Capítulo 09
Depois de receber a carta do Senhor Sirio, Lucinda age como se um milagre estivesse acontecendo. Todos voltam para dentro de casa, ainda sem acreditar. Milenna, a mãe das meninas, sem saber o que fazer, pensa em ir até a vila para ver o que realmente está acontecendo, talvez ela pudesse descobrir se outras meninas também tinham recebido aquela carta. Ela estava muito feliz pelas filhas, mas um pouco preocupada.
Cateline, não tão empolgada quanto sua irmã, não gostava da ideia de se casar apenas para ter filhos, não haveria amor em seu casamento, e haveria muitas outras mulheres envolvidas, era comum que os senhores tivessem uma única esposa real e várias concubinas. Os jovens herdeiros do Senhor Sirio ainda não tinham se casado, estavam em busca de uma esposa oficial também. Lucinda estava de olho em Helton há muito tempo, ele era o filho mais velho do Senhor e também o próximo na linha de sucessão do reino.
"Eu não acredito! Fui convidada para ir ao palácio! Finalmente posso sair daqui e viver lá... ser a esposa de Helton." Lucinda estava mais animada do que nunca, o sorriso não saía de seu rosto, ela dançava enquanto imaginava como seria o grande baile.
"Irmã... É bom você não criar muitas expectativas sobre o casamento real, tenho certeza de que eles vão escolher a filha de algum senhor ou alguém de alto status, acredito que se formos escolhidas será apenas para concubinas..." Cateline diz à irmã tentando trazê-la para a realidade, mas ela já estava sonhando alto demais e nada a traria de volta ou colocaria seus pés no chão.
"Vira essa boca pra lá, Cate! Para de tentar estragar meus planos, desta vez vai dar certo! Vou fazer o vestido mais bonito que este reino já viu, e terei os olhos de Helton só para mim..." Lucinda responde estressada, era visível que ela estava falando sério sobre isso. Cateline então prefere deixar sua irmã no mundo dos sonhos e voltar a fazer suas tarefas. Ela não estava com vontade de ir a esse baile, só queria ignorar tudo aquilo, talvez fingir que estava doente e evitar ir, mas sabia que poderia haver consequências se não aparecesse, já que era uma carta real, ela não podia deixar de ir.
"Meninas, vou até a vila ver o que está acontecendo e vou levar Martin comigo." Milenna, parecendo pensativa enquanto falava, Lucinda ficou eufórica querendo ir com ela.
"Mãe! Eu vou também, preciso comprar materiais para meu vestido!" Lucinda disse já acompanhando sua mãe, até ser interrompida.
"Você precisa ajudar sua irmã, pode ir lá depois, eu tenho que resolver algumas coisas importantes hoje!" Milenna fala firme, ela entendia a animação da filha, mas precisava ter certeza sobre o evento que aconteceria no palácio no próximo mês, suas filhas eram seu bem mais precioso e ela não as entregaria a qualquer um para serem usadas. Não é como se ela pudesse se opor ao Senhor Sirio, mas pelo menos queria saber o máximo possível sobre como as coisas aconteceriam.
Milenna então sai com Martin, aproveita a viagem para levar alguns itens e talvez vender, era importante aproveitar o tempo e tentar ganhar algum dinheiro extra. Lucinda e Cateline se despedem da mãe, voltando a fazer suas tarefas, como praticamente tinham vendido tudo na noite da festa, não tinham mais mercadorias para entregar, precisavam produzir muitas coisas. Elas vão ao pequeno armazém que ficava perto da cozinha, lá continham materiais para fazer os doces e algumas massas. Cateline tenta se concentrar em suas tarefas, mas sua irmã está fora de si, distraída apenas pensando no que fará quando se tornar uma Lady.
"Luci... Por favor! Precisamos terminar os pedidos logo ou nossa mãe vai ficar brava quando voltar..." Cateline tenta chamar a atenção da irmã, mas não tem efeito.
Não demora muito e Lucinda sai, com desculpas para arrumar algumas de suas coisas no quarto, deixando Cateline sozinha, trabalhando. Sem ter muita escolha, Cateline apenas faz o que precisa ser feito, pensando em como explicar à mãe por que não terminaram os pedidos. Passam-se algumas horas e depois de tanto trabalho é hora do almoço, Cateline prepara algo simples para comer, um pequeno sanduíche com pão velho, manteiga, carne do dia anterior e um pequeno pedaço de queijo. Depois de algumas horas bem trabalhadas, um bom lanche para reforçar.
Sua irmã não está lá, nem no quarto, Cateline teme que ela tenha ido escondida para a vila, infelizmente ela não pode sair para procurá-la e deixar a casa sozinha.
"Eu não acredito, Luci..."
Cateline procura resmungando pela fazenda e pela casa, mas nada de sua irmã. Ela decide esperar até o pôr do sol e, se Lucinda não aparecer, avisará sua mãe. Lucinda sempre foi assim, agia por impulso na maioria das vezes e quase sempre se metia em problemas. Felizmente, ela tinha sua mãe e irmã para protegê-la, mas infelizmente não as teria para sempre, então precisava amadurecer o mais rápido possível.
O tempo passa e logo sua mãe chega com seu irmão mais novo da vila. Ela decide contar sobre o dia e como sua irmã havia desaparecido.
"Querida... sua irmã está bem, ela acabou indo para Springdale, disse que ficaria lá até organizar alguns materiais... Sinto muito por ter te deixado sozinha com todas essas tarefas..." Milenna fala tentando acalmar Cateline, que estava preocupada sem saber onde sua irmã estava, podia-se ver a falta de paciência em seu rosto.
"Ainda não acredito que ela está fazendo essas coisas... Achei que estaríamos juntas e passaríamos por tudo juntas... a paixão dela por Helton sempre vem em primeiro lugar..." Cateline fala desanimada. Sua irmã era sua única amiga e sempre que o assunto era o filho mais velho do Senhor, Lucinda se tornava incompreensível, suas ações mudavam, assim como seu temperamento.
"Não seja assim, logo sua irmã voltará ao normal, ela está apenas muito feliz por realizar um sonho bobo... não leve suas birras a sério..." Milenna fala colocando as mãos nas costas da filha e as duas logo entram para terminar alguns dos pedidos, rezando para que sua irmã voltasse bem e logo. Enquanto terminam de embalar algumas coisas, Milenna fala sobre o que conseguiu descobrir com suas amigas na vila.
"Fui à pousada da Dona Ellen, ela mandou um abraço... Descobri que alguns dos hóspedes que passaram por lá falaram muito sobre um prisioneiro que escapou na noite da festa..."
Cateline para por um momento, tentando ouvir melhor o que sua mãe disse.
"Disseram que os soldados, assim como os herdeiros do Senhor, foram ao reino de Wisdy pessoalmente e sequestraram o filho do monstro que vive lá, amarraram e amordaçaram ele, mas a besta era muito forte e antes de chegar à prisão do palácio para ser interrogado, ele fugiu. Agora estão procurando por ele nas cidades e vilas próximas..." Milenna disse assustada, com medo de tal besta estar perto de sua fazenda.
Cateline fica preocupada, ela nunca tinha visto como eram essas bestas de Wisdy e temia por uma guerra no futuro.
"Você está dizendo que uma das bestas de Wisdy está aqui? Temos que ter cuidado com esses animais, dizem que são bestas anormais que matam tudo o que veem pela frente..." Cateline disse ficando cada vez mais preocupada. Ela nunca tinha visto tais seres, apenas ouvira alguns rumores, e cada um mais terrível e sombrio que o outro. Para ela, eram monstros sanguinários que rasgavam pessoas com suas enormes garras e comiam suas carnes, pelo menos era o que todos diziam.
Sua mãe, Milenna, corre para um armário próximo, batendo nele três vezes, como em uma superstição para afastar maus presságios.
"Não diga essas coisas, menina! Deus! Me dá arrepios só de ouvir você." Milenna passa as mãos pelos braços tentando acalmar seus arrepios.
"De qualquer forma, vamos ter cuidado, vamos avisar os guardas do Senhor, espero que encontrem o monstro logo..." Milenna termina de falar, olhando ao redor ainda com medo.
O dia passa e termina e Lucinda não retorna. Milenna sabia que sua filha provavelmente estava na pousada de Ellen, então não se preocupou muito. Mesmo com o boato do monstro solto nas proximidades, ela sabia que Lucinda não seria louca de sair no escuro sozinha. A noite cai e todos se preparam para dormir. Cateline vai para seu quarto e veste seu suéter, o colar que ela havia encontrado está sempre com ela, como um amuleto protetor. De alguma forma, ela sabe que ele a levará ao seu dono em algum momento.
Ela dorme agarrada a ele, tendo um lindo sonho. Ela estava deitada com aquele mesmo homem, trocando carícias, suas mãos passando pelo corpo dele como se não houvesse limites para elas. Seu maravilhoso sonho é interrompido por um barulho alto que a traz de volta à realidade. Era o som do amanhecer, o barulho dos pássaros junto com sua mãe gritando para ela acordar. Sua irmã Lucinda tinha acabado de chegar e tinha trazido algumas coisas para ela. Os dias passam lentamente e o dia da seleção das concubinas se aproxima. Cateline não sabia o que fazer para se livrar desse fardo, era a última coisa que ela queria em sua vida, mas o que deveria fazer para se livrar disso?



































































































































