5. Plano em movimento

|| Ponto de Vista de Lilac ||

O sol da manhã iluminava meu quarto quando acordei, as sombras de uma noite inquieta ainda pairando. Meu primeiro pensamento foi alcançar Runa, minha loba. Mas não houve resposta. Meu coração acelerou enquanto eu tentava de novo, mas ainda nada. Ela mal estava lá. Algo estava errado. Por que eu tinha recebido essa segunda chance? Não fazia sentido.

O cheiro de panquecas me trouxe de volta ao presente. Lá embaixo, eu podia ouvir o suave murmúrio de conversas e o tilintar de pratos. Parecia casa, como a vida que eu tinha lutado tanto para proteger.

Vesti-me cuidadosamente—uma blusa, uma saia lápis e saltos. Enquanto descia as escadas, o cheiro de panquecas e café ficava mais forte. Minha família estava na cozinha. Mamãe estava no fogão, virando panquecas. Papai estava sentado à mesa com seu café, e Ezra, meu irmão mais novo, estava lendo um livro. Ele se parecia tanto com o papai, com o mesmo cabelo escuro e traços marcantes. Tudo parecia normal, e eu queria que continuasse assim.

“Bom dia, querida,” papai disse, sorrindo para mim.

“Bom dia,” respondi, sentando-me.

Mamãe colocou um prato de panquecas na minha frente.

“Você está diferente,” ela disse, me estudando.

Olhei para baixo. Eu estava diferente. A garota ingênua que acreditava em contos de fadas tinha ido embora. Agora, eu carregava o peso de uma segunda chance.

“Tenho alguns planos,” disse vagamente, pegando o garfo.

Mamãe não insistiu, mas seu olhar permaneceu. O café da manhã foi tranquilo, cheio de conversas casuais e o som de garfos nos pratos. Mas eu não podia ficar. Eu tinha trabalho a fazer.

Enquanto eu limpava a mesa, Ezra se encostou no batente da porta. “Para onde você vai tão cedo?” ele perguntou, ainda de pijama.

“Apenas alguns recados,” disse, acenando vagamente com a mão por cima do ombro.

Os olhos de Ezra se estreitaram. “Recados,” ele repetiu, sua voz pingando ceticismo. “Essa é uma resposta suspeitosamente vaga.”

Suspirei, ajustando a alça da minha bolsa. “Porque não é tão interessante.”

“Isso é discutível,” ele rebateu, saindo do batente e se aproximando. “Você está vestida como se fosse negociar um contrato ou partir o coração de alguém. Ou ambos.”

Revirei os olhos. “Uau. Que variedade.”

Ele sorriu. “Eu falo o que vejo.” Então, sua expressão ficou provocativa. “Espera, você vai a um encontro! É com o Kael?”

Eu zombei. “Absolutamente não.”

Ele ofegou dramaticamente, segurando o peito. “Meu Deus. Você já está traindo ele?”

Empurrei-o levemente, mas ele mal se mexeu. “Não é uma roupa de encontro, Ezra.”

“Então por que você está corando?” ele retrucou, sorrindo como se tivesse ganhado algo.

“Eu não estou,” me interrompi, percebendo que quanto mais eu negasse, pior pareceria. Exalei bruscamente, beliscando a ponte do nariz. “Você é tão irritante.”

Ele sorriu mais. “É meu trabalho como seu irmão mais velho.”

“Você é mais novo por um ano inteiro.” Gemei. Mas por dentro, meu coração se sentia bem. Eu sentia falta das provocações dele.

"E ainda assim, infinitamente mais sábio," ele sorriu.

Balancei a cabeça, mas apesar dos meus melhores esforços, um pequeno sorriso surgiu em meus lábios. Esse era o Ezra, implacável, irritante e, de alguma forma, sempre capaz de me fazer rir, mesmo quando eu não queria.

A viagem até a praça foi silenciosa, o zumbido do motor era o único som que acompanhava meus pensamentos. Hoje era o dia. Kael estaria realizando uma conferência aqui, uma reunião de alfas e nobres para discutir alianças entre matilhas e planos futuros. Era a oportunidade perfeita, uma chance de colocar meu plano em ação.

Estacionei o carro e saí, o ar fresco da manhã roçando minha pele enquanto eu me dirigia ao pódio. A praça já estava movimentada, a imprensa montando suas câmeras e os repórteres circulando. Meus olhos vasculharam a multidão, e não demorou muito para eu encontrá-la.

"Lilac!" A voz de Elara soou, brilhante e animada, enquanto ela corria em minha direção. Minha melhor amiga desde a infância, ela era um turbilhão de energia, seus cabelos cacheados saltando a cada passo. Ela me puxou para um abraço apertado, seu entusiasmo contagiante. Ela era de uma família Gamna e estava interessada em jornalismo, sem mencionar que espionava todos os garotos bonitos desde o ensino médio.

"Oi, Elara," eu disse, rindo suavemente enquanto retribuía o abraço. "Achei que te encontraria aqui."

"Claro que estou aqui!" ela exclamou, afastando-se para me mostrar seu crachá de imprensa com um sorriso. "Ouvi dizer que você foi escolhida como a futura companheira do Rei Alfa! Dá pra acreditar? Minha melhor amiga, a futura Luna! Isso é enorme, Lilac! O momento dos seus sonhos se tornando realidade!!!!"

Forcei um sorriso, meu estômago se revirando com seu entusiasmo. "É... algo," eu disse, minha voz cuidadosamente neutra.

Elara inclinou a cabeça, sua testa franzindo levemente enquanto me estudava. "Você não parece animada. Não é isso que você sempre quis?"

Hesitei, minha mente correndo. Como eu poderia explicar a ela que a vida que ela pensava que eu queria era exatamente o que eu estava tentando escapar? "É complicado," eu disse finalmente, balançando a cabeça. "Mas ouça, eu preciso da sua ajuda."

Seus olhos brilharam, a curiosidade substituindo sua preocupação anterior. "Claro! O que você precisa?"

Olhei ao redor, certificando-me de que ninguém estava ao alcance da voz antes de me inclinar mais perto. "Eu preciso que você me consiga acesso à sala de imprensa. Há algo que eu preciso fazer, e não posso fazer isso sozinha."

O sorriso de Elara se alargou, seu entusiasmo inabalável. "Considere feito. Mas você me deve a história completa depois, ok?"

"Combinado," eu disse, sentindo um alívio me inundar enquanto ela entrelaçava seu braço no meu e me conduzia em direção à sala de imprensa.

Enquanto caminhávamos, não pude deixar de sentir um lampejo de esperança. Era isso. O primeiro passo para mudar meu destino. E com Elara ao meu lado, eu sabia que poderia fazer isso. O que quer que fosse necessário, eu protegeria minha família. Eu reescreveria minha história.

E talvez, só talvez, eu encontraria uma maneira de ser livre.

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