também não comeu o dia todo, não é? Notei que você pulou o café da manhã e o almoço. Isso não é bom para você, Ella.”
“Vou comer daqui a pouco,” eu disse, afastando a preocupação dela. “Só preciso descansar um minuto.”
Vovô apertou minha mão gentilmente. “Seja o que for, você não precisa carregar isso sozinha, ouviu? Somos família. Isso significa algo.”
As palavras dele fizeram meu peito apertar, e eu mordi a parte interna da bochecha para impedir que as lágrimas surgissem. Eu não podia contar a ele sobre o Theo, ainda não. Ele já estava tão frágil—não podia arriscar deixá-lo mais preocupado do que já estava.
“Eu sei, vovô,” eu disse suavemente. “Obrigada.”
Ele me estudou por mais um momento, depois assentiu. “Bom. Agora vá comer algo antes que desmaie.”
Sorri levemente e me levantei, indo para a cozinha fazer um chá. Margaret me seguiu, seus passos silenciosos, mas deliberados.
“Você não precisa me contar o que está acontecendo,” ela disse quando ficamos a sós, “mas se precisar de alguém para conversar, estou aqui.”
“Obrigada, Margaret,” eu disse, despejando água quente em uma caneca. “Vou ficar bem.”
Ela não parecia convencida, mas também não insistiu. Em vez disso, voltou a dobrar roupas, me dando espaço para organizar meus pensamentos.
Aquela noite, o sono não veio facilmente. Fiquei deitada na cama, olhando para o teto enquanto minha mente corria com tudo o que precisava ser feito. As taxas do advogado. A inocência do Theo. A saúde do vovô. Era demais, e eu me sentia afundando sob o peso de tudo.
Virei e revirei por horas, incapaz de encontrar alívio. Toda vez que fechava os olhos, via o rosto do Theo na delegacia—cansado, assustado, tão diferente do irmãozinho confiante que eu conhecia. Queria ajudá-lo, mas como? O que eu poderia fazer contra uma situação tão grande?
Em algum momento, o cansaço finalmente me venceu, mas meus sonhos foram agitados e fragmentados. Quando acordei na manhã seguinte, me sentia tão cansada quanto na noite anterior. Mas não havia tempo para pensar nisso. Havia clientes para ligar, pedidos para cumprir, e mais um longo dia pela frente.
