Capítulo 5: Aliados improváveis

O abrigo de Cole não era nada do que Lana tinha esperado. Escondido em uma depressão natural entre duas enormes pedras e camuflado com galhos cuidadosamente arranjados e troncos caídos, era quase invisível até que estivessem bem em frente a ele. A entrada era tão baixa que eles precisaram rastejar para entrar, mas uma vez dentro, o espaço se abria em um esconderijo surpreendentemente confortável.

"Impressionante," Lana disse, olhando ao redor para o caos organizado do lar temporário de Cole. Sacos de dormir estavam arranjados em uma plataforma feita de paletes de madeira reaproveitados, mantendo-os fora do chão úmido. Latas de comida estavam empilhadas em filas ordenadas ao longo de uma parede, e garrafas plásticas cheias do que parecia ser água da chuva alinhavam outra. Uma lanterna a pilha lançava um brilho quente sobre tudo, fazendo o espaço parecer quase aconchegante, apesar das circunstâncias difíceis.

"Duas semanas te dão tempo para se organizar," Cole disse, selando a entrada com uma lona que bloqueava a maior parte da luz externa. "Embora eu deva mencionar que 'confortável' é um termo relativo quando você está vivendo como um homem das cavernas."

Lana se acomodou em um dos sacos de dormir, seus músculos doendo pelo esforço do dia. O simples ato de sentar em algum lugar que parecia minimamente seguro foi o suficiente para ela perceber o quão exausta estava.

"Onde você conseguiu tudo isso?" ela perguntou, gesticulando para os suprimentos.

"Algumas coisas eu trouxe comigo—tenho acampado desde criança, então sei o que levar para situações de sobrevivência. O resto..." Cole deu de ombros. "Digamos que nossos captores não são os únicos que podem ser engenhosos."

Ele abriu uma das latas—feijão em molho de tomate—e lhe entregou uma colher de plástico. A comida estava fria e longe de ser apetitosa, mas era a primeira refeição de verdade que ela tinha desde que acordara na floresta, e seu corpo ansiava pelas calorias.

"Você disse que tem acampado desde criança," Lana falou entre as mordidas. "É assim que você sabe tanto sobre sobrevivência? Parece mais do que um simples hobby."

Cole ficou em silêncio por um momento, focando intensamente em sua própria lata de feijão. Quando finalmente olhou para cima, havia algo reservado em sua expressão.

"Meu pai era militar. Forças Especiais. Ele acreditava em estar preparado para qualquer coisa, então começou a me treinar quando eu tinha oito anos. Sobrevivência na selva, consciência tática, habilidades básicas de combate—tudo disfarçado como viagens de acampamento entre pai e filho."

"É uma educação e tanto para uma criança."

"É, bem, ele tinha seus motivos." A voz de Cole carregava um tom amargo. "Acontece que paranoia nem sempre é um defeito de caráter. Às vezes, o mundo é realmente tão perigoso quanto você pensa que é."

Lana estudou seu rosto à luz da lanterna. Havia camadas em Cole Martinez que ela nunca suspeitara durante suas breves interações na escola. O garoto quieto e desajeitado que se sentava no fundo da aula de biologia tinha profundezas que só agora estavam se revelando.

"Me fale sobre o teste de lealdade," ela disse. "Você mencionou isso mais cedo, mas fomos interrompidos antes que pudesse explicar."

Cole colocou sua lata de lado e se recostou contra a parede rochosa. "É parte da abordagem sistemática deles para desmantelar seu quadro moral. Eles te apresentam uma escolha impossível—geralmente entre salvar a si mesmo e salvar alguém de quem você gosta—e então observam como você responde."

"Que tipo de escolha?"

"Varia dependendo do que eles acham que terá o maior impacto psicológico em cada indivíduo. Para Marcus, eles fizeram ele escolher entre comida para si mesmo ou suprimentos médicos para outro estudante ferido. Para Sarah, foi escapar sozinha ou ficar para ajudar alguém que estava preso."

"E se você fizer a escolha 'errada'?"

"Não existe escolha errada, esse é o ponto. Qualquer decisão que você tome, eles usam contra você. Se você escolhe se salvar, te rotulam como egoísta e sem coração. Se escolhe salvar outra pessoa, te chamam de fraco e manipulável. De qualquer forma, eles provam que podem te forçar a comprometer seus princípios."

Lana sentiu um arrepio que não tinha nada a ver com o ar úmido no abrigo. "É tortura psicológica."

"Exatamente. E a pior parte é que depois de passar por isso, você começa a duvidar de cada decisão que toma. Você começa a se perguntar se é uma boa pessoa ou uma pessoa má, se pode confiar nos seus instintos, se sua bússola moral está apontando na direção certa."

"Foi isso que aconteceu com você?"

O riso de Cole foi vazio. "Estou sentado em um abrigo escondido no meio de uma floresta onde adolescentes estão sendo sistematicamente torturados e lavados cerebralmente, compartilhando recursos com alguém que mal conheço enquanto planejo contra pessoas que têm poder efetivamente ilimitado sobre nós. Não tenho certeza se minha bússola moral tem apontado em alguma direção consistente há semanas."

Apesar da gravidade da situação, Lana quase sorriu. Havia algo revigorante na honestidade brutal dele, na disposição de admitir incerteza e vulnerabilidade. Era um contraste tão grande com as personas cuidadosamente controladas que todos usavam na escola.

"Então, qual é o seu plano?" ela perguntou. "Você tem estudado eles por duas semanas, aprendendo os métodos, mapeando as fraquezas. Qual é o objetivo final?"

"Honestamente? Não tenho certeza se existe um." Cole passou as mãos pelo cabelo, parecendo de repente muito jovem e muito cansado. "No começo, pensei que se eu pudesse apenas entender como o sistema deles funcionava, conseguiria encontrar uma maneira de derrotá-lo. Mas quanto mais eu aprendo, mais percebo como essa operação é sofisticada."

"Você mencionou apoio institucional antes."

"Certo. Isso não é um esquema de sequestro amador. O nível de coordenação, os recursos aos quais eles têm acesso, os perfis psicológicos detalhados—tudo aponta para algo muito maior do que alguns indivíduos desonestos com um hobby distorcido."

Cole pegou seu caderno e virou para uma página coberta com diagramas e setas conectando vários nomes e locais. "Tenho tentado mapear a estrutura organizacional, mas é como tentar resolver um quebra-cabeça onde metade das peças está faltando e a outra metade pode estar deliberadamente enganando."

Lana se inclinou para examinar o trabalho dele. O caderno estava cheio de observações meticulosas, análises comportamentais e conexões teóricas entre seus captores e várias entidades externas. Era o trabalho de alguém com habilidades analíticas excepcionais ou uma obsessão doentia por teorias da conspiração.

"Isso é incrivelmente detalhado," ela disse. "Como você conseguiu reunir tantas informações?"

"Paciência e observação cuidadosa. Quando você finge ser obediente, as pessoas tendem a baixar a guarda ao seu redor. Elas falam mais livremente, são menos cuidadosas em ocultar seus métodos."

"E eles nunca suspeitaram que você estava documentando tudo?"

A expressão de Cole ficou desconfortável. "Bem, aí é que as coisas ficam complicadas."

"Complicadas como?"

"Acho que eles sabem exatamente o que estou fazendo. Acho que estão permitindo que eu reúna informações porque isso serve a algum propósito que ainda não entendi."

A admissão pairou no ar entre eles como uma nuvem tóxica. Se Cole estivesse certo, se os captores estivessem cientes de suas atividades de coleta de inteligência e permitissem que continuassem, então tudo o que ele havia aprendido poderia ser uma informação cuidadosamente elaborada para enganar.

"Por que eles iriam querer que você aprendesse sobre os métodos deles?" Lana perguntou.

"Tenho algumas teorias. Talvez estejam testando para ver como eu processo e analiso informações sob estresse. Talvez queiram que eu pense que entendo o sistema deles para eventualmente provar como estou errado. Ou talvez..." Ele hesitou, como se tivesse medo de expressar sua suspeita mais sombria.

"Talvez o quê?"

"Talvez eles estejam me preparando para alguma coisa. Me treinando para pensar como eles, para analisar situações do jeito deles. Talvez a obediência não seja a única coisa que eles buscam em seus sujeitos."

As implicações eram aterrorizantes. Se os captores estavam procurando pessoas que pudessem pensar estrategicamente, que pudessem analisar situações complexas e elaborar respostas eficazes, então a inteligência e as habilidades analíticas de Cole poderiam torná-lo mais valioso para eles do que simples obediência.

"Precisamos sair daqui," disse Lana. "Todos nós. Antes que eles terminem o que estão tentando fazer conosco."

"Mais fácil falar do que fazer. Passei duas semanas procurando fraquezas na segurança deles, e encontrei pouquíssimas. Eles têm sensores de movimento por toda a floresta, drones fazendo patrulhas regulares e o que parece ser um pequeno exército de pessoal monitorando cada movimento nosso."

"Mas você disse que algumas pessoas tentaram escapar."

"Tentaram, sim. Conseguiram? Isso é menos claro." Cole virou para outra página em seu caderno. "Sarah chegou mais longe—quase cinco quilômetros antes de ser pega. Mas mesmo isso pode ter sido permitido. Eles podem ter deixado ela correr só para ver até onde ela iria, como ela tentaria se orientar, quais recursos ela usaria."

"Você acha que tudo foi planejado?"

"Acho que tudo é planejado. Cada encontro aparentemente aleatório, cada oportunidade aparente, cada momento de esperança ou desespero—tudo faz parte de uma sinfonia psicológica cuidadosamente orquestrada para remodelar nossas personalidades de acordo com as especificações deles."

Lana sentiu uma onda de desespero tomar conta dela. Se Cole estava certo, se cada aspecto de sua experiência estava sendo manipulado e controlado, então a resistência parecia inútil. Como poderiam lutar contra um inimigo que antecipava cada movimento deles?

"Tem que haver algo," ela disse. "Alguma falha no sistema deles, algum aspecto que eles não consideraram."

"Talvez. Mas encontrar isso exige pensar de maneiras que eles não esperam, abordar problemas de ângulos que eles não anteciparam." Cole olhou para ela intensamente. "É aí que você entra."

"Eu? Estou aqui há menos de vinte e quatro horas. Você é quem tem toda a inteligência e experiência."

"Exatamente. Você ainda não foi condicionada. Seus padrões de pensamento não foram influenciados por semanas de manipulação psicológica. Você pode ser capaz de ver coisas que eu fiquei cego para enxergar."

A ideia era tanto lisonjeira quanto aterrorizante. Cole estava essencialmente pedindo a ela para ser a mente tática deles, para encontrar soluções que ele não conseguia ver apesar de suas semanas de estudo cuidadoso.

"E se eu não conseguir?" ela perguntou. "E se eu não for inteligente ou criativa o suficiente para encontrar uma saída?"

"Então provavelmente estamos condenados de qualquer jeito." A honestidade brutal de Cole estava se tornando uma marca registrada. "Mas eu prefiro tentar com uma parceira do que enfrentar o que está por vir sozinho."

Havia algo na voz dele quando disse "parceira" que fez Lana olhar para ele mais atentamente. Na luz quente da lanterna, com suas defesas temporariamente abaixadas, ele parecia menos um analista calculista e mais como o adolescente assustado que realmente era.

"Cole," ela disse suavemente, "quando você se revelou para mim mais cedo, disse que estava arriscando tudo para ter aquela conversa. Mas também disse que eles estavam nos monitorando, que permitiriam isso enquanto servisse aos propósitos deles. Qual é a verdade?"

Ele ficou quieto por um longo momento, olhando para suas mãos. Quando finalmente olhou para cima, havia algo vulnerável em sua expressão que ela não tinha visto antes.

"Ambos, eu acho. Eles estão permitindo esta conversa porque querem ver como interagimos, como construímos confiança, como planejamos e conspiramos juntos. Mas eu ainda estou arriscando tudo porque..." Ele pausou, parecendo lutar com as palavras. "Porque estou começando a me importar mais em manter você segura do que em manter minha cobertura."

A confissão pairava entre eles, carregada de implicações que nenhum dos dois estava pronto para abordar diretamente. Lana sentiu suas bochechas corarem, parte de vergonha e parte de algo mais que ela não queria examinar muito de perto.

"Isso é perigoso," ela disse.

"É, eu sei. Apegos emocionais são exatamente o tipo de vulnerabilidade que eles exploram. Mas eu não consigo evitar." Cole conseguiu esboçar um sorriso triste. "Acontece que duas semanas de guerra psicológica não me tornaram menos humano."

"Talvez essa seja nossa vantagem," Lana disse de repente. "Talvez o fato de que ainda podemos sentir coisas, ainda nos importamos um com o outro—talvez essa seja a falha no sistema deles que não consideraram."

"Como você acha isso?"

"Pense nisso. Toda a abordagem deles é baseada em nos isolar, nos fazer sentir sozinhos e impotentes, nos forçar a escolher entre nossa sobrevivência e nossos princípios. Mas e se recusarmos a ser isolados? E se encontrarmos maneiras de nos apoiar que eles não esperam?"

Os olhos de Cole brilharam com algo que poderia ser esperança. "Você está falando sobre construir conexões genuínas apesar das tentativas deles de impedir."

"Exatamente. Eles podem controlar nosso ambiente, manipular nossas circunstâncias, mas não podem controlar como escolhemos tratar uns aos outros. Se conseguirmos encontrar maneiras de cooperar, de compartilhar recursos, de nos proteger—"

"Podemos resistir ao condicionamento deles mais eficazmente do que eles antecipam."

Pela primeira vez desde que acordou na floresta, Lana sentiu algo além de medo e desespero. Ainda não era exatamente esperança, mas era a possibilidade de esperança, o que já era mais do que ela tinha uma hora atrás.

"Qual é o nosso primeiro passo?" ela perguntou.

Cole reabriu seu caderno e virou para uma página em branco. "Começamos compartilhando tudo o que sabemos. Cada detalhe sobre nossas experiências, cada observação sobre os métodos deles, cada teoria sobre seus objetivos finais. Então procuramos padrões que eles não esperam que encontremos."

"E depois?"

"Depois começamos a construir uma rede. Encontrar outros estudantes que ainda sejam capazes de pensar de forma independente, ainda capazes de resistir ao condicionamento deles. Criamos nossa própria célula de resistência bem debaixo do nariz deles."

"Isso parece incrivelmente perigoso."

"Tudo é perigoso agora," Cole disse. "A questão é se queremos enfrentar esse perigo como vítimas ou como lutadores."

Lana pensou na mensagem entalhada que encontrara mais cedo, nos estudantes desaparecidos cujos pertences estavam espalhados pela floresta, no teste de lealdade que Cole disse estar por vir. Ela pensou em seus pais, seus amigos, sua vida em casa que parecia cada vez mais distante e irreal.

"Nós lutamos," ela disse.

Cole sorriu, e pela primeira vez parecia genuinamente caloroso em vez de calculado. "Parceiros?"

"Parceiros."

Eles apertaram as mãos solenemente, ambos cientes de que estavam fazendo um pacto que provavelmente determinaria se viveriam ou morreriam. Fora do abrigo escondido, a floresta estava silenciosa, exceto pelo som distante do vento através dos ramos dos pinheiros.

Nenhum dos dois mencionou a falha óbvia em seu plano: para construir uma rede de resistência, teriam que confiar em outras pessoas. E na situação atual, confiança era o luxo mais perigoso de todos.

Mas por enquanto, tendo encontrado um ao outro, tendo descoberto que não estavam completamente sozinhos nesse pesadelo, era suficiente planejar e ter esperança e fingir que dois adolescentes assustados poderiam de alguma forma encontrar uma maneira de enganar seus captores.

A lanterna tremulou enquanto sua bateria começava a enfraquecer, lançando sombras dançantes nas paredes do abrigo. Amanhã traria novos desafios, novos testes, novas oportunidades para seus inimigos explorarem suas fraquezas.

Mas esta noite, eles tinham um ao outro.

E às vezes, nas circunstâncias mais sombrias, isso era suficiente para manter o desespero afastado.

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