Capítulo 4: O segredo do eremita
Lana encarou Cole Martinez, sua mente lutando para processar o que estava vendo. O garoto quieto da aula de biologia — aquele que sentava na última fila e nunca falava a menos que fosse chamado — estava diante dela segurando uma máscara tática e olhando para ela com olhos que guardavam segredos que ela não conseguia começar a compreender.
"Cole?" Sua voz saiu quase como um sussurro. "O que... como você...?"
"É complicado." Ele colocou a máscara no bolso de sua jaqueta escura e levantou as mãos em um gesto que pretendia ser tranquilizador, mas só a deixou mais desconfiada. "Eu sei como isso parece, mas eu não sou um deles. Não de verdade."
"Você estava me perseguindo. Você armou aquela armadilha com os troncos." A voz de Lana estava ganhando força agora, alimentada por uma mistura de confusão e traição. "Você tem jogado os jogos deles."
A expressão de Cole vacilou — um breve momento de algo que poderia ter sido vergonha ou arrependimento antes de seu rosto voltar a ficar cuidadosamente neutro. "Eu disse que era complicado. Podemos sentar? Há muito que preciso explicar, e não temos muito tempo."
"Tempo antes do quê?"
"Antes que eles percebam que eu quebrei o protocolo ao me revelar diretamente para você." Ele olhou para o céu escurecendo através do dossel. "Eles vão monitorar nossa conversa, mas não vão intervir enquanto acharem que está servindo aos propósitos deles. No momento em que decidirem que eu fui longe demais..."
Ele não precisou terminar a frase. Lana já tinha visto o suficiente do que seus captores eram capazes de fazer para preencher as lacunas.
Apesar de cada instinto gritando para não confiar nele, ela se viu assentindo. "Certo. Mas se isso for outra manipulação, outro dos jogos psicológicos deles—"
"Não é." A certeza na voz dele era quase convincente. Quase. "Pelo menos, não do jeito que você pensa."
Cole se moveu em direção à base do enorme pinheiro, acomodando-se contra uma das raízes expostas com a familiaridade de alguém que já esteve ali muitas vezes antes. Após um momento de hesitação, Lana se juntou a ele, embora tenha se mantido longe o suficiente para correr se necessário.
"Há quanto tempo você está aqui?" ela perguntou.
"Duas semanas. Talvez mais — o tempo fica estranho quando você vive assim." Ele gesticulou vagamente para a floresta ao redor. "Eu estava no mesmo ônibus que você, lembra? A viagem de ciências ambientais que deveria durar um dia e de alguma forma se transformou... nisso."
Lana estudou o rosto dele na luz que desaparecia. Ele parecia diferente do Cole que ela lembrava da escola — mais magro, mais alerta, com uma cautela nos olhos que falava de noites sem sono e vigilância constante. Mas havia algo mais ali também, algo que não estava na aula de biologia. Uma dureza, um cálculo que fez sua pele arrepiar.
"Me conte o que aconteceu," ela disse. "Desde o começo."
Cole ficou quieto por um longo momento, como se estivesse tentando decidir quanto revelar. Quando finalmente falou, sua voz estava plana, quase clínica.
"Nós nunca chegamos à Floresta Pine Ridge. Não ao acampamento oficial, pelo menos. O ônibus parou cerca de trinta quilômetros antes, em uma estrada secundária que eu nunca tinha visto antes. Halbrook disse que houve uma mudança de planos, que íamos começar com um 'exercício de navegação noturna' para testar nossas habilidades de orientação."
"Eu não me lembro de nada disso."
"Você não lembraria. Eles drogaram as garrafas de água que distribuíram durante o suposto exercício. Algo que nos deixou sonolentos e dóceis. A maioria de nós apenas se deitou onde estava e dormiu. Eu só lembro de fragmentos depois disso — sendo carregado, vozes falando sobre números e atribuições, acordando sozinho no escuro."
Lana sentiu um arrepio que não tinha nada a ver com o ar da noite. "Por que eu não me lembro de ter sido drogada? Por que eu não me lembro de nada disso?"
"Porque eles te deram algo mais forte. Você, Maya, alguns outros—os que eles marcaram como 'sujeitos de alta resistência'. Eles queriam que você acordasse sem memória de como chegou aqui, sem contexto do que estava acontecendo. Impacto psicológico máximo."
A maneira casual como ele discutia sobre o sequestro e a drogação fez o estômago de Lana revirar. "Você parece saber muito sobre os métodos deles."
O maxilar de Cole se apertou. "Eu tive duas semanas para descobrir. Duas semanas observando eles trabalharem, aprendendo os padrões, entendendo o que estão tentando fazer conosco."
"E o que exatamente é isso?"
"Modificação comportamental através de trauma controlado." A frase clínica parecia obscena vindo de alguém da idade deles. "Eles não estão apenas nos estudando, Lana. Eles estão tentando nos refazer. Desconstruir quem somos e nos reconstruir de acordo com algumas especificações predeterminadas."
"Para qual propósito?"
"Eu ainda estou descobrindo. Mas seja lá o que eles estão nos treinando para fazer, requer pessoas que possam funcionar sob extremo estresse, que possam tomar decisões difíceis sem hesitação, que possam..." Ele pausou, parecendo lutar com as palavras. "Que possam fazer coisas que pessoas normais não seriam capazes de fazer."
As implicações do que ele estava dizendo a atingiram como um golpe físico. "Você quer dizer que eles estão tentando nos transformar em assassinos."
"Entre outras coisas, sim."
A simples admissão pairou no ar entre eles como uma nuvem tóxica. Lana se afastou ainda mais dele, cada instinto gritando que ela estava em perigo.
"Como você sabe tudo isso?" ela perguntou. "E por que está me contando?"
Cole olhou para longe, focando em algo na distância que ela não podia ver. "Porque eu estou fingindo. Deixando eles pensarem que o condicionamento está funcionando em mim. Seguindo os cenários deles, respondendo aos estímulos, dando os dados que eles querem."
"Você está ajudando eles."
"Eu estou sobrevivendo." Sua voz estava agora afiada, defensiva. "Você tem ideia do que eles fazem com aqueles que se recusam a cooperar? Você viu o que aconteceu com Marcus Webb? Com Sarah Kim?"
O sangue de Lana gelou. "O que aconteceu com eles?"
"Marcus resistiu por oito dias. Recusou-se a participar dos exercícios deles, não seguia os cenários. Então eles escalaram. Começaram a usar técnicas de condicionamento mais agressivas. Privação de sono, sobrecarga sensorial, aumento químico das respostas de medo. No final, ele estava implorando para que o deixassem cumprir."
"E Sarah?"
A expressão de Cole escureceu. "Sarah tentou escapar. Chegou a quase três quilômetros antes de ser capturada. Eles a trouxeram de volta e a usaram como exemplo para o resto de nós. Nos fizeram assistir enquanto eles..." Ele parou, balançando a cabeça. "Ela não é mais a mesma pessoa, Lana. Seja lá o que fizeram com ela, quebrou algo fundamental dentro dela. Agora ela segue ordens sem questionar, como um tipo de robô."
A floresta ao redor deles parecia ficar mais escura enquanto ele falava, as sombras entre as árvores tomando formas sinistras. Lana cruzou os braços ao redor de si mesma, tentando processar o horror do que estava ouvindo.
"Então você decidiu colaborar."
"Eu decidi aprender. Entender os métodos deles e encontrar suas fraquezas. Você não pode lutar contra um inimigo que não entende."
"E o que você aprendeu?"
Cole alcançou outro bolso e puxou um pequeno caderno, suas páginas preenchidas com escrita apertada e diagramas rudimentares. "Eles não estão apenas pegando crianças aleatórias. Cada estudante naquele ônibus foi especificamente selecionado com base em perfis psicológicos, registros acadêmicos, antecedentes familiares. Eles estão nos observando há meses, talvez anos."
Ele folheou as páginas, mostrando-lhe gráficos e listas que a deixavam tonta. "Olha isso — eles têm análises comportamentais detalhadas de cada um de nós. Forças, fraquezas, gatilhos psicológicos, respostas previstas a vários estímulos. Eles sabem exatamente quais botões apertar para obter as reações que querem."
Lana pensou nas vozes que Jenny havia mencionado ouvir na floresta — o som de entes queridos chamando na escuridão. "Eles estão usando nossas emoções contra nós."
"Tudo é uma arma para eles. Amor, medo, esperança, desespero — eles as usam como ferramentas em uma caixa de ferramentas. E a pior parte é que funciona. Vi colegas de classe se voltarem uns contra os outros, traírem amizades, abandonarem seus princípios morais, tudo porque essas pessoas sabiam exatamente como manipular suas vulnerabilidades psicológicas."
"Mas você resistiu."
O riso de Cole foi amargo. "Resisti? Estou aqui na floresta deles, jogando pelas regras deles, fazendo exatamente o que eles querem que eu faça. A única diferença é que estou ciente do que está acontecendo. Mas consciência não é igual a resistência, é?"
Antes que Lana pudesse responder, um som ecoou pela floresta, fazendo-os congelar — o zumbido mecânico de drones sobrevoando, acompanhado pelo estalo de conversas pelo rádio.
"Estão fazendo uma varredura," Cole sussurrou, puxando Lana para mais fundo no abrigo formado pelas raízes do pinheiro. "Os sensores de movimento devem ter detectado muita atividade nesta área."
Enquanto se escondiam nas sombras, Lana podia ouvir vozes falando nos mesmos tons profissionais que havia encontrado anteriormente. As palavras eram indistintas, mas o tom era inconfundível — eles estavam coordenando um padrão de busca, fechando o cerco ao redor deles.
"Quanto tempo até nos encontrarem?" ela sussurrou.
"Depende se querem ou não. Às vezes, eles nos deixam pensar que estamos escondidos quando, na verdade, estamos exatamente onde querem que estejamos."
A paranoia na voz dele era contagiante. Se Cole — que vinha estudando seus captores por duas semanas — não conseguia perceber quando estava sendo manipulado, que chance ela tinha?
"Tem mais uma coisa," Cole disse, sua voz tão baixa que ela teve que se esforçar para ouvir. "Algo que ainda não te contei."
"O quê?"
"Acho que um dos nossos professores está envolvido. Talvez mais de um."
Lana sentiu como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. "O que você quer dizer?"
"Pense nisso. Como eles conseguiram perfis psicológicos tão detalhados de todos nós? Como sabiam exatamente quais alunos atacar? Alguém com acesso aos registros da escola, arquivos de orientação, relatórios disciplinares — alguém que pudesse nos observar dia após dia sem levantar suspeitas."
As implicações eram assustadoras. Se os professores deles estavam envolvidos, se as próprias pessoas que eles confiavam para educá-los e protegê-los faziam parte desse pesadelo, então nenhum lugar era seguro. Ninguém podia ser confiado.
"Quem?" ela conseguiu perguntar.
"Não tenho certeza ainda. Mas tenho suspeitas." O caderno de Cole fez barulho enquanto ele folheava para outra página. "Halbrook organizou a viagem, mas isso pode ser óbvio demais. Dr. Morrison tem acesso a todos os nossos arquivos como diretor. A Sra. Rodriguez, na orientação, conhece todos os problemas pessoais e situações familiares."
"Qualquer um deles pode estar fornecendo informações para essas pessoas."
"Ou todos eles podem estar. Esta operação é sofisticada demais, bem financiada demais para ser obra de alguns indivíduos rebeldes. Tem apoio institucional, o que significa que vai fundo."
As conversas pelo rádio estavam ficando mais próximas agora, acompanhadas pelo som de pessoas se movendo pela vegetação. Cole gesticulou para que ficassem em silêncio e começou a juntar suas coisas, preparando-se para se mover.
"Precisamos ir," ele sussurrou. "Mas primeiro, preciso que você entenda algo. O motivo pelo qual me revelei para você, o motivo pelo qual estou arriscando tudo para ter essa conversa—é porque eles estão planejando intensificar seu condicionamento. Amanhã, talvez depois de amanhã, eles vão te colocar em algo que chamam de 'teste de lealdade.'"
"Que tipo de teste?"
Os olhos de Cole estavam assombrados. "Eles vão te dar uma escolha. Salvar a si mesma, ou salvar um dos seus colegas. Vão fazer parecer que você só pode escolher um, como se o sacrifício fosse a única maneira de provar seu valor para eles."
"Isso é monstruoso."
"Esse é o ponto. Eles querem ver se conseguem fazer você abandonar seus princípios morais para sobreviver. E se você passar no teste deles, se provar que está disposta a sacrificar os outros para seu próprio benefício, então você passa para a próxima fase do condicionamento."
"E se eu falhar?"
O silêncio de Cole foi resposta suficiente.
Os sons do grupo de busca estavam quase em cima deles agora. Cole se levantou e colocou uma mochila nos ombros que Lana não havia notado antes, então estendeu a mão para ajudá-la a se levantar.
"Há um lugar onde estou ficando," ele disse. "Não é seguro, nenhum lugar é realmente seguro, mas está bem escondido o suficiente para que possamos conversar mais sem interrupções. Você vem comigo?"
Lana olhou para sua mão estendida, dividida entre a necessidade desesperada de um aliado e a crescente certeza de que Cole não era exatamente quem dizia ser. Tudo nessa conversa parecia encenado, calculado, como se ele estivesse seguindo um roteiro projetado para ganhar sua confiança.
Mas que escolha ela tinha? A alternativa era enfrentar os horrores que a aguardavam sozinha.
Ela pegou a mão dele e deixou que ele a puxasse para cima. "Mostre o caminho."
Cole sorriu, mas havia algo em sua expressão que fazia sua pele arrepiar—uma satisfação que parecia desproporcional ao simples ato dela concordar em segui-lo.
"Fique perto," ele disse. "E aconteça o que acontecer, não faça movimentos bruscos. Eles são mais propensos a nos deixar ir se acharem que estamos seguindo padrões previsíveis."
Ele a conduziu para longe do enorme pinheiro, movendo-se pela floresta com a passada confiante de alguém que sabia exatamente para onde estava indo. Atrás deles, as luzes do grupo de busca varriam a clareira que haviam acabado de abandonar, mas os feixes pareciam desanimados, como se os buscadores não estivessem realmente esperando encontrar algo.
Enquanto caminhavam, Lana não conseguia se livrar da sensação de que estava sendo levada mais fundo em uma armadilha ao invés de para a segurança. Mas as revelações de Cole sobre o teste de lealdade, sobre o apoio institucional dos seus captores, sobre a quebra sistemática e reconstrução de seres humanos—tudo isso parecia específico demais, detalhado demais para ser fabricado.
A menos, é claro, que dar-lhe essa informação servisse a algum propósito que ela ainda não conseguia entender.
"Cole," ela disse enquanto contornavam um tronco caído. "Se você está estudando eles há duas semanas, se entende tão bem os métodos deles, por que não fugiu?"
Ele parou no meio do passo, e por um momento ela pensou que ele não iria responder. Quando finalmente falou, sua voz era tão baixa que ela quase não ouviu.
"Quem disse que eu não fugi?"
Antes que ela pudesse perguntar o que ele queria dizer, ele voltou a caminhar, levando-a mais fundo no coração escuro da floresta onde as sombras pareciam ter sombras próprias, e o som dos passos deles era engolido pelo silêncio opressivo dos pinheiros.
Atrás deles, as luzes do grupo de busca se desvaneciam na distância, e Lana não conseguia dizer se estavam escapando ou simplesmente caminhando para outra armadilha mais elaborada.
















































