Cinco

Cheguei à delegacia na manhã seguinte, segurando o cheque que Theo tinha assinado. Meu coração estava disparado enquanto me aproximava do balcão, onde o mesmo policial de ontem me cumprimentou com uma expressão cansada.

“Estou aqui para ver meu irmão, Theo Montrose,” eu disse, minha voz tensa.

Ela fez um pequeno aceno e chamou alguém para trazê-lo. Momentos depois, Theo apareceu, parecendo pior do que no dia anterior. Seu cabelo estava despenteado, seu terno geralmente impecável estava amassado, e olheiras escuras cercavam seus olhos. Ele sempre foi tão meticuloso com sua aparência; vê-lo assim fez meu peito doer.

“Ella,” ele disse, sua voz rouca enquanto caminhava em minha direção. “Graças a Deus você veio.”

Não perdi tempo com gentilezas. “Theo, o cheque que você me deu voltou. Tentei usá-lo para pagar o advogado, mas o banco ligou e disse que não há dinheiro na sua conta.” Minha voz estava afiada, a frustração mal contida.

Theo fez uma careta, passando a mão pelo rosto. “Eu sei. Desculpe. Não queria que isso acontecesse.”

“Não queria que isso acontecesse?” Eu retruquei, mantendo minha voz baixa, mas firme. “Theo, isso é sério. Eu te disse para ajudar com as contas do vovô. Como você pode escrever um cheque sem fundos?”

Ele desviou o olhar, a vergonha cintilando em seus olhos cansados. “Não tenho dinheiro agora. Tudo o que eu tinha foi para o pagamento inicial de um apartamento.”

Eu o encarei, atônita. “Um apartamento? Você está me dizendo que está gastando dezenas de milhares de reais em um apartamento luxuoso enquanto está preso aqui, acusado de desfalque?”

O maxilar de Theo se contraiu, seu lado defensivo aflorando. “Eu tive que fazer isso, Ella. Você não entende. Meu trabalho exige que eu me relacione com pessoas ricas, que eu me encaixe. Se eu morar num lugar qualquer, eles vão achar que não valho o tempo deles.”

“Impressionar pessoas ricas e esnobes não vai te ajudar agora, Theo!” Eu retruquei, minha voz subindo um pouco. “Você tem noção do que está em jogo? Você está na cadeia, e deixou o vovô e eu para limpar a bagunça!”

Theo apertou a ponte do nariz. “Não é hora de discutir, Ella. O que está feito, está feito. Precisamos focar em me tirar daqui.”

“Como, Theo?” Eu exigi, levantando as mãos. “Já tentei contratar um advogado, mas ele é muito caro. E agora você nos colocou em uma situação ainda pior ao escrever aquele cheque sem valor.”

Ele hesitou, então tirou um pedaço de papel amassado do bolso e me entregou.

“Aqui,” ele disse. “Este é o número do meu chefe. O nome dele é Sr. Harrington. Foi ele quem me deu aqueles papéis para assinar. Talvez você possa falar com ele, explicar a situação. Ele pode ser capaz de ajudar.”

Olhei para o número, depois de volta para Theo, minha frustração transbordando. “Você quer que eu vá falar com o homem que te colocou nessa confusão em primeiro lugar? O mesmo homem que provavelmente está tentando salvar a própria pele enquanto você leva a culpa?”

Theo encontrou meu olhar com uma expressão de desespero.

“Ella, por favor. Ele é a única pessoa que pode ajudar. Se alguém pode resolver isso, é ele.”

Eu queria gritar com ele, sacudi-lo e fazer com que ele visse o quão imprudente e egoísta tinha sido. Mas o olhar derrotado em seus olhos me parou. Ele não estava sendo apenas egoísta—ele estava com medo. E por mais que eu odiasse a situação, não podia abandoná-lo agora.

“Tudo bem,” disse eu entre dentes cerrados, guardando o número no bolso. “Vou falar com ele. Mas se isso não funcionar, Theo, eu não sei mais o que fazer.”

“Obrigado,” ele disse, a voz quebrando ligeiramente. “Eu te devo essa, Ella. De verdade.”

Não respondi. Em vez disso, me virei e saí da delegacia, minhas emoções girando como uma tempestade. Parte de mim queria deixar Theo resolver isso sozinho—deixá-lo lidar com as consequências de suas ações. Mas outra parte de mim sabia que eu não podia fazer isso. Por mais que ele me frustrasse, ele ainda era meu irmão. E família é família.

No segundo em que saí da delegacia, disquei o número que Theo tinha me dado. Enquanto o telefone chamava, acenei para um táxi, minhas mãos tremendo de frustração. Toda essa situação estava saindo de controle, e eu não podia evitar a sensação de que estava andando na corda bamba sem rede de segurança.

“Vamos, atende,” murmurei para mim mesma enquanto o taxista encostava no meio-fio. Deslizando para o banco de trás, dei a ele o endereço que Theo tinha anotado para o escritório do chefe dele. O telefone tocou várias vezes antes de a linha cair. Sem resposta.

Ótimo. Perfeito.

Cerrei os dentes, discando o número novamente enquanto o táxi serpenteava pelas ruas da cidade. Desta vez, foi direto para a caixa postal. “Oi, aqui é Ella Montrose, irmã do Theo,” disse, tentando manter a voz calma e profissional. “Preciso falar com você urgentemente sobre o caso dele. Por favor, me ligue de volta o mais rápido possível.”

Desligando, olhei pela janela, meu estômago revirando. Não conseguia afastar a sensação incômoda de que o Sr. Harrington não seria de muita ajuda, mesmo que retornasse a ligação. Mas que escolha eu tinha? A liberdade de Theo—e a estabilidade da nossa família—estavam em jogo.

Quando o táxi parou diante do imponente arranha-céu que abrigava a Calvary Enterprises, paguei a corrida e entrei no prédio. O saguão era frio e imponente, com pisos de mármore que ecoavam sob meus passos apressados. Aproximando-me da recepção, respirei fundo e coloquei meu sorriso mais educado.

“Oi,” eu disse. “Estou aqui para ver o Sr. Harrington.”

“Qual é o seu nome e você tem um horário marcado?”, ela perguntou.

“Eu não tenho um horário marcado, mas é extremamente urgente.”

A recepcionista, uma jovem mulher com cabelos negros brilhantes e um terno impecavelmente ajustado, mal levantou os olhos do computador. “Desculpe, senhora, mas o Sr. Harrington não atende sem agendamento. Você precisará marcar um horário.”

“Por favor,” eu disse, inclinando-me levemente para a frente. “Sou irmã de Theo Montrose. É sobre a situação legal dele. Só preciso de cinco minutos do tempo do Sr. Harrington.”

Ela suspirou, finalmente olhando para mim com uma expressão que sugeria que ela lidava com pessoas desesperadas como eu o tempo todo. “Entendo sua urgência, mas a agenda do Sr. Harrington está completamente cheia hoje. O mais cedo que posso agendar para você é na próxima semana.”

“Na próxima semana?” repeti, minha voz subindo um pouco. “Meu irmão pode perder tudo até lá!”

“Sinto muito,” ela disse novamente, seu tom seco. “Isso é o melhor que posso fazer.”

Senti uma onda de desamparo me invadir. “Você não pode pelo menos ligar para ele? Dizer que é sobre o Theo?”

A expressão dela suavizou um pouco, mas ela balançou a cabeça. “Posso deixar uma mensagem para o assistente dele, mas não posso garantir que ele vai te retornar hoje.”

Antes que eu pudesse argumentar mais, meu telefone vibrou no meu bolso. Eu o tirei, esperando contra toda a esperança que fosse o Sr. Harrington retornando minha ligação. Mas quando vi o nome de Magrete na tela, meu estômago afundou.

“Alô?” eu disse, minha voz tensa.

“Ella,” ela disse, sua voz trêmula. “Desculpe incomodar você, mas levei seu avô para o hospital.”

“O quê?” Eu congelei, segurando a borda da mesa para me apoiar. “O que aconteceu? Ele está bem?”

Ela hesitou, e eu podia ouvir a tensão em sua voz. “Ele desmaiou depois de ver algo no noticiário sobre Theo. Eu fiz RCP até os paramédicos chegarem, e eles o levaram às pressas para cá. Achei que você deveria saber.”

Meu coração parecia ter parado. “Qual hospital?” perguntei, já me virando para a porta.

Ela me disse, e eu terminei a ligação sem dizer mais nada, saindo correndo do prédio e chamando outro táxi.

O hospital era um borrão de paredes brancas estéreis e luzes fluorescentes enquanto eu corria em direção à sala de emergência. Encontrei Magrete perto da área de espera, seu rosto marcado pela preocupação. “Onde ele está?” perguntei, sem fôlego.

“Os médicos ainda estão trabalhando nele,” ela disse, sua voz baixa. “Eles estão tentando reanimá-lo.”

Senti como se o chão tivesse sido arrancado debaixo de mim. “Reanimá-lo?” A palavra saiu em um sussurro, mal audível. “Ele... ele parou de respirar?”

Ela assentiu, as lágrimas enchendo seus olhos. "Sinto muito, Ella. Fiz tudo o que pude até os paramédicos chegarem."

Afundei-me em uma cadeira próxima, cobrindo o rosto com as mãos. Meu avô—nosso rochedo, nossa âncora—lutava pela vida por causa de todo o estresse que jogamos sobre ele. E Theo... Theo nem sabia. Ele estava sentado em uma cela fria, alheio ao fato de que suas ações tinham levado o Vovô ao limite.

Margret sentou-se ao meu lado, colocando uma mão reconfortante no meu ombro. "Não é sua culpa," ela disse suavemente, como se lesse meus pensamentos.

"Seu avô ama você e Theo mais do que tudo. A notícia foi apenas estressante demais para ele."

Assenti, mas suas palavras fizeram pouco para aliviar a culpa que me pressionava como um peso. Pensei na transmissão de notícias que desencadeou seu colapso—o nome de Theo estampado na tela, acusado de desviar fundos. Será que o Vovô viu isso e pensou que tínhamos perdido tudo? Que seu neto era um criminoso?

Lágrimas arderam nos meus olhos, mas eu as pisquei para longe, determinada a me manter firme. Não podia me dar ao luxo de desmoronar agora—não quando o Vovô precisava de mim.

Minutos pareceram horas enquanto eu esperava por qualquer notícia. Cada vez que um médico ou enfermeira passava, eu sobressaltava, esperando que eles me dissessem que ele estava bem. Mas ninguém veio.

Finalmente, uma médica se aproximou, seu rosto solene. Meu coração apertou enquanto eu me levantava para encontrá-la. "Como ele está?" perguntei, minha voz trêmula.

"Conseguimos estabilizá-lo," ela disse, seu tom cauteloso. "Mas sua condição é crítica. Ele está na UTI agora, e precisaremos monitorá-lo de perto nas próximas 24 horas."

Alívio e medo me invadiram em igual medida. Ele estava vivo—por enquanto. Mas a maneira como ela disse "crítica" fez meu peito apertar.

"Posso vê-lo?" perguntei.

"Ainda não," a médica disse gentilmente. "Avisaremos assim que ele estiver pronto para receber visitas."

Assenti, engolindo em seco enquanto voltava para a sala de espera. Margaret me deu um pequeno sorriso reconfortante, mas não alcançou seus olhos.

Enquanto eu me sentava naquela sala de espera fria e impessoal, o peso de tudo me pressionava— a prisão de Theo, a saúde do Vovô, a pressão financeira que ameaçava nos esmagar. Eu queria gritar, chorar, exigir que alguém me dissesse como eu deveria consertar tudo isso.

Mas, em vez disso, sentei-me quieta, olhando para o chão e rezando por força. Porque, por mais impossível que as coisas parecessem, eu não podia desistir. Não do Vovô, não do Theo, e não da família que estávamos desesperadamente tentando manter unida.

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