10

Lauren rapidamente se afastou de Aaron e se levantou, olhando para ele com olhos incrédulos. Droga. Era ele naquele sonho. Eram as mãos de Aaron que a tinham tocado... acariciado, sentido o quanto ela estava molhada e a feito gozar.

"Oh, meu Deus..." ela sussurrou. Aaron olhou para seus grandes olhos cinzentos antes de se virar. Ele não suportava olhar para o desgosto com que ela o encarava.

Ele cerrou a mandíbula. O que ele estava pensando, colocando as mãos nela? Tentando confortá-la, como se ela precisasse de conforto do mesmo homem que lhe causou dor.

"Desculpa," ele murmurou, colocando as mãos nos bolsos. "Eu não deveria ter te tocado."

Mesmo que eu quisesse... e ainda quero, ele pensou.

Lauren se virou, seu rosto esquentando. Ela estava extremamente grata que ele não fazia ideia do que estava passando em sua cabeça naquele momento. Ela não podia acreditar que tinha sonhado com ele daquela maneira. Que nojo! Os pensamentos que ela tinha sobre ele já eram ruins o suficiente, mas agora ele estava em seus sonhos?! Ele era o homem que tinha matado o vovô e a mamãe!

Ela enxugou as lágrimas, furiosa com a presença delas em suas bochechas. Droga. Ela tinha dito a si mesma que não iria chorar. Que tipo de traição a si mesma era essa?!

"Está... está tudo bem," Lauren murmurou. Aaron olhou de volta para ela. Deus, seus olhos. Lauren agora lembrava claramente do sonho. Definitivamente tinha sido Aaron Spencer.

"Você está bem?" ele perguntou.

Ela assentiu lentamente. Uma expressão de profunda preocupação estava gravada no rosto dele. A luz do sol entrando pelo vidro atrás dele transformava seus olhos em ouro cristalino e iluminava o topo de seu cabelo loiro espesso, criando um halo brilhante. Ela sentia como se estivesse olhando para um anjo.

Mas anjos não tinham sangue nas mãos, tinham?

"Você vai me contar alguma coisa?" ela perguntou baixinho. "Eu não estou te atacando, Aaron Spencer. Eu não estou te acusando." Apesar de tudo, ela sabia que ele era um bastardo de coração frio. Ela só queria ouvi-lo admitir. "Estou pedindo que você me diga a verdade."

Aaron se endireitou e a olhou em silêncio.

"Eu..."

Lauren engoliu em seco e esperou.

"Eu não posso..." Aaron disse e fechou os olhos. Lauren franziu a testa. Por que ele parecia estar com tanta dor? Por que era tão difícil para ele admitir algo que todos já sabiam de qualquer maneira?

"Por que não?" ela perguntou, exasperada.

"Porque você não vai entender!" Aaron disse. "Aconteceu há muito tempo."

Lauren balançou a cabeça. "Só me diga se você fez isso ou não. Só me diga a verdade..."

Aaron cerrou a mandíbula e virou as costas para ela, olhando pela janela da cozinha para onde a cadeira de balanço de sua mãe estava.

"Não, não vire as costas para mim."

Lauren não sabia o que a possuía para lhe dar tanta coragem, mas ela deu um passo à frente e envolveu a mão em torno do braço de Aaron. Ela sentiu ele se enrijecer sob sua mão, mas não se afastou.

"Olhe para mim, por favor."

Relutantemente, ele se virou da janela para olhar para ela. Ela era tão bonita. Seus grandes olhos cinzentos o olhavam suplicantes e sua boca rosada e suave estava curvada em uma expressão triste. Tudo o que ele queria fazer era envolvê-la em seus braços e beijar sua boquinha até que ela implorasse por ele, mas ele resistiu. Ela merecia algo melhor do que um homem preso por escuridão e segredos. Ela merecia algo melhor do que ele.

"Eu preciso saber. Me mata por dentro não saber! Eu não vou contar a ninguém se você estiver preocupado em ir para a cadeia-"

"Eu não tenho medo da prisão!" ele a interrompeu bruscamente.

Lauren recuou, surpresa com o tom dele.

"Então..."

"Eu não tenho medo por mim!" ele disse, puxando o braço da mão dela.

Lauren ficou surpresa com suas palavras.

"O que você quer dizer?" Lauren perguntou. "Você está protegendo alguém? Quem você está protegendo?"

Aaron a encarou, congelado da cabeça aos pés antes de subitamente se afastar para o outro lado da sala. "Eu não estou protegendo ninguém."

"Aaron-"

Ele se virou para ela, os olhos em chamas. "Eu! Fui eu, tá bom! Eu matei eles."

Silêncio.

Reinou ao redor deles e Lauren não encontrou coragem para quebrá-lo.

A respiração pesada de Aaron era o único som que ela ouvia enquanto ele passava os dedos pelo cabelo em frustração.

"Claro que fui eu! Você realmente acha que eu colocaria minha bunda na reta por algo que eu não fiz?" Lauren só conseguia olhar para ele. "Por que você voltou?" ele perguntou com a voz tensa.

Lauren soltou uma risada sarcástica enquanto lágrimas deslizavam por suas bochechas.

"Pela casa..." ela sussurrou, olhando para ele. Aaron Spencer acabara de admitir que matou sua mãe e seu avô. "Huston disse..." ela parou quando sua garganta se fechou.

Aaron se virou para ela com os olhos semicerrados. "Huston? Montgomery Huston?" ele perguntou.

Lauren engoliu em seco e assentiu. Ele a olhou por um tempo, olhou para suas bochechas e as lágrimas secando nelas.

"Droga. Desculpa, Lauren... Desculpa."

Ela riu. "Você está?" Lauren levantou a mão antes que ele pudesse responder. "Só me diga por quê. Por que você fez isso?"

Aaron colocou as mãos na cabeça e passou os dedos pelo cabelo. "Eu não posso..." ele disse miseravelmente. "Lauren, por favor, não me faça... Eu não posso."

Lauren sentiu sua raiva aumentar, mas lutou para controlá-la.

"Não te fazer...? Não te fazer?! Eu sou a que teve que viver toda a minha vida sem a mamãe! Você sabe como é isso?! Você me dá nojo!" Sua voz tremia de raiva enquanto ela o encarava.

Aaron puxou uma cadeira e se jogou nela, seu rosto bonito perturbado.

"Aaron?" veio uma voz de outro cômodo.

Ambos olharam para a porta.

"Aaron, querido?" chamou a voz delicada novamente. "Onde você está?"

Aaron rapidamente se levantou e se virou para sair. De repente, ele parou e se virou para ela.

"Eu preciso cuidar da minha mãe," ele murmurou e saiu da sala.

Lauren olhou para a porta vazia com ressentimento crescendo dentro dela. Ele podia ter sua mãe e cuidar dela, mas Lauren não podia nem mesmo sentar ao lado do túmulo de sua mãe.

E ele achava que estava tudo bem? De jeito nenhum. Ela puxou uma cadeira e se sentou. Ela esperaria por ele até que ele estivesse pronto para abrir a boca bem fechada e falar. Seu celular estava totalmente carregado, ela poderia chamar ajuda se ele tentasse algo. E Grayson sabia onde ela estava. Lauren assentiu para si mesma, mais determinada do que nunca.

Ela bufou e tirou o elástico de cabelo antes de amarrar um rabo de cavalo mais apertado. Seu cabelo, grosso e sedoso como sempre, claro, ainda conseguia escapar dos rabos de cavalo mais apertados.

Lauren estava estudando suas unhas com uma expressão concentrada no rosto quando Aaron voltou para a cozinha. Ele parou ao vê-la sentada à mesa.

Depois de uma breve pausa na porta, ele passou por ela e encheu um copo com água na pia antes de desaparecer na casa novamente.

Lauren bufou e permaneceu sentada. Ela estava com raiva, mas se recusava a deixar isso bloquear seu cérebro. Toda a sua vida, ela acreditou que Aaron Spencer era o homem que matou seu avô e sua mãe. Tia Abigail tinha certeza de que ela acreditasse nisso.

E agora, ela estava ali, duvidando das histórias. Agora que ela o conheceu e viu o tremor incerto em sua boca sempre que ela fazia uma pergunta e sua hesitação em responder, ela não podia deixar de sentir que havia mais na história. Claro, ele matou sua família, essa parte era certamente verdade, como ele acabara de admitir... mas por quê? Lauren sabia que havia segredos. Ela precisava saber por quê.

Montgomery Huston tinha dito a ela que ela aprenderia muito que mudaria tudo ali em Woodfair. O que ele quis dizer com isso?

E como Aaron o conhecia?

Ela suspirou. Nada fazia mais sentido.

Aaron voltou para a cozinha e olhou para ela com uma expressão indecifrável.

"Você ainda está aqui?" ele perguntou, olhando para suas mãos enquanto as esfregava.

Lauren se recostou na cadeira. "Como está sua mãe?"

Ele enfiou as mãos nos bolsos. "Ela está bem."

Lauren assentiu, levantando-se. "É bom tê-la por perto, não é?"

Aaron fez uma careta. "Acho que você deveria ir agora. Por favor."

Lauren cruzou os braços teimosamente, ignorando a dor que subia em seu peito.

"Aaron?"

Lauren se virou para a porta. Lá estava uma mulher. Magra e delicada, mas com uma aparência bastante forte. Ela tinha cabelo cor de palha e belos olhos azuis, olhos que estavam focados curiosamente em Lauren.

Lauren se endireitou. A mulher da fotografia.

Sua mãe. Lauren se sentiu uma idiota. Ela pensou que a mulher fosse uma namorada.

A mulher sorriu, levantou uma mão graciosamente envelhecida e acenou para Lauren.

"Olá. Quem é você?"

Lauren olhou para Aaron e engoliu em seco. "Uhm..." ela disse.

Aaron se colocou entre ela e sua mãe, interrompendo sua fala.

"Vamos, mãe. Vou te levar de volta para a cama," ele disse, colocando uma mão no braço dela.

Ela afastou a mão dele. "Ah, pare com isso, Aaron, me tratando como uma inválida."

Com um estalo de desaprovação, ela contornou o filho para se aproximar de Lauren.

"Você é namorada dele, querida? Aaron nunca traz ninguém para casa," ela disse com um sorriso.

Lauren engasgou. "Oh, n-não. Eu sou Lauren. Amiga do Aaron." Lauren cuspiu a palavra "amiga" como se fosse amarga e envolta em arame farpado enferrujado.

A mãe de Aaron sorriu para o filho por cima do ombro antes de se virar novamente para Lauren, com os olhos marejados. "Eu sou Selena Spencer... mãe do Aaron. Você pode me chamar de Selena."

Lauren não disse nada, apenas assentiu para Selena. A mulher mais velha levantou uma mão e acariciou sua bochecha afetuosamente. "Você é muito bonita, querida," ela disse baixinho.

Lauren engoliu em seco e assentiu. "O-obrigada," ela sussurrou.

Selena inclinou a cabeça, estudando as lágrimas nos olhos de Lauren. "O que há de errado, querida? Por que você tem lágrimas nos olhos?" Ela levantou a outra mão e Aaron a segurou.

"Vamos, mãe. Vamos. Você precisa descansar."

Ele olhou para Lauren, viu seus olhos transbordarem. Sem hesitar, ele começou a guiar sua mãe para longe, mas ela lutou com ele, irritada, e se virou novamente para Lauren.

"Mas... querida... eu te conheço de algum lugar?" ela perguntou, lutando para agarrar o pensamento que desaparecia em sua mente nebulosa. Ela não conseguia se lembrar. Ah, ela estava tão esquecida esses dias. Tudo o que ela sentia em seu íntimo era que conhecia essa garota com a boca triste e os olhos lacrimejantes. "Eu já te vi?"

"Mãe, por favor," Aaron a virou para encará-lo com duas mãos gentis em seus ombros. Ele não podia deixar Lauren falar com sua mãe por muito tempo. Ele não podia arriscar.

"Ah, tudo bem, tudo bem," Selena disse, olhando para ele. "Por que você não está no trabalho, afinal? Está ficando tarde."

"Eu vou sair logo. Vamos te colocar na sala de estar para você assistir TV, tudo bem?"

Selena assentiu incerta. "M-mas está escuro lá," ela reclamou.

Lauren sentiu seu coração doer dolorosamente ao ver a senhora mais velha desconcertada. Ela desejava poder segurar a mão de sua mãe assim... e discutir sobre pequenas coisas.

"Eu vou abrir as cortinas," Aaron prometeu enquanto a levava. "Não se preocupe, mamãe, ninguém vai te incomodar da janela hoje."

Selena assentiu com um tremor no lábio. Aqueles garotos malvados sempre a assustavam, se esgueirando até as janelas e a assustando com cantos estranhos. Ela nunca entendia o que eles queriam dela.

Felizmente, seu filho estava sempre lá para afastá-los.

Sorrindo, ela olhou para ele e acariciou sua bochecha adoravelmente enquanto ele a acomodava em sua cadeira favorita. Ele ligou a TV para ela e na tela passava um bom drama.

Logo ele abriu as cortinas e a luz inundou o cômodo. Selena bateu palmas feliz.

"Luz," ela sussurrou com um brilho nos olhos azuis.

"Você precisa de alguma coisa, mamãe?" Aaron perguntou, ajoelhando-se ao lado dela. Ela sorriu para ele e balançou a cabeça, lentamente voltando sua atenção para a TV.

Ele engoliu em seco e se levantou, seu coração se partindo como sempre acontecia quando ela começava a se afastar dele, como estava fazendo agora. Às vezes ela estava melhor e lembrava de várias coisas, mas outras vezes, parecia mais confusa do que antes.

Com um suspiro, ele voltou para a cozinha.

Ele encontrou Lauren encostada na pia.

"Sua mãe é absolutamente linda," ela disse.

Aaron assentiu. "Obrigado. Ela é." E sua mãe também era, ele queria dizer e agradeceu a Deus pelo controle que tinha sobre sua língua.

O silêncio se prolongou e Lauren se afastou da pia. Ele não ia lhe contar mais nada hoje, mas ela voltaria. Ela descobriria o que aconteceu, gostasse ele ou não.

"Vou me retirar agora," ela disse.

Aaron olhou para cima e encontrou seu olhar, suspirando em alívio discreto.

Silenciosamente, ele se virou e começou a guiá-la de volta para a porta da frente. Lauren o seguiu em silêncio.

Eles chegaram à sala de estar e Selena olhou para cima enquanto passavam.

"Oh," ela disse. Lauren parou e a olhou. "Aaron... quem é essa mesmo?" Selena perguntou, olhando para Lauren.

Lauren olhou para Aaron, confusa, até se lembrar do que Grayson havia dito.

Certo. Selena Spencer sofria de amnésia... mas era tão grave assim?

Aaron olhou para sua mãe com olhos ternos, mas não disse nada, movendo-se lentamente em direção à porta. Lauren não se moveu.

Ela sorriu tristemente para Selena. "Eu-eu sou Lauren... amiga do Aaron," ela repetiu, engasgando com a palavra "amiga" novamente. Ela nunca poderia se imaginar como amiga de Aaron Spencer.

"Lauren, venha." ela ouviu Aaron dizer, mas não obedeceu.

Essa adorável senhora sentada na cadeira capturou toda a sua atenção. Lauren não conseguia imaginar a dor que sentiria se sua mãe estivesse nesse estado. Selena inclinou a cabeça adoravelmente.

"Amiga do Aaron? Mas Aaron só tem um amigo. Grayson!" seus olhos se iluminaram com a lembrança. "Grayson é um bom menino."

Lauren assentiu. "Sim, ele é. Ele é meu amigo também."

Selena não estava ouvindo, ela estava prestando atenção ao programa de TV e batendo palmas de excitação.

"Oh, veja." Ela riu. "Aquela mulher foi infiel ao marido e foi pega! Muito travessa," ela sussurrou para Lauren conspiratoriamente.

Lauren mordeu o lábio, piscando para conter as lágrimas.

"Segredos são muito, muito ruins, querida," Selena avisou Lauren. "Fique longe deles! Só trazem problemas, eles trazem. Eu digo ao meu Aaron todos os dias para se livrar deles."

Lauren franziu a testa. Os olhos de Selena ficaram tristes e ela de repente começou a balançar a cabeça.

"Não é verdade, sabe!" ela gritou.

"Mãe," Aaron disse, apressando-se para acalmar sua mãe.

"Não é verdade! Meu Aaron é um herói, ele é! Salvou aquela pobre garota das garras de um monstro! Suas mãos não têm sangue, elas devem ser beijadas por um anjo, são tão puras!"

Lauren observou, atônita com o humor rapidamente sombrio de Selena. O que ela queria dizer? Que garota e que monstro?

"Mamãe, fique calma, por favor," Aaron disse, levantando-a da cadeira para segurá-la.

Selena fungou, afastando suas lágrimas de angústia, e abraçou seu filho. "Estou cansada, Aaron. Quero descansar."

Aaron evitou o olhar de Lauren e levou sua mãe para fora da sala.

Ela os observou sair, sua mente a mil.

Aparentemente, a mãe de Aaron nem sempre estava em seu juízo perfeito, mas... Não.

Lauren tinha que parar qualquer pensamento que pudesse surgir.

Selena Spencer não estava bem. O que ela disse não podia significar nada.

E quanto a Aaron Spencer, suas mãos definitivamente não podiam ser tão puras quanto sua mãe pensava.